A Divina Comédia (Xavier Pinheiro)/grafia atualizada/Inferno/XXVII: diferenças entre revisões
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Desse mesquinho a língua, se movendo,
Podes ir, tens assaz já respondido.
De ouvir-me não despraza-te a demora;
Bem vês, me não despraz: entanto eu ardo.
Tombas saudoso dessa doce terra
Latina, onde hei pecado tanto outrora,
Pois eu fui lá dos montes, entre Urbino
E essa, origem do Tibre, altiva serra
Para escutar atento a fronte inclino.
Eis, tocando-me a um lado, diz meu Guia:
Eu, que já prestes a resposta havia,
Tornei ao pecador incontinente:
Sempre é no coração dos seus tiranos.
Porém nenhuma agora tem patente.
De Polenta a águia forte ali se aninha;
Com largas asas cobre à Cérvia os planos.
Pelo sangue francês sido inundada
Sob verde leão, sofre mesquinha.
Gente os dentes cruéis inda sentia:
Morte a Montagna deram desapiedada.
Do alvo ninho o leão, se convertendo
De um pra outro partido cada dia.
Entre o plaino e a montanha, em liberdade
Ou vive ou sob o jugo vai sofrendo.
Condescendente sê, como hemos sido:
No mundo haja o teu nome longa idade
O fogo rumoreja e comovido
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Depois emite a voz neste sentido:
A quem do mundo à luz daqui voltasse,
Queda ficara a minha língua aflita.
Quem no inferno caiu, se não me engano,
De falar não hei medo, que embarace,
Crendo pelo cordão ser emendado;
Por crê-lo certo, me esquivara ao dano,
Não me volvesse à primitiva estrada.
Como e por que te fique declarado.
Por mim, não provei ser leão por feitos,
Mas raposa, por astúcia abalizada.
Tantos soube, que os âmbitos da terra
Eram à fama de meu nome estreitos.
Quem, de surgir no porto esperançado,
Nem colhe os cabos nem as velas ferra,
E humilhei-me confesso e arrependido...
E o perdão, ai de mim! fora alcançado...
Em Latrão guerra crua declara:
Não contra Mouro, nem Judeu descrido,
Nenhum traidor contra Acre combatera
Ou do Soldão na terra traficara.
Nem cargo excelso, em mim o da humildade
Cordão, que os penitentes seus macera.
Constantino a Silvestre pedir cura
Da lepra: assim também à enfermidade
Remédio em meu conselho. Escrupuloso
Calei-me: de ébrio vi nele a loucura.
Absolto és desde já, se Palestrino
A vencer me ensinares ardiloso.
As duas chaves têm, a que há negado
O meu antecessor preço condi?no.
Pior partido no silêncio vendo,
Lhe tornei: — Padre Santo, se o pecado,
Darás ao sólio teu glória e conforto
Prometendo demais, pouco fazendo.
Mas clamou anjo negro apressurado:
— Não mo tomes; assim me causas torto!
Dês que há dado o conselho fementido,
Ficou pelos cabelos agarrado.
Pecado à penitência não se amanha,
Não pode aquele andar a esta unido.
Empolgando-me, disse: — Creste acaso
Que me falta de lógico arte e manha?
Da cauda em voltas oito o dorso enreda,
Raivoso morde-a e diz: — É neste caso
Assim onde me vês, fiquei perdido,
Vou chorando, em tais vestes, minha queda
Tendo, pois, desta sorte concluído,
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