A Divina Comédia (Xavier Pinheiro)/grafia atualizada/Inferno/XXII: diferenças entre revisões

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Distingui-los podia de carreira.
 
““Eia! depressa os teus ferrões compridos
No costado lhe crava, ó Rubicante!””
Os demônios gritaram-lhe incendidos.
 
““Ó Mestre”” — disse — ““inquire insinuante
Quem seja aquele mísero e mesquinho
Que em mãos caiu da turba petulante””.
 
Moveu-se o Mestre e, à cava já vizinho,
Perguntou-lhe em que terra ele nascera.
&mdash; &#0147;“Em Navarra<ref>Ciampo de Navarra, o qual serviu na corte do rei Tebaldo II de Navarra. [N. T.]</ref>&#0148;” &mdash; tornou-lhe &mdash; eu tive o ninho.
 
&#0147;“De um fidalgo ao serviço me pusera
Minha mãe, quando o pai meu devastara
Fazenda e a própria vida com mão fera.
 
&#0147;“D’El-rei Tebaldo eu na privança entrara:
Vendia os seus favores fraudulento;
Sofro a pena do mal, que praticara&#0148;”.
 
Então os dentes lhe cravou cruento,
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Nas mãos de imigo seu caíra o rato:
Barbariccia, entre os braços o estreitando,
&mdash; &#0147;“Alto!&#0148;” &mdash; lhe diz &mdash; &#0147;“A mim cabe seu trato&#0148;”.
 
E o rosto para o Mestre meu voltando,
Falou: &mdash; &#0147;“Pergunta, se ainda mais desejas
Antes que o tenha lacerado o bando&#0148;”.
 
&#0147;“Algum dos pecadores, com quem stejas&#0148;”
Virgílo interrogou &mdash; &#0147;“Latino há sido?&#0148;”
Tornou: &mdash; &#0147;“Vou contentar-te no que almejas.
 
&#0147;“No pez deixei alguém por tal havido...
Ah! não temera, estando lá coberto,
Ser de unhas e farpões ora ferido&#0148;”.
 
&mdash; &#0147;“É demais!&#0148;” &mdash; Libicocco diz, que perto
Estava; e um braço ao triste dilacera,
Do croque ao golpe, aquele algoz esperto.
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Que do golpe olha o efeito doloroso:
 
&#0147;“Quem foi essa alma, como tu prescita,
Que, por vires à tona, hás lá deixado?&#0148;”
Responde o pecador: &mdash; &#0147;“Foi Frei Gomita<ref>Vicário de Ugolino Visconti, por dinheiro deu liberdade aos inimigos do seu senhor. [N. T.]</ref>
 
De galura, nas fraudes consumado
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E, traidor, foi por eles premiado.
 
&#0147;“Por ouro os deixou ir, como de plano
Confessa; e em tudo o mais provou ter foro
Nas tretas, ser nos dolos soberano.
 
&#0147;“Miguel Zanche<ref>Vicário do rei Enzo em Logodoro. [N. T.]</ref>, o Juiz de Logodoro,
Com ele ostenta, em práticas freqüentes
De crimes, em Sardenha, o seu tesouro.
 
&#0147;“Ai! vede como esse outro range os dentes!
Iria por diante; mas receio
Na pele a fúria dos ferrões pungentes&#0148;”.
 
Atenta o cabo de olhos no meneio
Com que a ferir se apresta Farfarello.
&#0147;“Vai daí!&#0148;” &mdash; lhe gritou &mdash; &#0147;“pássaro feio!&#0148;”
 
&mdash; &#0147;“Se Toscanos, Lombardos tens anelo
De ver e ouvir&#0148;” &mdash; o triste prosseguia &mdash;
&#0147;“Traça darei, com que satisfazê-lo.
 
Suspendam Malebranche essa porfia;
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Que eu, sentado, um só não, muitos faria
 
&#0147;“De lá surdir, segundo a nossa usança,
Ao sinal de assovio, que de ausente
Perigo ao vir à tona dá fiança&#0148;”.
 
Cagnazzo alça o focinho, de repente,
E, abanando a cabeça, diz &mdash; &#0147;“Cuidado!
Astúcia é por lançar-se ao pez fervente&#0148;”.
 
Ele, que em cópia ardis tinha guardado,
Tornou: &mdash; &#0147;“Sutil astúcia, na verdade,
Causar aos meus tormento redobrado!&#0148;”
 
Dos outros contra o aviso, por vaidade,
Alichino lhe disse: &mdash; &#0147;“Se abalares,
Não provarei de pés agilidade,
 
&#0147;“Hei de, voando, te agarrar nos ares.
Vamos do cimo e à riba retiremos:
Maravilha, se a tantos enganares!&#0147;“
 
Leitor, logração nova contemplemos.
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Da afronta sentem todos o azedume,
Inda mais quem motivo dera ao feito,
Gritando: &mdash; &#0147;“Preso estás!&#0148;” &mdash; salta do cume,
 
Porém do medo se avantaja o efeito