A Divina Comédia (Xavier Pinheiro)/grafia atualizada/Paraíso/XIII: diferenças entre revisões
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Do mendigo de Deus me recontaram.
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Quando a colheita fica enceleirada,
A bater outra doce Amor convida.
Para a boca gentil formar motivo
Da pena ao mundo inteiro fulminada,
Padeceu e a balança, em morte e vida,
Da culpa alçou com peso decisivo,
Ser poderia pela mão divina,
Que um e outro criou, fora infundida.
Me ouvindo que em ciência sem segundo
Subira quem a luz quinta domina.
Como teu crer confundida tens de vê-la
Na verdade, qual centro num rotundo.
É só splendor da Idéia, que, nascendo
Do Senhor nosso, o seu amor revela;
Do foco seu, do qual se não desune,
Nem do Amor, que o terceiro fica sendo,
Como em spêlho, em céus nove, e o concentrando,
Tem a unidade eternalmente imune.
Já de ato em ato enfraquecida fica,
As breves contigências vai formando.
Essas cousas, que o céu, no movimento,
Com semente ou sem ela multiplica.
E modo, mais ou menos transluzindo
O selo do Supremo Entendimento.
Segundo a espécie, ou bons ou ruins frutos;
E vós à luz com várias manhas vindo.
Se a cera em ponto apropriado fora,
E os influxos do céu nunca interruptos;
Procedendo, assim como faz o artista:
Treme-lhe a mão que é da arte sabedora.
Da virtude primeira imprime e adapta,
A perfeição aqui toda se aquista.
A toda perfeição da criatura,
E concebeu a Virgem pura, intacta.
Como nos dois jamais tão alta há sido,
Nem jamais há de ser vossa natura.
Com razão me tiveras perguntado:
— Como disseste — igual não tem subido?
No que era pensa e à sua escolha atende,
Quando — Pede — por Deus foi-lhe ordenado.
Que foi Rei quem pediu sabedoria
Para fazer o que o bom Rei pretende.
Dos motores ao céu, nem se necesse
Com contigente um seu igual faria.
Ou se um triâng?lo sem ter âng?lo reto
Traçar em simicírc?lo se pudesse.
Quando falava na sem par ciência,
A prudência real ia direto.
Hás de ver que somente aos Reis se aplica,
Muitos na soma, poucos na excelência.
Meu dizer à tua fé no pai primeiro
E em nosso Redentor não contra-indica.
Não vás, imita o caminhante lasso;
Ao não ao sim não corre aventureiro.
Quem afirma, quem nega leviano
Sem distinção ou num ou noutro passo.
Que o juízo do vulgo se transvia
E o entendimento enleia afeto insano.
Incólume não volta da jornada
Quem pós verdade da arte não seguia.
Parmênides, Melisso, Brisso e quantos
Partiram sem saber o rumo e a estrada.
Que, como espadas, deram na Escritura,
Mutilando o sentido aos textos santos.
Imita aquele, que estimasse o trigo,
Quando a seara inda não stá madura.
Ao que imprudente as ramas lhe tocara;
Rosas depois oferecia amigo.
Em viagem feliz, o salso argento,
Soçobrar, quando o posto já tomara.
Não queiram Dona Berta e Dom Martinho:
Se um rouba e é outro às oblações atento,
Pode um se erguer, cair outro em caminho.
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