Suspiros poéticos e saudades (1865)/Ao General Lafayette

[1]

Nascido em virgem plaga Americana,
Onde da independência o livre sopro
Os homens vivifica;
Onde de azul cetim num céu sem nódoa
Lúcido gira o disco coruscante,
Que ao vate o gênio inflama;
Sem que do medo a destra me agrilhoe,

Porém venerabundo, a mente exalço
Ao herói de dous Mundos.
Tu, da glória no céu, não dado a muitos,
Rutilas fulgurante a par de Washington,
Co'a luz que a liberdade
De seu divino rosto escapar deixa,
Qual cometa fatal à tirania.
Oh grande Lafaiete!
Oh portentoso nome! honra da França!
Nome, que no orbe cresce, como em bosques,
Altos, frondosos cedros
Nos alcantis do Líbano se elevam,
E as tormentas, e os raios assoberbam
Contra eles fulminados.
De nós aprenderão os filhos nossos
A repetir teu nome, ainda no berço,
Com inocentes lábios;
Nossos filhos aos seus, estes aos netos
Irão passando intacta esta lembrança;
Como através dos evos
As colossais pirâmides, que emblemas
São da grandeza, e da existência eterna,
Ovantes têm passado.

Mas é grande ardimento! Ave sem canto,
Longe de seu vergel peregrinando,
Em remontado vôo
Querer modular sons, cantar teu nome!
Simpática afeição, mágico impulso
A ti porém me arrasta;
E de prazer o coração no peito
Expande-se a teu nome, qual se expande,
Em perfumado eflúvio,
O doce aroma do ananás gostoso.
E tu, qual prazer sentes, quando tomas
Esse infante em teus braços?
Esse infante gentil, de heróis progênie,
Filho de Zenowiez, hoje sem Pátria
Que um Déspota roubou-lha?
Qual te anima alegria esperançosa,
Quando de Kosciuszko vês o sangue
Girar em suas veias,
E as estranhas nutrir-lhe ainda tenras?
Oh! como é grato levantar nos braços
O filho de um guerreiro,
Que malfadado sim, mas virtuoso,
Sobranceiro se mostra à sorte adversa!

Ah, praza a Deus clemente
Que por ti embalado esse menino,
Por ti n'água lavado do batismo,
Raro exemplo seguindo
De seus nobres maiores, seja um dia
O que foi Kosciuszko, e o que tens sido.
Oh! se o porvir contemplo,
Quem sabe se ainda um dia!... Mas não podem
Humanas mãos romper o véu de trevas,
Com que a Providência
Esconde a mortais olhos o futuro.
Em sibilino arrojo não pretendo
Interpretar mistérios.
Cresça o jovem Emílio sempre ao lado
Do imortal Lafaiete, e aprenda, e saiba
Amar a liberdade.

Paris, janeiro de1834

Notas do autor editar

  1. Por ocasião de batisado do filho do Conde de Zenowiez, sendo padrinho o dito general.