Inigo acordou alta noite: tinha dormido algumas horas: ao menos, ele assim o cria. Olhou para o céu, viu estrelas: apalpou ao redor, achou terra: escutou, ouviu ramalhar as árvores.
Pouco a pouco é que se foi recordando do que passara com sua mal-aventurada mãe; porque, a princípio, não se lembrava de nada.
Pareceu-lhe então ouvir respirar ali perto: afirmou a vista: era o onagro Pardalo.
"Já agora meio enfeitiçado estou eu pensou ele: — corramos o resto da aventura, a ver se posso salvar meu pai."
E pondo-se em pé, encaminhou-se para o valente animal, que já estava enfreado e selado: cujos eram os arreios, isso sabia-o o diabo.
Hesitou, todavia, um momento: tinha seus escrúpulos — a boas horas vinham eles — de cavalgar naquele corredor infernal.
Então ouviu nos ares uma voz vibrada, que cantava muito entoado. Era a voz da terrível Dama Pé-de-Cabra:
Cavalga, meu cavaleiro,
No alentado corredor;
Vai salvar o bom senhor;
Vai quebrar seu cativeiro.
Pardalo, não comerás
Nem cevada nem aveia,
Não terás jantar nem ceia,
Rijo e leve voltarás.
Nem açoite, nem espora
Requer ele, oh cavaleiro!
Corre, corre bem ligeiro,
Noite e dia, a toda a hora.
Freio ou sela não lhe tires,
Não lhe fales, não o ferres,
Na carreira não te aterres,
Para trás nunca te vires.
Upa! firme! — avante, avante!
Breve, breve, a bom correr!
Um minuto não perder,
Bem que o galo ainda não cante.
"Vá!" — gritou Inigo Guerra, com uma espécie de frenesi que nele produzira aquele cantar estranho; e de um pulo cavalgou no quedo onagro.
Mas apenas se firmou na sela, pst! — ei-lo que parte!