40 anos no interior do Brasil/Os cumprimentos no Brasil

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Os cumprimentos no Brasil


Todos sabem como cumprimentamos aqui na Alemanha Tiramos o chapéu respeitosamente, conforme a dignidade da pessoa a que nos dirigimos. Sim, podemos considerar diretamente o braço que cumprimenta como o indicador, um manômetro que sobe ou desce de acordo com o apreço que se tem.

Se nos encontramos com a dona de nosso coração, então o braço abaixa e cumprimenta vigorosamente e precisamos segurar firme o chapéu, de modo que ele não escorregue da mão em um impetuoso abano; se vemos uma velha tia e temos direito a alguma herança quando ela for desta para o melhor, então o ponteiro do manômetro do cumprimento cai lá no fundo, mas falta o audível e alegre abano, que proporciona a solenidade do referido ato de saudação. Se nos deparamos com o diretor de uma escola secundária, então estendemos o braço não tão profundamente, mas mais à frente, permanece-se assim como congelado em reverência por um segundo e então voltamos a cabeça. Em um encontro com o papai, balança-se o braço lentamente para os lados, para curvar de volta com um ligeiro contragolpe para a posição inicial. Diante de um amigo, ele fica de lado com um ligeiro toque para trás, como se ele quisesse dar um abraço. Se vemos nossa senhoria, e não lhe devemos o aluguel, então damos um leve toque no chapéu, como se quiséssemos abrir e fechar a tampa de um caneco de cerveja. Mas se encontramos o agiota e não temos nenhuma promissória com ele, então apenas seguramos a aba do chapéu ou pegamos um ventinho na cabeça. Mas sempre, e isto é típico europeu, levantamos o chapéu da cabeça.

Muito diferente acontece com os cumprimentos no Brasil. Pode-se pensar que, para o calor que faz, o chapéu é uma irritante peça do vestuário deixada de lado. Longe disso! Contrário ao que se espera, o chapéu sempre é levado sobre a cabeça, semelhante a nossos conterrâneos. Se alguém viesse caminhando com o chapéu na mão, seria tido no mínimo como um pouco maluco. Se um homem tira seu chapéu da cabeça com o conhecido ímpeto europeu, é infalível: “Este deve ter imigrado a menos de uma semana!”

Cumprimenta-se no Brasil, ao mesmo tempo em que apenas se toca com o indicador o chapéu, o que resulta em um movimento semelhante à saudação militar, ou segurando um pouco a aba do chapéu com o polegar e o indicador, dependendo do grau de respeito. As mulheres devem ser cumprimentadas levantando o chapéu verticalmente e não muito alto. Mas, pode-se indagar, como conciliamos este tipo de cumprimento com a tão propalada gentileza dos brasileiros? Calma! Há ainda muitas outras formas, que completam a saudação com o chapéu. O forte aperto de mão tem muita importância. Assim que se encontra um conhecido e este estiver em um momento de tranquilidade — e os brasileiros têm muitos momentos assim! —, então, segura-se a aba do chapéu com a mão esquerda, inclina-se a cabeça um pouco para a direita e se sorri com simpatia e se estende as mãos para um forte, quase gigantesco aperto de mãos. Sabe-se que os norte-americanos dão grande importância nesse ponto; contudo, meu chefe estadunidense afirma que nisso os brasileiros são mais exagerados.

Se duas pessoas não se veem há realmente muito tempo ou despedem-se antes de uma ausência prolongada, só apertar as mãos longamente não é suficiente. Então também se abraçam. E isto não basta! Com a mão, que fica sobre as costas do outro, bate-se nas costas como se o infeliz estivesse meio engasgado com um osso e se deve ajudá-lo a retirá-lo. Mulheres se abraçam e se beijam em ambas as bochechas, o que, diante da graça natural das brasileiras, é muito agradável de se ver. Se na estação de trem ou navio é dado o sinal de embarque, vê-se cenas muito engraçadas. De repente, vemos as pessoas se abraçando e batendo tapinhas nas costas. Como o brasileiro faz muita questão que todos os conhecidos e subalternos estejam presentes em um bota-fora, o viajante migra de um braço a outro e conscienciosamente dá os tradicionais abraços.

Quando eu era diretor da Ferrovia Teresa Christina, presenciei um episódio bem sucedido de saudação. A estradinha de ferro se distanciava apenas cento e vinte quilômetros da costa em direção ao interior e tinha dez estações e dezenove paradas! Se a pitoresca locomotiva chegava a entrar em movimento, precisava então interromper seu caminho triunfal em uma singela estação. Contudo, essas paradas não eram equipadas com plataforma ou telhado, mas surgiam apenas como uma simples e quase invisível placa, que trazia o nome da parada. Chegamos na estação de Água Clara... “Tu, tuuu! Fez a convencida máquina e parou. Um fazendeiro com barba branca e ondulada parou com uma boa porção de seus conhecidos ao lado do referido poste. E então começou o cerimonial de despedida! Ele estendeu sua mão ao próximo e.... se abraçaram!... Ambos se deram tapinhas nas costas. Então, passou ao segundo com mais intensidade. A mesma manobra! E ameaçou ir em frente. Fiquei bastante assustado quando vi a longa fila de pessoas a se despedir. Finalmente pulei de meu vagão de serviço, levantei o chapéu e perguntei: “Pois todos esses senhores vieram para dizer adeus da mesma forma?”

“Mas naturalmente!!!”

“Se isso é tão natural para vocês, para mim não é!” Disse e me dirigi ao maquinista ordenando: “Parta agora!”

Então o velho olhou para mim muito irritado, todos seguiram seu exemplo e, finalmente, ele deu lugar ao desagrado com as palavras: “Oh, que allemão desgraçado, que sequer permite que eu me despeça de meus amigos!”

Após essa raiva impotente, ele subiu no trem rapidamente, o que foi possível com uma boa ajuda dos conhecidos, o cavalinho de ferro movimentou-se em câmera lenta e ele embarcou com segurança. Mas ele nunca me perdoou pela grande violação das boas maneiras nas despedidas dos amigos.

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