De que chorais, meus Amores

Romance

De que chorais, meus Amores,
Meus olhos, de que chorais?
Baſta que o fogo de amor
Vos tem convertido em mar!

Se chorais por minha cauza,
Meu bem, o pranto deyxay,
Que naõ he bem cuſte tanto
Couza que tão pouco val.

Se ardeis, & chorais, Menino,
Vede que o Mundo dirà
Que o botar agoa no fogo
He por querello apagar.

Quem vir neſſe mar de pranto
Eſſes dous Soes celeſtiaes,
Cuydarà que lhe anoytece,
Quando amanhecendo vay.

De vòs ſe diſſe que vinheis
O pranto alheyo enxugar,
Porque naõ fazeis com voſco
O que fazeis com os mais?

Meu coraçaõ, ora baſte
Do crystal que derramais;
Jà que fazeis tanto extremo,
Fazey conta do criſtal.

Eſtribillo.

       1.
Deyxem-me chorar,
Deſaffogue-ſe o fogo
Do pranto no mar.
Ay, ay!

       2.
Naõ choreis, meus olhos,
Paray, reparay
Que amor mais ſe atea
No voſſo chorar.
Ay, ay!
Deyxem-me chorar,
Que de amor as fontes
Naõ ſabem parar.

Coplas

       1.
Como a buſcar as penas
Vim de meu throno,
Como tenho o que buſco,
Choro de goſto.

       2.
Aſſim meus olhos,
Sempre tereis a cauza
De voſſo choro.

       1.
Mas como encontra ingratos
Eſta fineza,
Jà naõ choro de goſto,
Choro de pena.

       2.
Lagrymas tenras,
Frequentadas abrandaõ
Peytos de pedra.

       1.
Como de hum peyto amante
Sinal he o choro.
Deſcobrindo o que quero,
Choro de goſto.

       2.
He paſmo novo
Fazer das meſmas agoas
Sinaes de fogo.

       1.
Como a pena no pranto
Alivios tenha,
De que cuydem que os buſco
Choro de pena.

       2.
Voſſas finezas
Sempre ſeraõ correntes
Soltas, ou prezas.

Eſtribillo.
Deyxem-me chorar, &c.