NOTAS
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A —IL CINQUE MAGGIO, p. 23

A analyse mais perfeita da ode manzoniana é a que nos dá De Sanctis, o « principe dos modernos criticos italianos ».[1] Qualquer a póde ler na Storia della Letteratura italiana, e, por brevidade, d'ella apenas extractâmos o seguinte trecho :

Sono nove strofe[2], di cui ciascuna per la vastità della prospettiva è quasi un piccolo mondo, e te ne viene una impressione come da una piramide. A ciascuna strofa la statua muta di prospetto, ed è sempre colossale, L'occhio profondo e rapido dell' ispirazione divora gli spazii, aggruppa gli anni, fonde gli avvenimenti, ti dà l'illusione dell' infinito. Le proporzioni sono ingrandite da un lavoro tutto di prospettiva nella maggior chiarezza e semplicità della espressione. Le immagini, le impressioni, i sentimenti, le forme, tra quella vastità d'orizzonti ingrandiscono anche loro, acquistano audacia di colori e di dimensioni. Trovi condensata la vita del grande uomo nelle sue geste, nella sua intimità, nella sua azione storica, ne' suoi effetti sui contemporanei, nella sua solitudine pensosa : immensa sindove precipitano gli avvenimenti e i secoli, como incalzati e attratti da una forza superiore, in quegli sdruccioli accavallantisi, appena frenati dalle rime. » Vol. II, p. 467-468.

B — VERSÕES EM PORTUGUEZ, p. 81

Vão transcriptas pela ordem chronologica. A 1a publicada foi a de F. A. de Varnhagen, a 2a a do Sr. J. Ramos Coelho, e a última a do augusto monarcha do Brazil.

« Das traducções que reimprimo diz o Sr. C. A. Meschia no prefacio da sua collecção — as mais fiéis são, no genero, as latinas, as allemans e as portuguezas. Digo as mais fieis, e não, de modo absoluto, melhores, pois para julgar de seu pleno valor, tanto em si quanto consideradas respectivamente, necessitava ter em conta muitos outros elementos, os quaes estão fóra os limites da minha competencia », P. XV.

C — TRADUCÇÃO DE F. A. DE VARNHAGEN, p. 33

Encontra-se impressa na Lysia Poetica, serie segunda, (Rio de Janeiro, 1857;) mas não foi esta a sua primeira edição, conforme declara a apostyla á nota N (p. XCV).

Mau grado buscas nos periodicos litterarios e indagações de pessoas de memória fiel, não nos foi possivel descobrir, nos poucos dias que tivemos á nossa disposição, o logar onde primitivamente se publicou.

Sendo já hoje rara aquella collectanea, (tão enriquecida de notas eruditas de Manuel de Mello, que o fatalissimo anno bissexto de 1884 inesperadamente nos arrebatou[3], com outros não menos estimaveis cultores das boas lettras) transcrevemos por inteira a citada apostyla, referente ao Cinco de Maio.


O Cingue Maggio, uma das páginas admiraveis d'este seculo. — » Nenhuma hoje se verá citada com mais frequencia; nenhuma com abonos maiores do que èsta,

- Todos se recordam da pergunta do Sr. Latino Coelho naquelles espirituosos e scintillantes capitulos dos Fac-cimile dos escriptores contemporaneos, ensaios de chirographomancia que a admiração dos homens de lettras da peninsula coroou de tão sincero applauso :

É possivel que Manzoni, escrevendo no alto de uma fôlha de papel a epigraphe solemne In Cinque Maggio, para estillar alli toda a melancholia lyrica, e voejar ao redor do feretro de Sancta-Helena nos arrojos de una saudação sublime, traçasse lettras similhantes ás em que, á mesma hora, o onzenario lombardo, descrido de glórias e de heroes, crucificava as victimas da sua indústria sacrilega e iufamante ?»

A quantos, entretanto, a intimidade e a contemplação exclusiva de Hugo, de Béranger, de Lamartine, Reboul, Musset, Delavigne, ou Méry não conservam ainda hoje alheados da collecção de Inni Sacri a que pertence a mais célebre de todas as composições lyricas do auctor do Conte di Carmagnola, do Adelchi, da Urania e dos Promessi Sposi ?

«Não cremos, logo, trazer um presente vulgar estampando-a aqui por inteiro, escrupulosamente apurada á face das licções de Buttura, Ronna, e Baudry.

«Reproduziremos em seguida a traducção do sr. Francisco Adolpho de Varnhagen, favor inestimavel para aquelles a quem for extranho o italiano, cet heureux écho de l'antique harmonie, como diz Villemain, a lingua

Del bel paese lá dove 'l si suona,

como dizem o cantor de Beatriz, e aquelle que, na expressão de Frugoni, ensinou o mundo a philosophar de amor.

Verdi, não pago de ensinar ás musas de Palestrina e Beethoven a sublime imprecação do 2º acto do Conte di Carmagnola , e de associar d'esta arte o seu estro ao de Manzoni na restauração dos coros da tragedia antiga, quiz dar ainda aos soluços epicos do vale ao prisioneiro de Sancta-Helena as vibrações de uma melopeia impressiva e apaixonada.

« Quem escreveu o Ernani, as últimas scenas do Rigoletto, a aria de Abigail do Nabucco, e os dous actos finaes do Trovatore, só esse, de feito, merecia traduzir o Cinque Maggio na lingua ecumenica de que o seculo décimo-oitavo se reputa a edade classica, de que o nosso é o evo philosophico, e de que só bem póde dizer-se berço o seculo dezeseis,

Siècle mystérieux où la science sombre
De l'antique dédale agonisait dans l'ombre,
Tandis qu'à l'autre bout de l'horizon confus,
Eutre Tasse et Luther, ces deux chênes touffus,
Sereine, et blanchissant de sa lumière pure
Ton dôme merveilleux, o sainte architecture,
Dans ce ciel qu'Albert Dure admirait à l'ècart,
La musique montait, cette lune de l'art!

( V. HUGO. )

Reputação disputada hontem, e ja hoje, nos ios clamorosos das platéas, vingada dos amesquinhamentos da critica, o auctor das Vépres Siciliennes, do Aroldo, do Simone Boccanera, do Ballo in Maschera, e Re Lear, « o agitador, o O' Connell da música», como lhe chama o sr. Palmeirim, assombra e avassalla o presente; terá o seu logar nos atrios da posteridade, ao lado de Meyerbeer, acima de Pacini e Mercadante; e, em contempto das facções, chamem-se embora Fétis ou Scudo os seus oppugnadores, imperará no futuro, como imperam, a despeito dos folhetins e das malevolencias do seu tempo, Giuck e Mozart, a despeito de Beyle, Donizetti; como impera, a despeito ainda de mais altos, mais temerosos nomes—Paër! Berton ! Spohr! Weber ! — o mestre de Pesaro, o indolente sublime, o artista de eleição, o escurril, o audaz, o brilhante improvisador « cuja fexivel e poderosa mão percutiu simultaneamente as duas notas extremas do teclado, e fêz proromper » a um tempo o riso de Beaumarchais e as lágrymas de Shakspeare. »


*


«Nesta (a 4a) e em duas ou tres estrophes' mais a traducção afasta-se visivelmente do seu exemplar.

Um dia, esperámol-o, ser-nos-ha, talvez, permittido fazer ainda conhecida dos leitores d'esta chrestomathia a célebre versão do conde de Sabugal.

« Por hoje limitâmo-nos a appor á interpretação do sr. Varnhagen alguns logares em que nos parece haver sido mais feliz a traducção que, ja depois de composta a fôlha precedente, tivemos a fortuna de dever ao sr, dr. Luis Vicente De-Simoni, agora, como nos bellos dias da publicação dos Carmes Epistolares e do Ramalhete Poetico, todo possuido ainda do empenho de naturalizar entre nós os grandes poetas e paisanos seus, gruppo de cantores immortaes, constellação radiosa que alumia o ceu italiano.

(1)

Brilhante o viu no solio
Meu genio, e immudeceu.

(2)

O procelloso e trépido
Prazer de um vasto plano,
A ância de indocil ânimo
Que ao throno aspira, e, ufano,
O attinge e alcança um prémio
Que insania era esperar,
Tudo provou...

(3)

A régia, o, exilio triste.

(4)

Seu nome fêz. Dous seculos,
Um contra o outro armados,
Submissos invocaram-no,
Como esperando os fados,

(5)

Ai! o anhelante espirito
Á dor talvez cedeu ;
Desesperou ; mas, válida,
Veiu uma mão do ceu,
E...

(6)

Que a todo o desejo excede.

(7)

Que afflige e que consola,
Sôbre o deserto feretro
Ao lado seu pousou.

D — TRADUCÇÃO DE J. RAMOS COELHO, p. 41

Foi primeiramente publicada no VI vol. do Archivo Pittoresco, de Lisboa (p. 310). Colligida depois no estimavel livro das Novas Poesias que o esclarecido traductor imprimiu no Porto, em 1866, d'ahi a extractámos.

No breve prólogo o Sr. Ramos Coelho escreveu : a ode a Napoleão, de Manzoni, é julgada, por assim dizer, intraduzivel pela sua concisão e valentia, principalmente seguindo as grandes exigencias metricas do texto.» Nas notas accrescenta: «A respeito da versão d'esta bella ode, reputada quasi impossivel de reproduzir na nossa lingua, conservando a mesma fórma e a mesma nervosa concisão do original, sahiu na Correspondenza Letteraria, de Turin, um artigo do Sr. Vegezzi Ruscalla, illustre traductor da Marilia de Dirceu de Gonzaga e do Frei Luiz de Sousa de Garrett

D'este artigo limitâmo'-nos a copiar o seguinte trecho :

. il Portogallo ha nel cav. Ramos Coelho un poeta cosl profondo conoscitore del nostro idioma, da far reputare di nascita portoghese le poesie italiane ch' egli trasporta nel suo idioma natio. »

O Sr. Pinheiro Chagas, em um bello artigo publicado na Revista Contemporanea (vol. V, p. 534), sob a epigraphe: A poesia italiana, julga fidelissima a traducção do Sr. Ramos Coelho.

A mais arriscada empreza e de mais longo folego se ayenturou em seguida o Sr. Ramos Coelho, trasladando em nossa lingua a Gerusalemme Liberata de Torquato Tasso, operosa tarefa que em Portugal lhe alcançou merecidos applausas, e á qual o mesmo competentissimo Sr. Vegezzi Ruscalla fez honrosa analyse e tributou altos encomios.

ETRADUCÇÃO DE D. PEDRO DE ALCANTARA, p. 49

O Sr. Meschia juncta a seguinte nota a esta traducção :

O autógrapho foi-me cortezmente mandado pelo Sr, cav. Pietro Brambilla, parente e herdeiro de Manzoni juncto com a carta que a accompanhava, tambem autógrapha, com a data : Napoles, 15 de Novembro de 1871. É inedita e publica-se com o consenso do augusto traductor. A dita carta será comprehendida no Epistolario manzoniano. »

A carta, porém, não foi impressa no 2º vol. do Epistolario, que contém a correspondencia de 1840 a 1873. E' possivel que o tenha sido no 3º (que ainda não recebemos), transtornada assim a ordem chronologica.

A traducção do Cinque Maggio não è de certo a primeira distracção poetica em que S. M. tem empregado os lazeres do seu grave officio de reinar. Entre esses tralbalhos, conta-se uma versão do grego, nada menos que o Prometheu de Eschylo, de que o fallecido Dr. Duque-Estrada Tefxeira leu trechos em duas conferências da Glória,[4] Diz-se ter tambem trasladado o V canto do Inferno, o formoso episodio de Francisca de Rimini, versão á qual gratos rumores segredam discretos applausos.[5]


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  1. GREG. DE SIENA, op. cit.,p. XXX11.
  2. «Em muitas edições da ode as estrophes são duplas e por isso apparecem nove; mas na edição revista por Manzoni (Milão, typ. de G. Redaelli, 1845), que eu segui, são dezoito de seis versos cada uma.» C. A MESCHIA, op. cit., p, XIV, nota.
    Guiámo'-nos tambem pela edição referida, respeitando a disposição typographica adoptada pelo auctor, e que é, como se ve do borrão autógrapho, a fórma primitiva. Nas traducçoes, porém, acceitámos a variedade com que foram impressas.
  3. Falieceu a 4 de Fevereiro, na cidade de Milão, patria de Manzoni, de quem foi sempre declarado admirador.
  4. V. noticia d'essas conferências no Jornal do Commercio de 5 de Maio de 1874, p. 3, col, 6a, e de 23 de Junho do mesmo anno, p. 4, col. 1a.
  5. Vem de longe a sua predilecção pela obra do summo poeta florentino. « Suppomos não commetter censuravel imprudencia, reproduzindo alguns juizos por S. M. enunciados, n'um daquelles quasi familiares colloquios litterarios, que tanto e tão nobrementeo deliciam. Assim se exprime um seu elegante biógrapho no Futuro, periodico fundado nesta cidade por F. X. de Novaes. E depois de revelar em muito conceituosas phrases a opinião do Imperador ácerca das a mais fidalgas producções do engenho humano », eis as palavras que, em referencia á epopéa dantesca, elle attribue ao e « inperial orador »
    O, em todos os sentidos, primeiro poema da lingua italiana, a Divina Comedia, é das mais extraordinarias concepções. Affastados por mais de seis seculos daquelle idioma, daquellas allusões, daquellas obscuridades, que já no seu tempo o eram, não saboreâmos hoje a Trilogia, como fóra para desejar; mas por tal arte me enleva a sua leitura, que conservo de memória os mais notaveis de seus cantos. »— Futuro, I anno, pp. 48 a 50. (1º de Outubro de 1862.)
    A biographia, por causa das iniciaes J. P. de C., é attribuida por alguns a uma dignidade da egreja; porėm outros (acaso sob melhor fundamento ?) julgam-n'a de penna mais levantada.