A Divina Comédia (Xavier Pinheiro)/grafia atualizada/Paraíso/XX: diferenças entre revisões
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m clean up |
mSem resumo de edição |
||
Linha 51:
Em minha alma insculpiram-se ansiosa.
—
O sol, quando rutila ao meio-dia;
Aqueles, com que a vista me cintila,
No céu graduação tem sublimada,
Foi o régio cantor do Esp?rito Santo,
Que a Arca trasladou de vila em vila.
Qual foi o efeito desse ardente zelo,
Galardão recebendo tal e tanto.
Consolou o que ao bico está mais perto
Viúva em dó do filho, seu desvelo.
A Cristo não seguir, pela exp?riência
Do céu e do penar pungente e certo.
Do sobrolho, onde vês arco superno,
Morte adiou por vera penitência.
Não muda, se o rogar do arrependido
Em crástino tornar fato hodierno.
À Grécia, do Pontífice em proveito:
Boa intenção mau fruto há produzido.
Dessa obra pia lhe não é nocivo,
Posto haja o mundo horrendo desproveito.
Guilherme é, por quem chora o reino opresso
De Frederico e Carlo ao mando esquivo.
Ao Rei justo ama o céu: do seu semblante
Ainda no fulgor se mostra expresso.
Que entre estas luzes santas quinta seja
Rifeu Troiano, da justiça amante?
Na Graça — aquilo, que inda o mundo ignora —
Bem que o fundo inefável não lhe veja.
Qual codorniz que os vôos seu demora,
Linha 127:
Por não mais ter-me atônito e suspenso:
—
Ocultas cousas são, mas fé te guia.
Aprende; mas inota fica a essência,
Se não a explica espírito sincero.
Do ardente amor e da esperança viva,
Que triunfam da própria Onipotência.
Vencido é Deus por ser assim servido;
Tem, vencido, vitória decisiva.
Do meu sobrolho a luz quinta e primeira
Neste império aos eleitos concedido.
No Redentor futuro ou no já vindo
Tinham antes da hora derradeira.
Onde não se corrige o condenado,
A mercê recebeu anelo infindo,
Em suplicar a Deus tal graça havia,
Que pôde o seu querer ser abalado.
Em que não fez detença a alma ditosa,
Naquele há crido que a salvar podia;
Que ao passar nova morte há merecido
Sublimar-se à existência gloriosa.
Que provém de uma origem tão profunda,
Que a nascente olho algum não lhe há sabido,
De graça em graça a Redenção futura
Mostrou-lhe Deus revelação jucunda.
A perversão gentílica rejeita,
Do mundo repreendendo a vida impura
Do carro, o seu batismo efetuaram,
Anos mil precedendo a lei perfeita.
A raiz esses olhos, que a primeira
Cousa jamais ao todo interpretaram.
Porque nós que Deus vemos não sabemos
Dos preferidos seus a grei inteira.
Que o nosso bem por este bem se afina,
De ser quanto Deus quer o que queremos.
Por essa imagem de feição divina
|