Que profunda é a solidão desta casa depois que tu não a habitas comigo!

Parece-me um túmulo.

Na sepultura em que descansas na Igreja de São Pedro Gonçalves, não sentes nem o peso da terra, nem o prurido dos vermes. Tua alma branca e pura, goza no seio do Criador. Na minha sepultura, eu me sinto asfixiar pelo silêncio, que me é mortalha. Quando alguma vez o burburinho do mundo penetra aqui, é para despertar a modorra da agonia.

A noite desce, como a lousa fria e negra. Ah! se com ela me trouxesse o repouso!... Mas é só morte ao coração, à fé, à crença. A dor vive em meu cadáver.

Quando tu aqui estavas, vinham ainda ver-te algumas velhas amigas da infância. Tão santa cousa é a afeição!... Vencia o receio e a repugnância que eu lhes inspirava.

Agora, ninguém virá. Luíza não pode, nem deve. É minha irmã; mas é mãe. Não o fora, que eu lhe pediria para não vir. Sofreria mais da compaixão dela, que não sofro do meu suplício.

Amigos, nunca os tive. Parentes já não os tenho. Depois que morri, não me conhecem... Sim! conhecem-me, quando me fogem.

Maria, a nossa escrava, é o único ser humano, com quem falo. Ao menos tem a forma... Deve existir uma alma ali dentro.