Suspiros poéticos e saudades (1865)/As Senhoras Brasileiras

Nas veias o sangue já não me galopa,
Nem sacros furores nos lábios me fervem;
A lira canora do cisne Beócio
Deixei sobre a trípode.

Os risos fagueiros do Gênio da Pátria
Agora me inspiram idéias suaves.
Os vossos encantos, oh belas patrícias,
Eu canto dulcíssono.


Império das graças, oh sexo mimoso,
Vós sois o princípio da nossa existência;
Dos nossos prazeres orige' inefável;
Sem vós que seríamos?

A lua que brilha num céu azulado,
E os raios argênteos no rio reflete,
É quadro bem lindo! porém vossas faces
Têm graças mais nítidas.

Os dias que alegres convosco passamos,
São horas bem curtas, são breves instantes;
E os breves instantes da ausência saudosa
São noites bem tétricas.

O canto das aves, que soa nos bosques,
É grato aos ouvidos do homem selvagem;
Porém vossas vozes têm mais melodia
Que as vozes dos pássaros.

A rosa tem cheiro que o ar embalsama,
A rosa tem cores que esmaltam os prados;
Porém para imagem da vossa beleza
A rosa é inválida.


As águas têm perlas, o céu tem estrelas,
Os campos têm flores, a terra tem ouro;
Mas vós venceis tudo; vós sois da Natura
A obra protótipa.

Por vós afinaram mil vates as liras;
Por vós mil guerreiros à glória voaram;
E até nações cultas por vós sacudiram
Seu jugo tirânico.

Oh Anjos da terra, da Pátria ornamento,
Donzelas, esposas, e mães carinhosas,
Na luta, que temos co'o vil despotismo,
Mostrai-vos magnânimas.

Os vossos encantos de prêmio só sirvam
A quem ama a Pátria, ao sábio, e ao justo.
Deixai que ociosos, e os nossos imigos
No lodo revolvam-se.

1831