Eu (Augusto dos Anjos, 1912)/A Arvore da Serra

A Arvore da Serra


— As arvores, meu filho, não têm alma!
E esta arvore me serve de empecilho.
É preciso cortal-a, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

— Meu pai, porque sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôz almas nos cedros... no junquilho.
Esta arvore, meu pai, possue minh’alma!

— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
«Não mate a arvore, pai, para que eu viva!»
E quando a arvore, olhando a patria serra,

Cahiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!