Que mal pode vir do bem?
Devo abster-me da visão do bem depois de haver experimentado uma vez as sensações mais deliciosas, a suavíssima consolação que ela assegura ?
O armênio me aconselhou que me abstivesse da visão do bem, declarando-a tão perigosa como a visão do mal; eu porém involuntariamente já infringi esse preceito do mágico...
Se há perigo na visão do bem, já pois inadvertidamente me expus a ele...
A falta, a desobediência estão cometidas...
Ainda mais: o armênio afirmou que hoje mesmo eu desobedeceria aos seus conselhos, e assim aconteceu sem que da minha parte houvesse intenção premeditada.
Portanto o que aconteceu tinha de acontecer.
Não seria estulta vaidade pretender levantar-me contra a fatalidade, resistir à lei da magia?
E a visão do bem me foi tão agradável!
Se eu não pude vencer o encantamento da visão do mal, que me fazia sofrer tanto, como poderei triunfar do encanto da visão do bem, que é tão deleitosa?...
Eu não sei se estou sofismando para me enganar a mim próprio, imaginando, inventando escusas e desculpas com o fim de serenar a minha consciência, que escrupulosa me repete os conselhos do armênio; sei porém e confesso que a curiosidade, um desejo irresistível me impelem com a mais viva força para o gozo da visão do bem, que já me encheu a alma de felicidade e de contentamento.
Eu sinto que há verdade e enlevo, beatificação da vida, amor da terra e dos homens, sorrir do coração, luz do céu iluminando a terra na visão do bem.
Quaisquer que sejam os perigos a que me arrisque pela visão do bem, de boa vontade os arrostarei.
E impossível que eu me torne desgraçado por ver o bem.
Perdão, armênio! doravante vou desobedecer-te intencionalmente.
Visão do bem! eu te quero, eu te adoro, eu te bendigo, e te aceito para guiar-me no caminho da vida.