Era tarde para a vingança.

Quando Liberato chegou ao portão do cortiço, saía por ele Dermany no meio de soldados que o levavam preso para ser entregue à legação francesa.

O jogador tinha perdido a partida.

Liberato conteve o seu fervor e nem reparou no vulto de uma mulher que, ao percebê-lo recuou, escondendo-se por entre os curiosos que em chusma observavam a cena.

Dermany, ouvindo o grito de Cândida e o ruído de sua carreira pela galeria não tardara também em correr no encalço da sua vítima; mas ao chegar ao portão hesitara, vendo os soldados, e logo fugira para o interior do cortiço, onde em breve fora descoberto e preso.

Lucinda acompanhara temerosa a diligência feita pela força pública, e seguira a esta, lamentando em voz baixa Dermany, até que, ao passar o portão e ao dar com os olhos no irmão de sua senhora, desviou-se e, en­volvendo-se na multidão, foi desnorteada procurar abrigo, onde se acou­tasse.

A Providência marcava por diversos modos a punição dos criminosos; mas de envolta com essas punições acendia uma luz que somente os cegos não vêem, a luz do infortúnio, da desmoralização, da miséria moral, que em vingança implacável a escravidão impõe à sociedade escravagista.

Os escravos são vítimas; mas sabem ser vítimas-algozes.

Lucinda, a mucama escrava, vítima porque era escrava, tinha sido al­goz de sua senhora.

Que aproveite o exemplo.