A Divina Comédia (Xavier Pinheiro)/grafia atualizada/Paraíso/XXIX: diferenças entre revisões
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Nesse Ponto que os meus tinha vencido.
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Agora não te inquiro: já o hei visto
No centro de todo o ubi e todo o quando.
Fora impossível, mas porque fulgindo
O seu splendor dizer pudesse, — Existo, —
Nem o lugar, criar se há dignado
Amores nove o Eterno Amor se abrindo.
Nem antes, nem depois era existente,
Quando Deus sobre as águas foi levado.
Quais setas de tricorde arco voando
Saíram do ato da Infalível Mente.
Luz do sol toca, é logo refletida
Do vir ao ser distância não se dando,
De uma só vez, no ser raiou perfeita
Sem star parte por outra antecedida.
Cada substância; o cimo foi marcado
No mundo a que por ato puro é feita;
São no meio travados força e ato
Por nó que indissolúvel se há tornado.
De séc?los antes de outro mundo feito
Fora dos anjos o império nato.
De escritores, que influi o Espírito Santo
Verás, pensando, da verdade o efeito.
Compreender não pudera que os motores
Inertes fossem por espaço tanto.
Criados foram e de qual maneira:
Do teu desejo apago três ardores.
De um a vinte se faz, dos anjos parte
Turbou vosso elemento sobranceira.
Que vês: assim girando jubilosa,
Deste excelso mister se não disparte.
Do que hás visto no abismo do tormento,
Do mundo sob a mole ponderosa.
Mostraram-se à Bondade agradecidos,
Que lhes deu tão sublime entendimento.
São de mérito e graça iluminante,
Por querer certo e firme dirigidos.
Que receber a graça é meritório,
Segundo o afeto mostrar-se constante.
Se quanto ora te hei dito a mente alcança,
Bem podes contemplar sem adjutório.
Na terra, que é da angélica natura
O querer, o entender, o ter lembrança,
Verdade, que entre vós se há confundido,
Sendo enleada por tão má leitura.
De verem Deus, jamais rosto voltaram
Dos olhos a que nada oculto há sido.
Não há razão, por que se lhes suponha
Rememorar idéias, que passaram.
Crendo e não crendo proferir verdade:
Neste caso há mais culpa e mais vergonha.
Filosofando, tanto vos transporta
Da ostentação e de o pensar vaidade.
Ser a Santa Escritura desdenhada
Ou ter inteligência errada e torta.
Quanto sangue custou pouco se atenta,
E quanto a crença humilde a Deus agrada.
Quando o Santo Evangelho está calado
Tais invenções o púlpito comenta.
No ato da Paixão de Cristo, houvera,
Interpondo-se, a luz do Sol velado.
Por si mesmo; e o eclipse à Índia, à Espanha
Comum como à Judéia, se fizera.
De Lapi e Bindi quanto só num ano
O púlpito de contos desentranha.
Do pasto volta túmida de vento,
Desculpa não lhe dá não vendo o dano.
Parti e ao mundo apregoai mentira;
Mas deu-lhes da verdade o fundamento;
Que foi-lhes o Evangelho escudo e lança
Nos prélios, de que a Fé vitriz saíra.
Estão na voga; o riso provocando
Incha o capuz; por nada mais se cança*.
Que em cógula se aninha, não quisera
Indulgências, em que se anda confiando;
Que, em prova e testemunho não firmado,
Qualquer a dá-las apto considera.
E outros muitos, que os porcos mais ascosos,
Que pagam com dinheiro não cunhado.
Os olhos volve à verdadeira estrada;
O tempo é curto, andemos pressurosos.
Que nem por voz, nem por humana mente
Ser pode a conta sua calculada.
Que não diz dos milhares, que revela
A soma Daniel precisamente.
É por maneiras tantas recebida,
Quantos fulgores são, que a fazem bela.
Do amor, do afeto angélico a doçura
Está em graus diversos aquecida.
E grandeza, que em espelhos tão brilhantes
A sua imagem multiplica pura,
Permanecendo ''um'' sempre como de antes.
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