18 de julho de 1888

Caro doutor,

[...] Por apenas um instante ponha-se no lugar de algúem que teve o meu Zaratustra em sua alma! Uma vez que você tenha compreendido o esforço que me custou para obter o tipo de equilíbrio vis-à-vis [frente,cara a cara] à totalidade do fato do homem, você compreenderá também a cautela extrema com que agora abordo toda a comunicação humana. Gostaria de uma vez por todas de não mais saber muitas coisas, de nunca ouvir muitas coisas - à este custo talvez eu possa permanecer.

Eu dei aos homens o livro mais profundo que eles já tiveram, meu Zaratustra: um livro que confere uma tal distinção que quem pode dizer "Eu entendi seis sentenças dele, isto é, vivi através delas" pertence à uma ordem superior de mortais. - Mas como alguém poderia reparar nisto! Pagar por isto! É quase corromper o caráter de alguém! O abismo se tornou muito profundo. Desde então, o que faço nada mais é que bufonarias para permanecer mestre de uma intolerável tensão e fragilidade.

Isto aqui entre nós. O resto é silêncio.

Seu amigo

Nietzsche.