Ves aqui a grande machina do mundo,
Eterea, & elemental, que fabricada
Aſsi foy do ſaber alto, & profundo,
Que he ſem principio, & meta limitada,
Quem cerca em derredor eſte rotundo
Globo, & ſua ſuperficia tão limada,
He Deos, mas o q̃ he Deos ninguẽ o entende,
Que a tanto o engenho humano não ſe eſtẽde.

Eſte orbe que primeiro vay cercando
Os outros mais pequenos, que em ſi tem,
Que eſtâ com luz tão clara radiando,
Que a vista cega, & a mente vil tambem,
Empireo ſe nomea, onde logrando
Puras ahnas estão de aquelle bem,
Tamanho, que elle ſo ſe entende & alcança,
De quem não ha no mundo ſemelhança.

Aqui ſo verdadeiros glorioſos
Diuos eſtão, porque eu, Saturno & Iano,
Iupiter, Iuno, fomos fabuloſos
Fingidos de mortal & cego engano:
So pera fazer verſos dedeitoſos
Seruimos, & ſe mais o trato humano
Nos pode dar, he ſo que o nome noſſo
Neſtas eſtrellas pos o engenho voſſo.