XXIII. O PRIMEIRO DINHEIRO

No outro dia, cedo, depois de abraçar o dono da casa, o Júlio e o carreiro, os nossos três viajantes puseram-se de novo em marcha. Estavam dispostos a avançar o mais possível, ansiosos por chegar a Vila Nova quanto antes. Não tinham já um vintém de seu; e a matalotagem que levavam só podia bastar para dois dias...

Às nove horas pararam, para descansar, numa encruzilhada do caminho. Aproximou-se uma tropa, carregada de couros, também com destino a Vila Nova. Juvêncio entrou logo em conversa com os tropeiros. Eram dois. Queixaram-se da falta que lhes fazia um companheiro, que fora forçado a ficar em caminho. Juvêncio ofereceu-se logo para substituí-lo, dizendo pronto a ajudar a condução dos animais. Carlos ofereceu-se também. Os tropeiros aceitaram a proposta de ambos, com uma condição: os dois rapazes receberiam, além da alimentação, quinhentos réis por dia.

Seguiram. A tropa era grande — doze animais, que foram repartidos em dois lotes, ficando cada um deles a cargo de um dos tropeiros, ajudado por um dos rapazes. Alfredo continuou a caminhar ao lado do irmão; mas o tropeiro condoeu-se dele, e autorizou-o a montar um dos burros da tropa. Foi uma fortuna para o menino, que, sem fadiga, pôde assim suportar as quatro léguas que a caravana percorreu nesse dia.

No dia seguinte, venceram facilmente mais cinco léguas. Os viajantes conversavam, para “matar o tempo”. Os tropeiros falavam da sua vida trabalhosa, mas não se mostravam descontentes: o trabalho dava bom lucro, — mais do que muitos outros, sobrecarregados de dificuldades e de impostos.

Ao anoitecer do segundo dia de viagem, chegaram a uma fazenda de criação. Aí devia parar a tropa. Juvêncio e Carlos receberam o seu salário, correspondente a dois dias de trabalho.

À vista daquele dinheiro, — era o primeiro que ganhavam! — ficaram contentíssimos. E pensaram logo em obter qualquer trabalho naquela grande fazenda, para arranjar mais dinheiro, com que pudessem fazer face às despesas do resto da viagem. Os tropeiros recomendaram-nos ao fazendeiro, que justamente estava começando a colheita do algodão, e precisava de trabalhadores. Ficou combinado que Carlos e Juvêncio ajudariam a colheita e ganhariam na proporção do que colhessem. Os dois rapazes atiraram-se ao serviço com um ardor extraordinário. Nas horas de menos forte calor, também Alfredo os auxiliava — muito orgulhoso por dizer que também era capaz de trabalhar. O certo é que colhiam cada dia, tanto quanto os outros trabalhadores, que eram homens adultos e robustos. Até o fazendeiro estava admirado.