LXVII. A LAVOURA DOS CAFEZAIS

Estavam já no Estado de São Paulo. O trem passou por Queluz, Lavrinhas e Cruzeiro. Entre Cruzeiro e Cachoeira, Carlos, vendo na falda da serra uma lavoura de moitas alinhadas, perguntou:

— Que é aquilo?

— É um cafezal — respondeu Rogério prontamente. — Existe ali uma fazenda de café; veja a casa, lá em baixo!

E o caixeiro apontava um casarão, que se via no sopé do morro.

— Então, é por aqui, Sr. Rogério, que se cultiva todo o café que o Brasil produz? — perguntou Carlos.

— Não. A grande lavoura de café de São Paulo faz-se hoje no oeste do Estado, na chamada terra roxa. Por aqui, houve muitas fazendas importantes, mas, com a continuação, estas terras, que não são muito fortes, cansaram, quero dizer: já não produzem tanto como dantes.

Descobriram-se no oeste outras terras excelentes para o café, as terras roxas, e lá então se desenvolveu a grande lavoura. Depois, extinguiu-se a escravidão, e começaram a vir para aqui milhares de colonos italianos. São eles principalmente os trabalhadores nas fazendas do oeste. Cada fazenda tem a sua colônia, que é uma fila de casas, bem arruada, onde moram esses colonos estrangeiros.

— Então, não é toda a terra que serve para o café?

— Não. O café frutifica bem nas regiões serranas, em terras novas, até então cobertas de matas, e nos climas onde as estações sejam muito regulares. Aquela Serra do Mar, por onde passamos, no Rio, na mata de Minas Gerais, e aqui no norte de S. Paulo, já produziu muito café; hoje ainda produz; mas quase todas as antigas fazendas estão abandonadas.

— E como se planta o café?

— Derruba-se o mato, nas partes mais altas das serras, limpa-se o terreno, e plantam-se os grãos de café, ou as mudas, isto é: pés de café que se criam em pequenos vasos e só são levados definitivamente para a terra do cafezal quando já têm um palmo de altura. Escolhem-se os pontos altos, porque, aqui no sul, nas noites de grande frio, no inverno, costuma cair geada, isto é: um gelo miúdo, que é mais freqüente nos terrenos baixos; a geada mata o café novo; e, por isto só, se escolhem para as plantações os terrenos altos. Às vezes, a geada é tão forte que alcança até os pontos altos; e então os lavradores costumam cobrir os cafeeiros novos com cestas que os protegem.

— E os cafeeiros produzem logo?

— No fim de quatro anos; então, já o arbusto tem a altura de um metro, mais ou menos, e produz os primeiros grãos. Com cinco anos, fica o cafezal carregado, e produz francamente.

— E o café dá durante todo o tempo?

— Não. Aqui, no sul, chove no verão, e faz estiagem no inverno: esta é a estação da seca. A colheita do café é feita no inverno. Em setembro e outubro, com as primeiras chuvas do verão, florescem os cafezais. Pelas encostas onduladas, aparece o verde arruado das lavouras, todo salpicado de branco, um branco puro... As longas vergônteas do cafeeiro pendem carregadas de flores, florinhas cesseis, agarradas ao ramo fino, por todo ele, e abrigadas na inserção das folhas; estas flores dão lugar a outros tantos frutos.