Cenário: Uma sala elegantemente mobiliada.
Personagens: MANUEL PRAXEDES, EULÁLIA, MARIA PRAXEDES e DOUTORA PRAXEDES
MANUEL PRAXEDES (Entrando pela porta da direita de calça e colete pretos, gravata branca, em mangas de camisa e segurando a casaca.) — Eulália! Eulália!
MARIA (Falando dentro.) — Oh! Eulália?
EULÁLIA (Entrando apressada.) — O que é, meu amo? Esta casa hoje está impossível, não sei para onde me virar.
MANUEL — Onde meteste a minha escova de roupa? Que horas são? Onde está a senhora? O carro já veio?
LUÍSA (Falando dentro.) — Eulália!
EULÁLIA — Lá está a outra a chamar-me! Jesus, fico doida!
MANUEL — O que direi eu então? O dia da formatura de minha filha.
MARIA (Dentro.) — Eulália!
MANUEL (Segurando a mão de Eulália que quer sair.) — A Luísa, lembras-te? Aquela criança que ainda ontem saltava no meu colo em fraldinhas de camisa, com as bochechas rosadas!
EULÁLIA — Pois não me hei de lembrar, meu amo! Parece-me que estou a vê-la a dizer adeus à gente com os dedinhos miúdos, assim (Imita.) Ai! que gracinha!
MANUEL — Pois bem. (Caindo num choro convulso.) — Aquela criancinha, Eulália, é hoje a Doutora Luísa Praxedes, formada em ciências médicas e cirúrgicas pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. (Mudando de tom.) Vai buscar a escova.
MARIA (Entrando de vestido decotado e flores na cabeça, a Eulália.) — Pois eu estou lá dentro a chamar-te há mais de meia hora...
EULÁLIA — O culpado foi meu amo.
MARIA — Vai ver o que quer a Luisinha. (Eulália sai.)