Uma loba emprenhou um dia de Tartufo,
E Antonelli nasceu d'este consorcio bufo.

O seu labio despresa; o seu olhar dardeja.
Cassagnac de Deus, guarda-costas da Egreja,

Redige as pastoraes brutaes de que se nutre
Co'um tinteiro de treva e uma penna de abutre.

Bossuet-Ferrabraz e Falstaf-Isaias.
Bebe petroleo negro e gim nas sacristias.

Não ha pomba mais tigre ou Santo mais demonio:
Fera,--como Caim! rato,--como Polonio!

N'aquelle olhar nocturno, inquizidor, que assusta,
Ha Nero a murmurar nas sombras com Locusta.

O cabeção que traz na batina de lilla
Erriçam-no punhaes: era d'um cão de fila.

O tigre deu-lhe o amor e o bode a castidade,
Para um dia expulsar do mundo a Liberdade

Fez um latego atroz, que corta e que esfarrapa,
Atando uma serpente ao baculo de um papa.

Quando observo esse monstro, essa alimária brava,
Hercules que talhou d'um hyssope uma clava,

Ao vêr-lhe os rins de bronze, e ao vêr-lhe a erecta fronte,
Creio estar contemplando ao longe, no horisonte,

Entre o rubro esplendor d'uma manhã sonora,
Um bufalo de treva ás cornadas na aurora!