A Divina Comédia (Xavier Pinheiro)/grafia atualizada/Inferno/I: diferenças entre revisões

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<[[A Divina Comédia]]
|obra=[[A Divina Comédia]]
 
|autor=Dante Alighieri
|seção=[[A Divina Comédia/Inferno|Inferno]] &mdash; Canto I
|posterior=[[A Divina Comédia/Inferno/II|Canto II]]
|notas=Tradução de [[Autor:José Pedro Xavier Pinheiro|José Pedro Xavier Pinheiro]]
}}
''Dante, perdido numa selva escura, erra nela toda a noite. Saindo ao amanhecer, começa a subir por uma colina, quando lhe atravessam a passagem uma pantera, um leão e uma loba, que o repelem para a selva. Aparece-lhe então a imagem de Virgílio, que o reanima e se oferece a tirá-lo de lá, fazendo-o passar pelo Inferno e pelo Purgatório. Beatriz, depois, o guiará ao Paraíso. Dante o segue.''
 
<poem>
Da nossa vida, em meio da jornada,<ref>''Em meio'' etc. Aos 35 anos. Dante tinha 35 anos no dia 25 de março de 1300, ano no qual o papa Bonifácio VIII proclamou o primeiro Jubileu. [N. T.]</ref>
Achei-me numa selva tenebrosa,<ref>''Tenebrosa'' etc., simbólica selva dos vícios humanos. [N. T.]</ref>
Tendo perdido a verdadeira estrada.
 
Dizer qual era é cousa tão penosa,
{| width=100%"
Desta brava espessura a asperidade,
| width="53%"|<b>Tradução brasileira</b>
Que a memória a relembra inda cuidosa.
| width="47%"|<b>Original italiano</b>
|-
| valign="top"|<ul>
Da nossa vida, em meio da jornada,<br/>
Achei-me numa selva tenebrosa,<br/>
Tendo perdido a verdadeira estrada.<br/>
 
Dizer qual era é cousa tão penosa,<br/>
Desta brava espessura a asperidade,<br/>
Que a memória a relembra inda cuidosa.<br/>
 
Na morte há pouco mais de acerbidade;<br/>
Mas para o bem narrar lá deparado<br/>
De outras cousas que vi, direi verdade.<br/>
 
Contar não posso como tinha entrado;<br/>
Tanto o sono os sentidos me tomara,<br/>
Quando hei o bom caminho abandonado.<br/>
 
Depois que a uma colina me cercara,<br/>
Onde ia o vale escuro terminando,<br/>
Que pavor tão profundo me causara.<br/>
 
Ao alto olhei, e já, de luz banhando,<br/>
Vi-lhe estar às espaldas o planeta,<br/>
Que, certo, em toda parte vai guiando.<br/>
 
Então o assombro um tanto se aquieta,<br/>
Que do peito no lago perdurava,<br/>
Naquela noite atribulada, inquieta.<br/>
 
E como quem o anélito esgotava<br/>
Sobre as ondas, já salvo, inda medroso<br/>
Olha o mar perigoso em que lutava,<br/>
 
O meu ânimo assim, que treme ansioso,<br/>
Volveu-se a remirar vencido o espaço<br/>
Que homem vivo jamais passou ditoso.<br/>
 
Tendo já repousado o corpo lasso,<br/>
Segui pela deserta falda avante;<br/>
Mais baixo sendo o pé firme no passo.<br/>
 
Eis da subida quase ao mesmo instante<br/>
Assoma ágil e rápida pantera<br/>
Tendo a pele por malhas cambiante.<br/>
 
Não se afastava de ante mim a fera;<br/>
E em modo tal meu caminhar tolhia,<br/>
Que atrás por vezes eu tornar quisera.<br/>
 
No céu a aurora já resplandecia,<br/>
Subia o sol, dos astros rodeado,<br/>
Seus sócios, quando o Amor divino um dia<br/>
 
A tais primores movimento há dado.<br/>
Me infundiam desta arte alma esperança<br/>
Da fera o dorso alegre e mosqueado,<br/>
 
A hora amena e a quadra doce e mansa.<br/>
De um leão de repente surge o aspecto,<br/>
Que ao meu peito o pavor de novo lança.<br/>
 
Que me investisse então cuido inquieto;<br/>
Com fome e raiva atroz fronte levanta;<br/>
Tremer parece o ar ao seu conspeto.<br/>
 
Eis surge loba, que de magra espanta;<br/>
De ambições todas parecia cheia;<br/>
Foi causa a muitos de miséria tanta!<br/>
 
Com tanta intensa torvação me enleia<br/>
Pelo terror, que o cenho seu movia,<br/>
Que a mente à altura não subir receia.<br/>
 
Como quem lucro anela noite e dia,<br/>
Se acaso o tempo de perder lhe chega,<br/>
Rebenta em pranto e triste se excrucia,<br/>
 
A fera assim me fez, que não sossega;<br/>
Pouco a pouco me investe até lançar-me<br/>
Lá onde o sol se cala e a luz me nega.<br/>
 
Quando ao vale eu já ia baquear-me<br/>
Alguém fraco de voz diviso perto,<br/>
Que após largo silêncio quer falar-me.<br/>
 
Tanto que o vejo nesse grão deserto,<br/>
— “Tem compaixão de mim” — bradei transido — <br/>
“Quem quer que sejas, sombra ou homem certo!”<br/>
 
 
“Homem não sou” tornou-me — “mas hei sido,<br/>
Pais lombardos eu tive; sempre amada<br/>
Mântua lhes foi; haviam lá nascido.<br/>
 
“Nasci de Júlio em era retardada,<br/>
Vivi em Roma sob o bom Augusto,<br/>
Quando em deuses havia a crença errada.<br/>
 
“Poeta, decantei feitos do justo<br/>
Filho de Anquíses, que de Tróia veio,<br/>
Depois que Ílion soberbo foi combusto.<br/>
 
“Mas por que tornas da tristeza ao meio?<br/>
Por que não vais ao deleitoso monte,<br/>
Que o prazer todo encerra no seu seio?”<br/>
 
“— Oh! Virgílio, tu és aquela fonte<br/>
Donde em rio caudal brota a eloqüência?”<br/>
Falei, curvando vergonhoso a fronte. —<br/>
 
“Ó dos poetas lustre, honra, eminência!<br/>
Valham-me o longo estudo, o amor profundo<br/>
Com que em teu livro procurei ciência!<br/>
 
“És meu mestre, o modelo sem segundo;<br/>
Unicamente és tu que hás-me ensinado;<br/>
O belo estilo que honra-me no mundo.<br/>
 
“A fera vês que o passo me há vedado;<br/>
Sábio famoso, acude ao perseguido!<br/>
Tremo no pulso e veias, transtornado!”<br/>
 
Respondeu, do meu pranto condoído;<br/>
“Te convém outra rota de ora avante<br/>
Para o lugar selvagem ser vencido.<br/>
 
“A fera, que te faz bradar tremante,<br/>
Aqui passar não deixa impunemente;<br/>
Tanto se opõe, que mata o caminhante.<br/>
 
“Tem tão má natureza, é tão furente,<br/>
Que os apetites seus jamais sacia,<br/>
E fome, impando, mais que de antes sente.<br/>
 
“Com muitos animais se consorcia,<br/>
Há-de a outros se unir té ser chegado<br/>
Lebréu, que a leve à hórrida agonia.<br/>
 
“Por ouro ou por poder nunca tentado<br/>
Saber, virtude, amor terá por norte,<br/>
Sendo entre Feltro e Feltro potentado.<br/>
 
“Será da humilde Itália amparo forte,<br/>
Por quem Camila a virgem dera a vida,<br/>
Turno Eurialo, Niso acharam morte.<br/>
 
“Por ele, em toda parte, repelida<br/>
Irá lançar-se no infernal assento,<br/>
Donde foi pela Inveja conduzida.<br/>
 
“Agora, por teu prol, eu tenho o intento<br/>
De levar-te comigo; ir-te-ei guiando<br/>
Pela estância do eterno sofrimento,<br/>
 
“Onde, estridentes gritos escutando,<br/>
Verás almas antigas em tortura<br/>
Segunda morte a brados suplicando.<br/>
 
“Outros ledos verás, que, em prova dura<br/>
Das chamas, inda esperam ter o gozo<br/>
De Deus no prêmio da imortal ventura.<br/>
 
“Se lá subir quiseres, um ditoso<br/>
Espírito, melhor te será guia,<br/>
Quando eu deixar-te, ao reino glorioso.<br/>
 
“Do céu o Imperador, a rebeldia<br/>
Minha à lei castigando, não consente<br/>
Que eu da cidade sua haja a alegria.<br/>
 
“Em toda parte impera onipotente,<br/>
Mas tem no Empíreo sua augusta sede:<br/>
Feliz, por ele, o eleito à glória ingente!”<br/>
 
— “Vate, rogo-te” — eu disse — “me concede,<br/>
Por esse Deus, que nunca hás conhecido,<br/>
Porque este e maior mal de mim se arrede.<br/>
 
“Que, até onde disseste conduzido,<br/>
À porta de São Pedro eu vá contigo<br/>
E veja os maus que houveste referido”.<br/>
 
Move-se o Vate então, após o sigo.<br/>
</ul>
 
| valign="top"|<ul>
Nel mezzo del cammin di nostra vita<br/>
mi ritrovai per una selva oscura<br/>
che' la diritta via era smarrita.<br/>
 
Na morte há pouco mais de acerbidade;
Ahi quanto a dir qual era è cosa dura<br/>
Mas para o bem narrar lá deparado
esta selva selvaggia e aspra e forte<br/>
De outras cousas que vi, direi verdade.
che nel pensier rinova la paura!<br/>
 
Contar não posso como tinha entrado;
Tant'è amara che poco è più morte;<br/>
Tanto o sono os sentidos me tomara,
ma per trattar del ben ch'i' vi trovai,<br/>
Quando hei o bom caminho abandonado.
diro` de l'altre cose ch'i' v'ho scorte.<br/>
 
Depois que a uma colina me cercara,
Io non so ben ridir com'i' v'intrai,<br/>
Onde ia o vale escuro terminando,
tant'era pien di sonno a quel punto<br/>
Que pavor tão profundo me causara.
che la verace via abbandonai.<br/>
 
Ao alto olhei, e já, de luz banhando,
Ma poi ch'i' fui al piè d'un colle giunto,<br/>
Vi-lhe estar às espaldas o planeta,
la` dove terminava quella valle<br/>
Que, certo, em toda parte vai guiando.
che m'avea di paura il cor compunto,<br/>
 
Então o assombro um tanto se aquieta,
guardai in alto, e vidi le sue spalle<br/>
Que do peito no lago perdurava,
vestite già de' raggi del pianeta<br/>
Naquela noite atribulada, inquieta.
che mena dritto altrui per ogne calle.<br/>
 
E como quem o anélito esgotava
Allor fu la paura un poco queta<br/>
Sobre as ondas, já salvo, inda medroso
che nel lago del cor m'era durata<br/>
Olha o mar perigoso em que lutava,
la notte ch'i' passai con tanta pieta.<br/>
 
O meu ânimo assim, que treme ansioso,
E come quei che con lena affannata<br/>
Volveu-se a remirar vencido o espaço
uscito fuor del pelago a la riva<br/>
Que homem vivo jamais passou ditoso.
si volge a l'acqua perigliosa e guata,<br/>
 
Tendo já repousado o corpo lasso,
così l'animo mio, ch'ancor fuggiva,<br/>
Segui pela deserta falda avante;
si volse a retro a rimirar lo passo<br/>
Mais baixo sendo o pé firme no passo.
che non lasciò già mai persona viva.<br/>
 
Eis da subida quase ao mesmo instante
Poi ch'ei posato un poco il corpo lasso,<br/>
Assoma ágil e rápida pantera<ref>''Pantera'', símbolo da luxúria e da fraude; politicamente, de Florença. [N. T.]</ref>
ripresi via per la piaggia diserta,<br/>
Tendo a pele por malhas cambiante.
sì che 'l piè fermo sempre era 'l più basso.<br/>
 
Não se afastava de ante mim a fera;
Ed ecco, quasi al cominciar de l'erta,<br/>
E em modo tal meu caminhar tolhia,
una lonza leggera e presta molto,<br/>
Que atrás por vezes eu tornar quisera.
che di pel macolato era coverta;<br/>
 
No céu a aurora já resplandecia,
e non mi si partia dinanzi al volto,<br/>
Subia o sol, dos astros rodeado,
anzi 'mpediva tanto il mio cammino,<br/>
Seus sócios, quando o Amor divino um dia
ch'i' fui per ritornar piu` volte volto.<br/>
 
A tais primores movimento há dado.
Temp'era dal principio del mattino,<br/>
Me infundiam desta arte alma esperança
e 'l sol montava 'n sù con quelle stelle<br/>
Da fera o dorso alegre e mosqueado,
ch'eran con lui quando l'amor divino<br/>
 
A hora amena e a quadra doce e mansa.
mosse di prima quelle cose belle;<br/>
De um leão de repente surge o aspecto,<ref>''Um leão'', símbolo da soberba e da violência; politicamente, da França. [N. T.]</ref>
sì ch'a bene sperar m'era cagione<br/>
Que ao meu peito o pavor de novo lança.
di quella fiera a la gaetta pelle<br/>
 
Que me investisse então cuido inquieto;
l'ora del tempo e la dolce stagione;<br/>
Com fome e raiva atroz fronte levanta;
ma non sì che paura non mi desse<br/>
Tremer parece o ar ao seu conspeto.
la vista che m'apparve d'un leone.<br/>
 
Eis surge loba, que de magra espanta;<ref>''Loba'', símbolo da avareza e da incontinência; politicamente da Cúria Romana. [N. T.]</ref>
Questi parea che contra me venisse<br/>
De ambições todas parecia cheia;
con la test'alta e con rabbiosa fame,<br/>
Foi causa a muitos de miséria tanta!
sì che parea che l'aere ne tremesse.<br/>
 
Com tanta intensa torvação me enleia
Ed una lupa, che di tutte brame<br/>
Pelo terror, que o cenho seu movia,
sembiava carca ne la sua magrezza,<br/>
Que a mente à altura não subir receia.
e molte genti fè già viver grame,<br/>
 
Como quem lucro anela noite e dia,
questa mi porse tanto di gravezza<br/>
Se acaso o tempo de perder lhe chega,
con la paura ch'uscia di sua vista,<br/>
Rebenta em pranto e triste se excrucia,
ch'io perdei la speranza de l'altezza.<br/>
 
A fera assim me fez, que não sossega;
E qual è quei che volontieri acquista,<br/>
Pouco a pouco me investe até lançar-me
e giugne 'l tempo che perder lo face,<br/>
Lá onde o sol se cala e a luz me nega.
che 'n tutt'i suoi pensier piange e s'attrista;<br/>
 
Quando ao vale eu já ia baquear-me
tal mi fece la bestia sanza pace,<br/>
Alguém fraco de voz diviso perto,<ref>''Alguém'' etc., o poeta [[:w:Virgílio Maro|Virgílio Maro]], símbolo da razão humana. [N. T.]</ref>
che, venendomi 'ncontro, a poco a poco<br/>
Que após largo silêncio quer falar-me.
mi ripigneva là dove 'l sol tace.<br/>
 
Tanto que o vejo nesse grão deserto,
Mentre ch'i' rovinava in basso loco,<br/>
&mdash; “Tem compaixão de mim” — bradei transido —
dinanzi a li occhi mi si fu offerto<br/>
“Quem quer que sejas, sombra ou homem certo!”
chi per lungo silenzio parea fioco.<br/>
 
“Homem não sou” tornou-me — “mas hei sido,
Quando vidi costui nel gran diserto,<br/>
Pais lombardos eu tive; sempre amada
<<Miserere di me>>, gridai a lui,<br/>
Mântua lhes foi; haviam lá nascido.
<<qual che tu sii, od ombra od omo certo!>>.<br/>
 
“Nasci de Júlio em era retardada,
Rispuosemi: <<Non omo, omo già fui,<br/>
Vivi em Roma sob o bom Augusto,
e li parenti miei furon lombardi,<br/>
Quando em deuses havia a crença errada.
mantoani per patria ambedui.<br/>
 
“Poeta, decantei feitos do justo
Nacqui sub Iulio, ancor che fosse tardi,<br/>
Filho de Anquíses, que de Tróia veio,
e vissi a Roma sotto 'l buono Augusto<br/>
Depois que Ílion soberbo foi combusto.
nel tempo de li dei falsi e bugiardi.<br/>
 
“Mas por que tornas da tristeza ao meio?
Poeta fui, e cantai di quel giusto<br/>
Por que não vais ao deleitoso monte,
figliuol d'Anchise che venne di Troia,<br/>
Que o prazer todo encerra no seu seio?”
poi che 'l superbo Ilion fu combusto.<br/>
 
“&mdash; Oh! Virgílio, tu és aquela fonte
Ma tu perchè ritorni a tanta noia?<br/>
Donde em rio caudal brota a eloqüência?”
perchè non sali il dilettoso monte<br/>
Falei, curvando vergonhoso a fronte. &mdash;
ch'è principio e cagion di tutta gioia?>>.<br/>
 
“Ó dos poetas lustre, honra, eminência!
<<Or sè tu quel Virgilio e quella fonte<br/>
Valham-me o longo estudo, o amor profundo
che spandi di parlar sì largo fiume?>>,<br/>
Com que em teu livro procurei ciência!
rispuos'io lui con vergognosa fronte.<br/>
 
“És meu mestre, o modelo sem segundo;
<<O de li altri poeti onore e lume<br/>
Unicamente és tu que hás-me ensinado;
vagliami 'l lungo studio e 'l grande amore<br/>
O belo estilo que honra-me no mundo.
che m'ha fatto cercar lo tuo volume.<br/>
 
“A fera vês que o passo me há vedado;
Tu sè lo mio maestro e 'l mio autore;<br/>
Sábio famoso, acude ao perseguido!
tu sè solo colui da cù io tolsi<br/>
Tremo no pulso e veias, transtornado!”
lo bello stilo che m'ha fatto onore.<br/>
 
Respondeu, do meu pranto condoído;
Vedi la bestia per cù io mi volsi:<br/>
“Te convém outra rota de ora avante
aiutami da lei, famoso saggio,<br/>
Para o lugar selvagem ser vencido.
ch'ella mi fa tremar le vene e i polsi>>.<br/>
 
“A fera, que te faz bradar tremante,
<<A te convien tenere altro viaggio>>,<br/>
Aqui passar não deixa impunemente;
rispuose poi che lagrimar mi vide,<br/>
Tanto se opõe, que mata o caminhante.
<<se vuò campar d'esto loco selvaggio:<br/>
 
“Tem tão má natureza, é tão furente,
chè questa bestia, per la qual tu gride,<br/>
Que os apetites seus jamais sacia,
non lascia altrui passar per la sua via,<br/>
E fome, impando, mais que de antes sente.
ma tanto lo 'mpedisce che l'uccide;<br/>
 
“Com muitos animais se consorcia,
e ha natura sì malvagia e ria,<br/>
Há-de a outros se unir té ser chegado
che mai non empie la bramosa voglia,<br/>
Lebréu, que a leve à hórrida agonia.
e dopo 'l pasto ha più fame che pria.<br/>
 
“Por ouro ou por poder nunca tentado
Molti son li animali a cui s'ammoglia,<br/>
Saber, virtude, amor terá por norte,
e più saranno ancora, infin che 'l veltro<br/>
Sendo entre Feltro e Feltro potentado.<ref>''Entre Feltro e Feltro'', entre [[:w:Montefeltro|Montefeltro]] e [[:w:Feltro|Feltro]]. [N. T.]</ref>
verrà, che la farà morir con doglia.<br/>
 
“Será da humilde Itália amparo forte,
Questi non ciberà terra nè peltro,<br/>
Por quem Camila a virgem dera a vida,
ma sapienza, amore e virtute,<br/>
Turno Eurialo, Niso acharam morte.
e sua nazion sarà tra feltro e feltro.<br/>
 
“Por ele, em toda parte, repelida
Di quella umile Italia fia salute<br/>
Irá lançar-se no infernal assento,
per cui morì la vergine Cammilla,<br/>
Donde foi pela Inveja conduzida.
Eurialo e Turno e Niso di ferute.<br/>
 
“Agora, por teu prol, eu tenho o intento
Questi la caccerà per ogne villa,<br/>
De levar-te comigo; ir-te-ei guiando
fin che l'avrà rimessa ne lo 'nferno,<br/>
Pela estância do eterno sofrimento,
là onde 'nvidia prima dipartilla.<br/>
 
“Onde, estridentes gritos escutando,
Ond'io per lo tuo mè penso e discerno<br/>
Verás almas antigas em tortura
che tu mi segui, e io sarò tua guida,<br/>
Segunda morte a brados suplicando.
e trarrotti di qui per loco etterno,<br/>
 
“Outros ledos verás, que, em prova dura
ove udirai le disperate strida,<br/>
Das chamas, inda esperam ter o gozo
vedrai li antichi spiriti dolenti,<br/>
De Deus no prêmio da imortal ventura.
ch'a la seconda morte ciascun grida;<br/>
 
“Se lá subir quiseres, um ditoso
e vederai color che son contenti<br/>
Espírito, melhor te será guia,<ref>''Espirito melhor'', Beatriz, a mulher que Dante amou. [N. T.]</ref>
nel foco, perchè speran di venire<br/>
Quando eu deixar-te, ao reino glorioso.
quando che sia a le beate genti.<br/>
 
“Do céu o Imperador, a rebeldia
A le quai poi se tu vorrai salire,<br/>
Minha à lei castigando, não consente
anima fia a ciò più di me degna:<br/>
Que eu da cidade sua haja a alegria.
con lei ti lascerò nel mio partire;<br/>
 
“Em toda parte impera onipotente,
chè quello imperador che là sù regna,<br/>
Mas tem no Empíreo sua augusta sede:
perch'i' fù ribellante a la sua legge,<br/>
Feliz, por ele, o eleito à glória ingente!”
non vuol che 'n sua città per me si vegna.<br/>
 
&mdash; “Vate, rogo-te” — eu disse — “me concede,
In tutte parti impera e quivi regge<br/>
Por esse Deus, que nunca hás conhecido,
quivi è la sua città e l'alto seggio:<br/>
Porque este e maior mal de mim se arrede.
oh felice colui cù ivi elegge!>>.<br/>
 
“Que, até onde disseste conduzido,
E io a lui: <<Poeta, io ti richeggio<br/>
À porta de São Pedro eu vá contigo
per quello Dio che tu non conoscesti,<br/>
E veja os maus que houveste referido”.
acciò ch'io fugga questo male e peggio,br/>
 
Move-se o Vate então, após o sigo.
che tu mi meni là dov'or dicesti,<br/>
</poem>
sì ch'io veggia la porta di san Pietro<br/>
e color cui tu fai cotanto mesti>>.<br/>
 
== Notas ==
Allor si mosse, e io li tenni dietro.<br/>
<references />
|}
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|
| [[A Divina Comédia|Índice]]
| [[A Divina Comédia - Inferno, Canto 2|Canto 2]]
|}
 
[[Categoria:A Divina Comédia]]