Poesias de Sá de Miranda (1885)/Parte Primeira/Soneto VII

83.

Soneto VII.

1.Aquela fe tam limpa e verdadeira,
Ũa vontade sempre tam sem magoa,
Tantas vezes provada em fogo a fragoa
E como ouro apurada e sempre enteira,

52.Aquela presunção que achou maneira
De encher de fogo o peito, e os olhos de augua,
Por que eu ledo passei por tanta magoa,
Culpa minha primeira e derradeira,

3.De que me aproveitou tudo? por certo
10Não de al que de um nome ledo e vão
Custoso á alma, custoso á vida.

4.Dei de mim que falar ó longe e ó perto:
E ja assi se consola a alma corrida.
Se não achar piedade, ache perdão.


P f. 37 J f. 33. A f. 7v. B f. 2. — 1 A palavra: fe falta no MS. — 2 A tam clara. B tam pura. — 2 A B A vontade tam limpa e tam s.m. — 3 P em fogo e fragua. — 3-4 A B T. v. p. em viva fragoa De fogo, i(B e i) apurada e s. e. — 5 A Aquela confiança de maneira. B Aquela perfeição q. a. m. — 6 A Que encheu de fogo o peito, os o. d. a. B D’encher de fogo o peito, os o. d. a. — 7 B Por quem ledo eu p. — 8 A C. primeira minha. — 9 A B D. q. m. a.? não de al por certo. — 10-11 A Que d’um sô nome tam leve e tam vão Custoso ao rosto, tam custoso á vida. — 10-12 B Que d’um nome somente leve e vão Custoso ao rostro e mais custoso á vida. Dei que falar em mi ao longe e ao perto. — 13 A Ria (Err.) assi se consola a alma perdida. — 13-14 B Consolara se ja alma captiva (N. M. arrependida) [Pois piedade nam acha] achar perdão. (sic.)