A Mulher de Preto/IV: diferenças entre revisões

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|obra=[[A Mulher de Preto]]
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Quando acordou e lembrou-se do sonho, Estêvão sorriu.
 
— Casar-me! disse ele. Era o que me faltava. Como poderia eu ser feliz com o espírito receoso e ambicioso que a natureza me deu? Acabemos com isto; nunca mais verei aquela mulher... e boa noite.
 
Começou a vestir-se.
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No dia seguinte, porém, teve o cuidado de passar duas vezes pela Rua do Conde a ver se descobria a encantadora viúva. Não descobriu nada; mas quando ia tomar um tílburi e voltar para casa encontrou o amigo de seu pai em cuja casa encontrara Madalena.
 
Estêvão já tinha pensado nele; mas imediatamente tirou dali o pensamento, porque ir perguntar-lhe onde morava a viúva era uma cousacoisa que podia traí-lo.
 
Estêvão já empregava o verbo ''trair''.
 
O homem em questão, depois de cumprimentar ao médico, e trocar com ele algumas palavras, disse-lhe que ia à casa de Madalena, e despediu-se.
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Acompanhou de longe o amigo e viu-o entrar em uma casa.
 
"É ali", pensou ele.
 
E afastou-se rapidamente.
 
Quando entrou em casa achou uma carta para ele; a letra, que Ihelhe era desconhecida, estava traçada com elegância e cuidado: a carta recendia de sândalo.
 
O médico rompeu o lacre.
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A carta dizia assim:
 
<blockquote>
Amanhã toma-se chá em minha casa. Se quiser vir passar algumas horas conosco dar-nos-á sumo prazer.
 
<poem>
Amanhã toma-se chá em minha casa. Se quiser vir passar algumas horas conosco dar-nos-á sumo prazer.
Madalena C...
</poemblockquote>
 
 
Estêvão leu e releu o bilhete; teve idéia de levá-lo aos lábios, mas envergonhado diante de si próprio por uma idéia que lhe parecia de fraqueza, cheirou simplesmente o bilhete e meteu-o no bolso.
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Estêvão era um pouco fatalista.
 
"Se eu não fosse àquele baile não conhecia esta mulher, não andava agora com estes cuidados, e tinha conjurado uma desgraça ou uma felicidade, porque ambas as cousascoisas podem nascer deste encontro fortuito. Que será? Eis-me na dúvida de Hamleto. Devo ir à casa dela? A cortesia pede que vá. Devo ir; mas irei encouraçado contra tudo. É preciso romper com estas idéias, e continuar a vida tranqüila que tenho tido."
 
Estava nisto quando Meneses lhe entrou por casa. Vinha buscá-lo para jantar. Estêvão saiu com o deputado. Em caminho fez-lhe perguntas curiosas.
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Subiram ao Hotel de Europa.
 
Ali haviamhavia vários deputados que conversavam de política, e os quais se reuniram a Meneses. Estêvão ouvia e respondia, sem esquecer nunca a viúva, a carta e o sândalo.
 
Assim, pois, davam-se contrastes singulares entre a conversa geral e o pensamento de Estêvão.
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Estêvão olhava para o deputado; mas no interior estava dizendo isto:
 
"Com efeito, Madalena é bela, é admiravelmente bela. Tem uns olhos de matar. Os cabelos são lindíssimos: tudo nela é fascinador. Se pudesse ser minha mulher, eu seria feliz; mas quem sabe?. . . Contudo sinto que vou amá-la. Já é irresistível; é preciso amá-la; e ela? que quer dizer aquele convite? Amar-me-á?"
 
Estêvão embebera-se tanto nesta contemplação ideal, que, acontecendo perguntar-lhe um deputado se não achava a situação negra e carrancuda, Estêvão entregue ao seu pensamento respondeu:
 
&mdash; É lindíssima !
 
&mdash; Ah! disse o deputado, vejo que o senhor é ministerialista.