A Ortografia de Nossa Língua (pela simplificação ortográfica): diferenças entre revisões

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=Metodologia=
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; ''"Savoir suggérer c'est la grande finesse pédagogique"''.<br>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; (AMIEL - Pensées choisies).</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; A questão do ensino da língua não está na ciência profunda do professor. Está num conhecimento de métodos e processos que enquadrem o ensino na capacidade aquisitiva e no interesse do aluno.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; É muito, e muito bem, que eu saiba e maneje o idioma. Contudo, para que eu transmita à juventude os meus conhecimentos, é forçoso que eu trilhe caminhos que cheguem realmente à compreensão e bom lucro, dela. Sob pena de minhas lições se perderem, no espaço, como setas atiradas sem prévia e cuidadosa mira.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Segurança e recurso de métodos exige-os, mais do que qualquer, o ensino da língua. Entre nós, o mal maior tem sido o ''gramatiquismo'' e o conceito de ensino, dele resultante.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Gramática de uma língua é o conjunto de regras para bem a falar e bem a escrever.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Bem falar e escrever é, realmente, a coisa a conseguir. Muito facilmente, porém, costumamos partir do pressuposto de que o discente já fala e escreve... e passamos a ensinar-lhe o ''bem'' falar e o ''bem'' escrever.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Agarramo-nos, para isso, a uns ''tantos pontos'' clássicos, que constituem os programas ginasiais, e a uns ''tantos manuais'', tambem clássicos, que constituem nosso material didático. É de onde queremos tirar a ciência da língua. A consequência é o ensino livresco, delimitado, teórico, factício, em vez de uma aprendizagem viva, orgânica, desenvolvida, que seja para a inteligência do aluno como fatalidade resultante de uma necessidade reclamadora.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Temos ''ensino'' demais e ''aprendizagem'' de menos. É necessária uma inversão. Mais aprendizagem e menos ensino.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; De bem falar e escrever a língua sinta o aluno necessidade, natural e pràticamente. Necessidade nascida de uma fonte subjetiva, impulsionadora, cheia do desejo do conhecimento. E que este impulso, de necessidade e gosto pessoais, encontre coordenação nos cânones objetivos, nos princípios básicos da linguagem, bem como da arte literária, os quais o mestre o ajudará a encontrar ou lhe mostrará, na hora conveniente. Assim há de ser a ministração da língua pátria, em vez de exposição objetiva e fria, desinteressante e inoportuna, cheia de leis e regras que o professor ''diz'' serem necessárias ao bom conhecimento e uso do idioma.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Urge transferir a fundamentação do ensino da língua. Sair do aferro à gramática para o campo vivo da necessidade atual. Do conceito ''bem'' falar e ''bem'' escrever, para o conceito mais essencial que é ''falar'' e ''escrever''.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ensine-se a ''falar'' e ''escrever'' a língua. A correção virá de acréscimo, naturalmente. Ensine-se ''a arte'' de falar e escrever. ''O artistismo'' ocorrerá, por concomitância inevitável.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nenhuma outra matéria, como a língua, envolve e invade tanto a personalidade do aluno, diz Chubb, ''in The Teaching of English. Nenhuma outra exige mais infusão de poder pessoal. "Your work must be personalized. Your preparation must be conceived of as the building of a personality."''</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; A matemática e as ciências são ''impessoais'', mas a literatura e a composição lidam com a ''substância da vida e do caráter'', com a ''emoção'' e com o ''pensamento''. ''"Avoid the personal and you sterilize the subject."''</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; O ensino da língua reflete-se no que o aluno escreve. O que compõe é uma expressão dele, uma revelação dele, uma disciplinação dele.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ao professor, a delicada e minuciosa incumbência de o orientar, no conjunto, reencaminhar nos desvios, incentivar nas pesquisas, moderar nos exageros, provocar oportunamente, reforçar, no que está fraco. Toda uma obrigação apostolar, que exige vocação e paciência, tato e constância, argúcia e força de convicção.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; O que ele maneja, diz ainda Chubb, não é uma ''simples inteligência'' ou um ''simples talento'', mas um ''caráter'', uma ''personalidade''.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Saiba, pois, guiar e animar o aluno, no convívio diário da realidade - cenas da vida, da sociedade, coisas do meio ambiente; na pesquisa da ciência, e do passado - através de outras disciplinas, como a história e a geografia. Mas, principalmente, no conturbérnio literário, na frequência e amor dos autores e das obras. Para que, em tudo, na realidade de cada hora, nas descobertas da leitura e do estudo, vá ele sabendo discernir, vá ele sabendo definir as coisas e definir-se diante delas, tudo exprimindo numa elocução conveniente, - naquela linguagem correta, facil, educada, viva, natural, tonalizada, fecunda, expressiva, que ao mestre incumbe, missionariamente, ensinar-lhe.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que o professor excite e desenvolva, pela suscitação do interesse, no aluno, o gosto e o hábito de ler, porque o melhor campo, onde aprender o bom uso e o bom estilo, são ainda as obras primas da literatura.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Que a elocução se vire numa capacidade em que ele seja habilmente destro.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; E que se vá ele formando, munindo, para a vida, diante da qual saiba colocar-se, numa atitude em que se traduza o caráter, a cultura, a excelência moral, o gosto estético, as qualidades todas que façam dele pessoa capaz, para si mesmo, e útil, para a sociedade.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Bem sei que teorizar é fácil e realizar é difícil. Sobretudo com o nosso desaparelhamento e desequilíbrio. Mas, na relatividade do possível, o esforço deve ser feito, com o intuito e o intento no ideal.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Armem o aluno de gosto pela boa leitura. De expediente, na exploração dos mestres da literatura. De exercício, na faculdade da elocução. De capacidade para ver e sentir as coisas... E ele falará e escreverá bem. Porque ele saberá ''ser'', diante da vida.</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; É velho, - mais do que velho, eterno, - o conceito de Boileau:</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; ''"Ce que l'on conçoit bien s'énonce clairement,<br>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; et les mots pour le dire arrivent aisément."''</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Conceito, que Horácio vasou em outras palavras, quando disse, tão antes de Boileau:</p>
 
<p align="left">&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; ''"Cui lecta potenter erit res,<br>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Nec facundia déseret hunc, nec lucidus ordo".<br>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; (Quem fala de assunto em que é capaz,<br>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; fá-lo com eloqüência e ordem lúcida).''</p>
 
=A escritura ou representação de pensamento=