Minha terra... Ai, com que abalo,
Com que sincera emoção,
Eu, dando rédea ao cavalo,
Margeio este fundo valo,
— Caminho do meu torrão!
Tudo, no ar, festa e brilho!
E é com a alma a vibrar,
Que eu corto as roças de milho,
Por este sinuoso trilho
Que à minha terra vai dar.
Ninhos... flores... que tesouro!
Que alegria vegetal!
À luz do sol, quente e louro,
Com seus penachos cor de ouro,
— Como é lindo o milharal!
Abelhas, asas espertas,
Num revoejo zumbidor,
poisam trêfegas, incertas,
Pelas corolas abertas
Das parasitas em flor...
Na mata, de quando em quando,
Soa o trilar dos nambus.
Os pintassilgos, em bando,
As frontes sonorizando,
Gorjeiam em plena luz!
E eu sigo... Vou enlevado
Nesta poesia sem fim.
Bem sinto, de lado a lado,
Que um trecho do meu passado
Em tudo ri para mim!
Quem há, aí, que compreenda
Minha brusca, alta emoção,
Ao ver, ao longe, a fazenda,
Com sua chata vivenda,
Surgir no azul do espigão?
Aqui, nesta boa roça,
São todos amigos meus.
Por isso, a cada choça,
Toda gente se alvoroça
Para vir dizer-me adeus.
É o Quincas! É o Zé Colaço!
O Juca Elias! Nhô João!
Todos eles, quando eu passo,
Num longo, num rude abraço,
Apertam-me ao coração!
E aquele? Céus! Nhô Claudino!
O olhar em pranto ele traz...
É um velho, meigo e franzino,
Que outrora me viu menino,
E que hoje me vê rapaz...
Chego... Que festa infinita!
Como eles me querem bem!
Até a pobre da nhá Rita,
Com seu vestido de chita,
Corre a abraçar-me também!
Dentro, sem mais demora,
Traz-me a crioula um café.
Ai! É a mesma sala de outrora,
Com a mesma Nossa Senhora
Ao lado de São José!
Aqui, em meio a isto tudo,
Eu - que ironia cruel! -
Tenho o desejo sanhudo
De espedaçar o canudo
Com a carta de bacharel,
E, na doçura que encerra
Esta simpleza daqui,
Viver de novo, na serra,
Entre as gentes desta terra,
A vida que eu já vivi...