A Divina Comédia (Xavier Pinheiro)/grafia atualizada/Paraíso/XXIV: diferenças entre revisões

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&#0147;“Ó soldalício, à ceia convidado
Do cordeiro de Deus, que dá sustento
Tal, que o apetite heis sempre saciado,
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Alívio dai-lhe em sua sede imensa.
Na fonte sempre hauris, de que deriva
Quanto ele, sôfrego aspirando, pensa.&#0148;” &mdash;
 
Disse então Beatriz. Com flama viva,
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Que exprimam propriamente o doce encanto.
 
&mdash; &#0147;“Santa irmã nossa, que dessa arte envia
Devotos rogos, teu ardente afeito
Dessa bela coréia me desvia.&#0148;” &mdash;
 
Parando, o bento lume ao claro aspeito
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Que falou do que eu disse pelo jeito.
 
&mdash; &#0147;“Eterna luz desse varão subido,
Que de Deus&#0148;” &mdash; torna &mdash; &#0147;“as chaves da alegria
Que infinda à terra deu, hás recebido,
 
&#0147;“Deste homem como queiras avalia
O saber sobre a Fé lhe perguntando,
Pela qual sobre o mar andaste um dia.
 
&#0147;“Se bem crê, se bem spera, terno amando,
Certo sabeis, pois tens fitado a vista
Onde tudo se está representando.
 
&#0147;“Mas como cidadãos o céu conquista
Pela Fé verdadeira, para honrá-la
Explique ele por que na Fé persista.&#0148;” &mdash;
 
O bacharel apresta-se e não fala
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A tal assunto, por tal Mestre arguido.
 
&mdash; &#0147;“Teu pensar, bom cristão, me significa:
O que é Fé?&#0148;” &mdash; Presto, ouvindo, o rosto alçava
Para a luz, que a questão desta arte indica.
 
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Brotar da interna fonte, onde a guardava.
 
&mdash; &#0147;“A graça, que concede eu me confesse
Ao sublime Primópilo&#0148;” &mdash; assim digo &mdash;
&#0147;“Permita que os conceitos claro expresse!
 
&#0147;“Como escrito, Pai meu,&#0148;” &mdash; depois prossigo &mdash;
&#0147;“Foi com verdade pelo irmão amado,
Que Roma em bom caminho pôs contigo,
 
&#0147;“É a Fé a substância do esperado
E argumento evidente do invisível:
Da Fé a essência assim tenho julgado.&#0148;” &mdash;
 
Tornou-me: &mdash; &#0147;“O parecer teu é plausível,
Se o porque foi substância definida
E argumento te fica inteligível.&#0148;” &mdash;
 
&mdash; &#0147;“De mistérios&#0148;” &mdash; disse eu &mdash; &#0147;“soma crescida,
A mim nestas esferas revelada,
Está na terra aos olhos escondida.
 
&#0147;“Sua existência em crença é só firmada,
Em que se fundamenta alta Esperança:
Substância, pois, tem sido intitulada.
 
&#0147;“E como em crença o raciocínio lança
As premissas sem ter mais outra vista,
Por isso de argumento o nome alcança.&#0148;” &mdash;
 
&mdash; &#0147;“Se quanto lá na terra homem conquista
Por doutrina, assim fosse comprendido,
Lugar faltava ao engenho do sofista&#0148;” &mdash;
 
Daquele aceso amor foi respondido;
E mais: &mdash; &#0147;“Nesta moeda examinado
Metal e peso muito bem tem sido.
 
&#0147;“Mas diz: na bolsa a tens arrecadado?&#0148;” &mdash;
&mdash; &#0147;“Sim&#0148;” &mdash; tornei &mdash; &#0147;“tão redonda é, tão polida,
Que do bom cunho estou certificado.&#0148;” &mdash;
 
A voz então, desse esplendor saída
Perguntou-me: &mdash; &#0147;“Essa pedra preciosa,
Em que toda virtude se acha erguida
 
&#0147;“Donde a tens?&#0148;” &mdash; Eu: &mdash; &#0147;“A chuva copiosa,
Pelo Espírito Santo derramada
Na Lei antiga e nova portentosa,
 
&#0147;“Razão é, porque foi-me demonstrada
Com agudeza tal, que outra seria
Obtusa, se lhe fora comparada.&#0148;” &mdash;
 
&mdash; &#0147;“Porque divina lei pareceria
A nova e a antiga&#0148;” &mdash; a voz logo retorna &mdash;
&#0147;“Que a tão profunda convicção te guia?&#0148;” &mdash;
 
&mdash; &#0147;“É prova que a verdade clara torna
De obras a série&#0148;” &mdash; eu disse &mdash; &#0147;“a que natura
Nunca ferro aqueceu, bateu bigorna.&#0148;” &mdash;
 
A luz me replicou: &mdash; &#0147;“Quem te assegura
Que as obras fossem tais? Quem defendido
Por provas deve ser. Quem mais to jura?
 
Então falei: &mdash; &#0147;“Se o mundo convertido
Sem milagres de Cristo à lei se houvesse,
Este o maior milagre houvera sido;
 
&#0147;“Porque pobre, em jejum, para ter messe
Semeado hás na terra ótima planta:
Onde foi vinha, hoje espinhal só cresce.&#0148;” &mdash;
 
Mal concluía, quando a corte santa
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Naquele exame, a voz de novo soa.
 
&mdash; &#0147;“A graça com tua mente consorcia
Tanto, que por teus lábios tem falado:
Té aqui respondeste o que cumpria.
 
&#0147;“Dou, pois, assenso ao que me tens tornado;
Mas tua crença exprime, lhe acrescendo
De que fonte à tua alma ela há brotado.&#0148;” &mdash;
 
&mdash; &#0147;“Ó Santo Padre, ó Spírito, que vendo
Stás quanto creste, tanto que chegaste
Ao Sepulcro, o mais moço antecedendo,
 
&#0147;“Direi&#0148;” &mdash; lhe torno &mdash; &#0147;“(assim determinaste)
Da minha Fé a fórmula evidente,
Sua origem direi como ordenaste.
 
&#0147;“Em um só Deus eu creio onipotente,
Eterno, que, imutável, os céus move
No desejo e no amor sempre clemente.
 
&#0147;“São, para que tal crença se comprove,
Metafísica e física discretas;
Mas da verdade a prova também chove
 
&#0147;“Por Moisés, pelos salmos, por profetas,
Pelo Evangelho e escritos, que inspirado
Vos tem o Esp?rito Santo, almas seletas.
 
&#0147;“Nas Três Pessoas creio afervorado;
Creio na essência delas Una e Trina,
Tanto que é stá com são bem conjugado.
 
&#0147;“O que de altos mistérios da divina
Condição digo, em traços mil se assela
Em mim pela evangélica doutrina.
 
&#0147;“Este o princípio, esta a fagulha bela,
Que depois se dilata em flama ardente
E em mim cintila, qual nos céus estrela.&#0148;” &mdash;
 
Qual patrão, que de servo diligente