Eu (Augusto dos Anjos, 1920)/Outras poesias/Aberração

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ABERRAÇÃO

Na velhice automatica e na infancia,
( Hoje, hontem, amanhã e em qualquer éra )
Minha hybridez é a summula sincera
Das defectividades da Substancia.

Creando na alma a esthesia abstrusa da ancia,
Como Bellerophonte com a Chimera
Mato o ideal; cresto o sonho; achato a esphera
E acho odor de cadaver na fragrancia!

Chamo-me Aberração. Minha alma é um misto
De anomalias lugubres. Existo
Como o cancro, a exigir que os sãos enférmem...

Teço a infamia; urdo o crime; engendro o lodo
E nas mudanças do Universo todo
Deixo inscripta a memoria do meu germen!