A Mulher de Preto/VII: diferenças entre revisões

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|obra=[[A Mulher de Preto]]
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O amor não adiantava um passo.
 
Podiam ser ambos. duas crateras prestes a rebentar a lava; mas até então não davam o menor sinal de si.
 
Esta situação incomodava o rapaz, acanhava-o, e fazia-o sofrer; mas quando ele pensava em dar um ataque decisivo, era exatamente quando se mostrava mais cobardecovarde e poltrão.
 
Era o primeiro amor do rapaz: ele nem conhecia as palavras próprias desse sentimento.
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— Adeus, Estêvão! disse o recém-chegado. Estavas escrevendo algum libelo ou carta de namoro?
 
— Nem uma nem outra cousacoisa, respondeu Estêvão secamente.
 
— Dou-te uma notícia.
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— Ah!
 
— É verdade, evenhoe venho ler-te a primeira comédia.
 
— Deus me livre! disse Estêvão levantando-se.
 
— Hás de ouvir, meu amigo; ao menos algumas cenas; dar-se-á caso que não me protejas nas letras? Anda cá; ao menos duas cenas. Sim? É pouca cousacoisa.
 
Estêvão sentou-se.
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O dramaturgo continuou:
 
— Talvez prefiras ouvir a minha tragédia intitulada --— ''O PunhaldePunhal de Bruto''...
 
— Não, não; prefiro a comédia: é menos sanguinária. Vamos lá.
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O Oliveira abriu o rolo, arranjou as folhas, tossiu e começou a ler o que se segue, com voz pausada e fanhosa:
 
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<poem>
CENA I
CÉSAR (''entrando pela direita''); JOÃO (''pela esquerda'')
 
CÉSAR (''entrando pela direita''); JOÃO (''pela esquerda'')
C É S A R &mdash; Fechada! A sinhá já se levantou?
 
J O Ã O &mdash; Já, sim senhor; mas está incomodada.
C É S A RCÉSAR &mdash; Fechada! A sinhá já se levantou?
C É S A R &mdash; O que tem?
 
J O Ã O &mdash; Tem... está mcomodada.
J O Ã OJOÃO &mdash; Já, sim senhor; mas está incomodada.
CÉ S AR &mdash; Já sei. (''Consigo'') "Os incômodos do Costume". (A João) Qual é então o remédio hoje?
 
JOÃO &mdash; O remédio? (''Depois de uma pausa'') Não sei.
C É S A RCÉSAR &mdash; EstáO bom,que vai-te!tem?
 
J O Ã OJOÃO &mdash; Tem... está mcomodadaincomodada.
 
CÉ S ARCÉSAR &mdash; Já sei. (''Consigo'') "Os incômodos do Costume". (A João) Qual é então o remédio hoje?
 
JOÃO &mdash; O remédio? (''Depois de uma pausa'') Não sei.
 
CÉSAR &mdash; Está bom, vai-te!
 
CENA II
CÉSAR, FREITAS (''pela direita'')
 
CÉSAR, FREITAS (''pela direita'')
C É S A R &mdash; Bom dia. Sr. procurador . . .
 
C É S A RCÉSAR &mdash; Bom dia. Sr. procurador . . .
 
FREITAS &mdash; De causas perdidas. Só me ocupo em procurar as perdidas. Procurar o que se não perdeu é tolice. A minha constituinte?
 
C É S A R &mdash; Disse-me o João que está incomodada.
FREITASCÉSAR &mdash; MesmoDisse-me parao V,João Sque está incomodada.a?
 
CÉSAR &mdash; (''Sentando-se'') Mesmo para mim. Por que me olha com esse olhar? Tem inveja?
FREITAS &mdash; SempreMesmo às ordens depara V.S.aSa.?
FREITAS &mdash; Não é inveja, é admiração! De ordinário ninguém corresponde ao nome que recebeu na pia; mas o Sr. César, benza-o Deus, não desmente que traz um nome significativo, e trata de ser nas págmas amorosas o que foi o outro nas batalhas campais.
 
CÉSAR &mdash; Pois também os procuradores dizem cousas destas?
CÉSAR &mdash; (''Sentando-se'') Mesmo para mim. Por que me olha com esse olhar? Tem inveja?
FREITAS &mdash; De vez em quando. (''Indo sentar-se'') V. S.a admira-se?
 
CÉSAR &mdash; (''Tirando charutos'') Como não é de costume... quer um charuto?
FREITAS &mdash; Não é inveja, é admiração! De ordinário ninguém corresponde ao nome que recebeu na pia; mas o Sr. César, benza-o Deus, não desmente que traz um nome significativo, e trata de ser nas págmaspáginas amorosas o que foi o outro nas batalhas campais.
FREITAS &mdash; Obrigado... Eu tomo rapé. (''Tira a boceta'') Quer uma pitada?
 
C É S A R &mdash; Obrigado.
CÉSAR &mdash; Pois também os procuradores dizem cousascoisas destas?
FREITAS &mdash; (''Sentando-se'') Pois a causa da minha constituinte vai às mil maravilhas. A parte contrária requereu assinação de dez dias, mas eu vou...
 
FREITAS &mdash; De vez em quando. (''Indo sentar-se'') V. SSa.a admira-se?
 
CÉSAR &mdash; (''Tirando charutos'') Como não é de costume... quer um charuto?
 
FREITAS &mdash; Obrigado... Eu tomo rapé. (''Tira a boceta'') Quer uma pitada?
 
C É S A RCÉSAR &mdash; Obrigado.
 
FREITAS &mdash; (''Sentando-se'') Pois a causa da minha constituinte vai às mil maravilhas. A parte contrária requereu assinação de dez dias, mas eu vou...
 
CÉSAR &mdash; Está bom, Sr. Freitas, eu dispenso o resto; ou então não me fale linguagem do foro. Em resumo, ela vence?
 
FREITAS &mdash; Está claro. Tratando provar que...
 
C É S A RCÉSAR &mdash; Vence, é quanto basta.
 
FREITAS &mdash; Pudera não vencer! Pois se eu ando nisto...
 
C É S. A RCÉSAR &mdash; Tanto melhor!
 
FREITAS &mdash; Ainda não me lembro de ter perdido uma só causa: isto é, já perdi uma, mas é porque nas vésperas de ganhar disse-me o constituinte que desejava perdê-la. Dito e feito. Provei o contrário do que já tinha provado, e perdi... ou antes, ganhei, porque perder assim é ganhar.
 
CÉSAR &mdash; É a fênix dos procuradores.
 
FREITAS &mdash; (''Modestamente'') São os seus bons olhos...
C É S. A R &mdash; Mas a consciência?
 
C É S. A RCÉSAR &mdash; Mas a consciência?
 
FREITAS &mdash; Quem é a consciência?
 
CÉSAR &mdash; A consciência, a sua consciência?
 
FREITAS &mdash; A minha consciência? Ah! essa também ganha.
C É S. A R &mdash; (''Levantando-se'') Ah! também? . . .
FREITAS &mdash; (''O mesmo'') Tem V. S.a alguma demandazinha?
CÉSAR &mdash; Não, não, não tenho; mas, quando tiver, fique descansado, vou bater à sua porta. . .
FREITAS &mdash; Sempre às ordens de V.S.a.
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C É S. A RCÉSAR &mdash; (''Levantando-se'') Ah! também? . . .
 
FREITAS &mdash; (''O mesmo'') Tem V. SSA.a alguma demandazinha?
 
CÉSAR &mdash; Não, não, não tenho; mas, quando tiver, fique descansado, vou bater à sua porta. . .
 
FREITAS &mdash; Sempre às ordens de V. Sa.
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[[Categoria:A Mulher de Preto|Capítulo 07]]