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O Romantismo, que começou em fins do século XVIII, abrangeu toda a civilização ocidental e foi como uma febre renovadora sobre a cultura em geral. Depois do romantismo, o mundo nunca mais foi o mesmo. Ele iniciou-se na Alemanha (sempre a Alemanha, em busca de romper com os grilhões intelectuais e espirituais impostos pelo sistema), e lá mesmo atingiu os maiores cumes, em todas as áreas. Na Poesia e na Literatura com Goethe e Schiller, na Música com Beethoven e Brahms, nas Artes Pláticas com a Escola de Berlim e Frankfurt, e na Filosofia com Schelling. Ele originou-se como uma reação juvenil à fragmentação do homem, mais claramente contra à ênfase ao culto frio da razão, apregoado pelo iluminismo. O homem não era só razão, não era um ser calculista. Ele era um ser de sentimentos, um ser que tem o direito de errar. As novas palavras de ordem entre os jovens estudantes era "sentimento", "misticismo", "anseio", "natureza", "introversão". O que se passa dentro do homem, no EU, é que devia agora ser levado em consideração no processo de aquisição de conhecimentos. O mundo, afinal, é entendido sob a ótica que adotamos, não porque seja a mais verdadeira, mas porque nos é a mais conveniente. Do que acreditamos firmemente, com outros, isto, de fato, "é", num dado momento, e agimos de acordo com ele. Ora, se é assim, nada pode ser considerado plenamente exato. Tudo varia de acordo com a nossa percepção. Sendo assim, o Romantismo quebrava as amarras de uma educação cristalizada, fundamentada apenas no desenvolvimento da razão, e dizia que o homem tem todo o direito de fazer a sua interpretação pessoal do mundo, de ter a sua filosofia de vida. A razão é limitante e limitada na esfera da vivência humana.
 
O Romantismo, assim como ocorrera no Renascimento, descobrira a importância da arte no processo do conhecimento e do crescimento humano. Quando nos comovemos ou nos extasiamos diante de um quadro ou ouvindo uma balada de Chopin, o que podemos dizer é que algo em nós "vivencia" sentimentos que ultrapassam as fronteiras do que podemos, linear e racionalmente, saber. Assim, a arte nos liberta do primado da razão e nos aproxima do indizível, e, por isso, nos dá uma idéia de que há coisas no universo que escapam ao nível da cognição. Por isso a arte pode nos elevar até Deus. No Romantismo, o homem se descobre livre para ser ele mesmo. Seus sonhos podem se tornar realidade. Nada é impossível. Era a hora de sabermos que o que há de mais caro na pessoa humana é o fato de que ninguém é idêntico a mais ninguém. Há riquezas internas que precisam ser exploradas. E esta busca pelo Eu levava os jovens românticos a buscarem o crepúsculo, a sentirem-se atraídos pelo sobrenatural, pelo lado oculto da vida: o misterioso, o místico.
 
Uma das características mais belas do Romantismo, e uma das mais importantes, era o amor pela natureza e pela sua mística. O brado de Rousseau, "De volta à natureza", dito no Iluminismo, só agora ganha impulso. Assim, em tudo, o Romantismo foi uma reação à visão de mundo mecanicista do Iluminismo. Não é sem razão que todo movimento anti-mecanicista (como ocorre hoje) traz sempre consigo um renascimento do antigo pensamento holístico. Sempre que a visão de mundo mecanicista, como ocorre atualmente em nossa sociedade deconsumo-pelo-consumo, anula o ser humano enquanto ser humano, uma onda de reação, inicialmente débil e depois cada vez mais forte, se levanta para mostrar que a natureza, onde nos incluímos, é um todo, uma unidade. Não podemos brincar com ela sem que advenham conseqüências funestas para tudo e para todos. Por isso, os filósofos do Romantismo se reportavam a Spinoza, a Plotino e a Giordano Bruno, cujas obras demonstram uma sensível forma de ver o mundo, predominantemente holista.
 
Descartes foi um dos maiores responsáveis pela nítida divisão e aceitação cultural entre o psicológico e a realidade física, divisão essa que vem imperando durante os últimos três séculos, com consequências funestas para a humanidade. Mas, no Romantismo, a natureza é vista como uma grande rede viva de relações, um grande eu. Novamente a história se repete, e hoje temos uma extraordinária teoria ecológica do "planeta vivo" - a hipótese Gaia, de James Lovelock. Para os Românticos, o homem tem de reencontrar o contato com a "alma do mundo", assim como faziam os Druidas e outros povos ditos "primitivos".
 
Para o maior dos filósofos românticos, Friedrich Wilhelm von Schelling (1775-1854), a natureza inteira, tanto no homem quanto na fauna e flora, eram a expressão visível de Deus.
 
Schelling acreditava que a natureza é a expressão visível do espírito. O espírito se serve da matéria com algum propósito definido, talvez o de evoluir. E o espírito seria a natureza em sua forma etérea, invisível. Por toda a parte podemos ver claramente a ação de um "algo" ordenador. Tal como em Plotino, tudo expressa evolução por tudo ter algo do Divino em si. A matéria seria uma espécie de inteligência - ou alma - adormecida.
 
Deus se expressa em sua criação. O espírito deve ser procurado, portanto, tanto na natureza exterior quanto em nós mesmos. Cristo havia dito que o Reino "está dentro de vós, mas também fora de vós", segundo o Evangelho de Tomé (vide a Home Page sobre Jesus). Por isso Novalis pôde dizer que "o caminho do mistério aponta para dentro". Isso significa que o homem traz o universo inteiro dentro de si e que a melhor forma de se vivenciar o mistério do mundo é mergulhar dentro de si mesmo. Afinal, o sábio ja tinha dito que "é conhecendo-se a si mesmo que se pode conhecer o universo".
 
O brado dos Românticos era algo eminentemente oposto ao pensamento de Descartes. Enquanto para este só existia uma alma no ser humano, para os românticos, toda a natureza era a plena de espíritos.
 
Não foi sem razão que Henrik Steffens caracterizou assim o movimento romântico: "Cansamos de tentar abrir um caminho pela matéria bruta. Escolhemos, agora, um outro caminho e nos lançamos, apressados, aos braços do infinito. Mergulhamos em nós mesmos e criamos um novo mundo". Compare esta afirmação com os pensamentos dos nossos gênios científicos atuais, e que têm, de certa forma, a mesma opinião (veja a Home Page sobre os Físicos).
 
Schelling, tal como Plotino e, pouco depois, seu contemporâneo Allan Kardec, via na natureza uma evolução que ia dos minerais até a consciência humana. Em nosso século, o antropólogo jesuíta francês Pierre Teilhard de Chardin também adotou esta mesma concepção. Schelling chamou a atenção para os estágios de evolução que vemos claramente da matéria inanimada até as formas mais complexas. A visão romântica sobre a natureza é uma visão holística por excelência, sendo a natureza um organismo capaz de desenvolver criativamente suas potencialidades inerentes, ao longo do tempo. Todos os românticos consideravam um organismo vivo tanto uma planta quanto uma nação.
 
Estamos vendo ressurgir atualmente todo um renascimento dos ideais românticos, talvez por resumirem toda uma herança filosófica e por representar uma atitude de protesto contra o atual grau de coisificação de nossa civilização. Nos últimos anos, especialmente desde a década de sessenta, muitos cientistas de peso têm afirmado que todo o nosso pensamento científico está diante de uma mudança de paradigma, ou seja, de uma mudança radical. Em diversas áreas, como na Física, na Biologia e na Psicologia, esta discussão já tem dado seus resultados positivos. Não nos faltam exemplos vários dos chamados "movimentos alternativos", que dão particular importância para um pensamento holístico e defendem um estilo mais humano e natural de vida, exatamente como o fizeram os românticos a quase duzentos anos atrás.