Era uma vez um rei, que quiz levantar uma egreja magnifica em honra da Virgem, decretando que ninguem nos seus estados podesse contribuir para a obra, ainda mesmo com a mais pequena quantia. Quando o edificio se concluiu, enorme, soberbo, grandioso, mandou o rei gravar n'uma pedra do marmore uma inscripção em letras d'ouro, que dizia que só elle, e mais ninguem, tinha levado a cabo aquella obra monumental. Mas na noite seguinte o nome do rei foi apagado da inscripção, e substituido por o d'uma pobre mulhersinha do povo. O rei no dia seguinte tornou a mandar pôr o seu nome na inscripção, e de novo foi substituido pelo da pobre mulher; á terceira vez succedeu o mesmo. O rei, cheio de colera, ordenou então que lhe trouxessem a mulher á sua presença:

— Prohibi a todos os meus vassallos, disse-lhe elle, que contribuissem fosse com o que fosse para a edificação d'esta egreja; vejo que não cumpriste as minhas ordens.»

— «Senhor, respondeu a velhinha toda tremula, eu respeitei as vossas ordens, apesar da magua que sentia por não poder offerecer o meu pequenino obolo em honra da Virgem; mas julguei não desobedecer a vossa magestade, deixando por vezes de jantar para comprar um pouco de feno, que eu levava ás escondidas aos bois que conduziam as pedras destinadas à construcção da egreja.»

— «O teu nome é mais digno do que o meu de figurar em letras d'ouro na inscripção do monumento, disse-lha o rei.»

Mas na noite seguinte uma mão invisivel restabeleceu na lapide da egreja o nome do rei, que desde então lá se conserva ainda.