Primaveras romanticas (1872)/Poesias diversas/A uma mulher

VIII
A UMA MULHER

Para tristezas, para dôr nasceste.
Podia a sorte pôr-te o berço estreito
N’algum palacio, e ao pé de regio leito,
Em vez d’este areal onde cresceste:

Podia abrir-te as flôres — com que veste
As ricas e as felizes — n’esse peito;
Fazer-te... o que a Fortuna ha sempre feito...
Terias sempre a sorte que tiveste!

Tinhas de ser assim... Teus olhos fitos,
Que não são d’este mundo e onde eu leio
Uns mysterios tão tristes e infinitos,

Tua voz rara, e esse ar vago e esquecido,
Tudo me diz a mim, e assim o creio,
Que para isto só tinhas nascido!

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