A Divina Comédia (Xavier Pinheiro)/grafia atualizada/Inferno/II: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
remoção de texto em italiano; +barra de navegação; reformatação do texto em português; notas de rodapé
Linha 1:
{{navegar
<[[A Divina Comédia]]
|obra=[[A Divina Comédia]]
|autor=Dante Alighieri
|seção=[[A Divina Comédia/Inferno|Inferno]] &mdash; Canto II
|anterior=[[A Divina Comédia/Inferno/I|Canto I]]
|posterior=[[A Divina Comédia/Inferno/III|Canto III]]
|notas=Tradução de [[Autor:José Pedro Xavier Pinheiro|José Pedro Xavier Pinheiro]]
}}
 
''Depois da invocação às Musas, Dante, considerando a sua fraqueza, duvida de aventurar-se na viagem. Dizendo-lhe, porém, Virgílio, que era Beatriz quem o mandava, e que havia quem se interessava pela sua salvação, determina-se segui-lo e entra com o seu guia no difícil caminho.''
 
<poem>
Fora-se o dia; e o ar, se enevoando,
Aos animais, que vivem sobre a terra,
As fadigas tolhia; eu só, velando,
 
Me aparelhava a sustentar a guerra
{| width=100%"
Da jornada, assim como da piedade,
| width="55%"|<b>Tradução brasileira</b>
Que vai pintar memória, que não erra.
| width="45%"|<b>Original italiano</b>
|-
| valign="top"|<ul>
Fora-se o dia; e o ar, se enevoando,<br/>
Aos animais, que vivem sobre a terra,<br/>
As fadigas tolhia; eu só, velando,<br/>
 
Ó Musas! Ó do gênio potestade!
Me aparelhava a sustentar a guerra<br/>
Valei-me! Aqui, ó mente, que guardaste
Da jornada, assim como da piedade,<br/>
Quanto vi, mostra a egrégia qualidade.
Que vai pintar memória, que não erra.<br/>
 
“Poeta”, — assim falei, — “que começaste
Ó Musas! Ó do gênio potestade!<br/>
A guiar-me, vê bem se em mim persiste
Valei-me! Aqui, ó mente, que guardaste<br/>
Calor que, à empresa que me fias, baste.
Quanto vi, mostra a egrégia qualidade.<br/>
 
“Que o pai do Sílvio fora, referiste,<ref>''O pai de Sílvio'', [[:w:Enéias|Enéias]]. [N. T.]</ref>
“Poeta”, — assim falei, — “que começaste<br/>
Corrutível ainda, até o inferno
A guiar-me, vê bem se em mim persiste<br/>
Sem perder o que em corpo humano existe.
Calor que, à empresa que me fias, baste.<br/>
 
“Se do mal assim quis o imigo eterno,
“Que o pai do Sílvio fora, referiste,<br/>
Origem vendo nele do alto efeito,
Corrutível ainda, até o inferno<br/>
O que e o qual, segundo o que discerno,
Sem perder o que em corpo humano existe.<br/>
 
“Pela razão bem pode ser aceito;
“Se do mal assim quis o imigo eterno,<br/>
Que para Roma e o império se fundarem
Origem vendo nele do alto efeito,<br/>
Fora no céu por genitor eleito;
O que e o qual, segundo o que discerno,<br/>
 
“À qual e ao qual cabia aparelharem,
“Pela razão bem pode ser aceito;<br/>
Dizendo-se a verdade, o lugar santo
Que para Roma e o império se fundarem<br/>
Aos que do maior Pedro o sólio herdaram.
Fora no céu por genitor eleito;<br/>
 
“Nessa empresa, em que o hás louvado tanto,
“À qual e ao qual cabia aparelharem,<br/>
Cousas ouviu, de que surgiu motivo
Dizendo-se a verdade, o lugar santo<br/>
Ao seu triunfo e ao pontifício manto.
Aos que do maior Pedro o sólio herdaram.<br/>
 
“Lá foi o Vaso Eleito ainda vivo:<ref>''O Vaso'' — São Paulo que nos Atos dos Apóstolos é chamado o Vaso de eleição. [N. T.]</ref>
“Nessa empresa, em que o hás louvado tanto,<br/>
Conforto ia buscar, à fé, que à estrada
Cousas ouviu, de que surgiu motivo<br/>
Da salvação princípio é decisivo.
Ao seu triunfo e ao pontifício manto.<br/>
 
“Por que irei? Quem permite esta jornada?
“Lá foi o Vaso Eleito ainda vivo:<br/>
Enéias, Paulo sou? Essa ventura
Conforto ia buscar, à fé, que à estrada<br/>
Nem eu, nem outrem crê ser-me adatada.
Da salvação princípio é decisivo.<br/>
 
“Receio, pois seja ato de loucura,
“Por que irei? Quem permite esta jornada?<br/>
Se eu me resigno a cometer a empresa.
Enéias, Paulo sou? Essa ventura<br/>
Supre, és sábio, o que digo em frase escura”.
Nem eu, nem outrem crê ser-me adatada.<br/>
 
Como quem ora quer, ora despreza,
“Receio, pois seja ato de loucura,<br/>
Sua alma a idéias novas tem disposta,
Se eu me resigno a cometer a empresa.<br/>
Mostrando aos seus desígnios estranheza,
Supre, és sábio, o que digo em frase escura”.<br/>
 
Assim fiz eu na tenebrosa encosta,
Como quem ora quer, ora despreza,<br/>
Porque, pensando, abandonava o intento,
Sua alma a idéias novas tem disposta,<br/>
Formado à pressa, que ora me desgosta.
Mostrando aos seus desígnios estranheza,<br/>
 
“Do teu dizer se atinjo o entendimento”
Assim fiz eu na tenebrosa encosta,<br/>
— Do magnânimo a sombra me tornava, —
Porque, pensando, abandonava o intento,<br/>
“Eivado estás de ignóbil sentimento,
Formado à pressa, que ora me desgosta.<br/>
 
“Que do homem muita vez faz alma ignava,
“Do teu dizer se atinjo o entendimento”<br/>
Das honrosas ações o desviando,
— Do magnânimo a sombra me tornava, —<br/>
Qual sombra, que o corcel ao medo trava.
“Eivado estás de ignóbil sentimento,<br/>
 
“Desse temor livrar-te desejando,
“Que do homem muita vez faz alma ignava,<br/>
Por que vim te direi e quanto ouvido
Das honrosas ações o desviando,<br/>
Hei logo ao ver-te mísero lutando.
Qual sombra, que o corcel ao medo trava.<br/>
 
“No Limbo era suspenso: eis requerido
“Desse temor livrar-te desejando,<br/>
Por Dama fui tão bela, tão donosa,
Por que vim te direi e quanto ouvido<br/>
Que as ordens suas presto lhe hei pedido.
Hei logo ao ver-te mísero lutando.<br/>
 
“Brilhavam mais que a estrela radiosa
“No Limbo era suspenso: eis requerido<br/>
Os seus olhos; suave assim dizia
Por Dama fui tão bela, tão donosa,<br/>
De anjo com voz, falando-me piedosa:
Que as ordens suas presto lhe hei pedido.<br/>
 
— “De Mântua alma cortês, que inda hoje em dia
“Brilhavam mais que a estrela radiosa<br/>
No mundo gozas fama tão sonora,
Os seus olhos; suave assim dizia<br/>
Que, enquanto existir mundo, mais se amplia,
De anjo com voz, falando-me piedosa:<br/>
 
“Amigo meu, que a sorte desadora,
— “De Mântua alma cortês, que inda hoje em dia<br/>
Pela deserta falda indo, impedido
No mundo gozas fama tão sonora,<br/>
De medo, atrás os passos volta agora.
Que, enquanto existir mundo, mais se amplia,<br/>
 
“Temo que esteja tanto já perdido,
“Amigo meu, que a sorte desadora,<br/>
Que tarde eu tenha vindo a socorrê-lo,
Pela deserta falda indo, impedido<br/>
Pelo que lá no céu dele hei sabido.
De medo, atrás os passos volta agora.<br/>
 
“Parte, pois, e com teu discurso belo
“Temo que esteja tanto já perdido,<br/>
E quanto o salvar possa do perigo
Que tarde eu tenha vindo a socorrê-lo,<br/>
Lhe acode; e me console o teu desvelo.
Pelo que lá no céu dele hei sabido.<br/>
 
“Sou Beatriz, que envia-te ao que digo,
“Parte, pois, e com teu discurso belo<br/>
De lugar venho a que voltar desejo:
E quanto o salvar possa do perigo<br/>
Amor conduz-me e faz-me instar contigo.
Lhe acode; e me console o teu desvelo.<br/>
 
“Voltando ao meu Senhor, em todo o ensejo
“Sou Beatriz, que envia-te ao que digo,<br/>
Repetirei louvor, que hás merecido”. —
De lugar venho a que voltar desejo:<br/>
“Tornei-lhe, quando já calar-se a vejo:
Amor conduz-me e faz-me instar contigo.<br/>
 
— “Senhora da virtude, a quem tem sido<ref>''Senhora da virtude'', Beatriz simboliza a teologia. [N. T.]</ref>
“Voltando ao meu Senhor, em todo o ensejo<br/>
Dado só que proceda a espécie humana
Repetirei louvor, que hás merecido”. —<br/>
Quanto é no mundo sublunar contido,
“Tornei-lhe, quando já calar-se a vejo:<br/>
 
“Tanto praz-me a ordem que de ti dimana,
— “Senhora da virtude, a quem tem sido<br/>
Que, já cumprida, houvera inda demora:
Dado só que proceda a espécie humana<br/>
Em me abrir teu querer não mais te afana.
Quanto é no mundo sublunar contido,<br/>
 
“Tanto praz“Diz-me, aporém, ordempor que de tirazão, dimanaSenhora,<br/>
Baixar a este centro hás resolvido
Que, já cumprida, houvera inda demora:<br/>
Do céu, a que ardes por voltar agora”.
Em me abrir teu querer não mais te afana.<br/>
 
— “Se queres tanto ser esclarecido
“Diz-me, porém, por que razão, Senhora,<br/>
Eu te direi” — tornou-me — “frase breve
Baixar a este centro hás resolvido<br/>
Por que sem medo às trevas hei descido.
Do céu, a que ardes por voltar agora”.<br/>
 
“Somente as cousas recear se deve
— “Se queres tanto ser esclarecido<br/>
Que a outrem podem ser causa de dano
Eu te direi” — tornou-me — “frase breve<br/>
Não das mais: a temor a causa é leve.
Por que sem medo às trevas hei descido.<br/>
 
“De Deus favor criou-me soberano
“Somente as cousas recear se deve<br/>
Tal, que a vossa miséria não me empece
Que a outrem podem ser causa de dano<br/>
Nem deste incêndio assalta o fogo insano.
Não das mais: a temor a causa é leve.<br/>
 
“Nobre Dama há no céu, que compadece<ref>''Nobre Dama'', Maria, mãe de Jesus, símbolo da misericórdia divina. [N. T.]</ref>
“De Deus favor criou-me soberano<br/>
O mal, a que te envio; e tanto implora,
Tal, que a vossa miséria não me empece<br/>
Que lá decreto austero se enternece.
Nem deste incêndio assalta o fogo insano.<br/>
 
— “Volvendo-se a Luzia, assim a exora:<ref>''Luzia'', mártir e santa, símbolo da graça iluminante. [N. T.]</ref>
“Nobre Dama há no céu, que compadece<br/>
O“O mal, a que teteu envio;servo efiel tanto imploraperiga,<br/>
Que ao teu amparo o recomendo agora”. —
Que lá decreto austero se enternece.<br/>
 
“Luzia, sempre do que é mau imiga
— “Volvendo-se a Luzia, assim a exora:<br/>
Ergue-se e ao lugar foi, em que eu sentada
“O teu servo fiel tanto periga,<br/>
Ao lado estava de Raquel antiga.<ref>''Raquel'', filha de Labão e mulher do patriarca Jacó, simboliza a vida contemplativa. [N. T.]</ref>
Que ao teu amparo o recomendo agora”. —<br/>
 
“De Deus vero louvor!” — diz-me apressada —
“Luzia, sempre do que é mau imiga<br/>
“Por que não socorrer quem te amou tanto,
Ergue-se e ao lugar foi, em que eu sentada<br/>
Que só por ti deixou do vulgo a estrada?
Ao lado estava de Raquel antiga.<br/>
 
“Não lhe ouves, Beatriz, o amargo pranto?
“De Deus vero louvor!” — diz-me apressada —<br/>
Não vês que junto ao rio é combatido,
“Por que não socorrer quem te amou tanto,<br/>
Que ao pormar tinão deixoucorre, dopor vulgomortal a estradaespanto?<br/>” —
 
“Os danos, tão veloz, não tem fugido
“Não lhe ouves, Beatriz, o amargo pranto?<br/>
Ninguém, nem procurado o que deseja,
Não vês que junto ao rio é combatido,<br/>
Como eu, em tendo vozes tais ouvido;
Que ao mar não corre, por mortal espanto?” —<br/>
 
“O trono meu deixei, por que te veja,
“Os danos, tão veloz, não tem fugido<br/>
Fiada em teus discursos eloqüentes,
Ninguém, nem procurado o que deseja,<br/>
Honra tua e de quem te ouvindo esteja”. —
Como eu, em tendo vozes tais ouvido;<br/>
 
“Assim falava e os olhos fulgentes
“O trono meu deixei, por que te veja,<br/>
Com lágrimas a mim ela volvia,
Fiada em teus discursos eloqüentes,<br/>
Para apressar-me a vir assaz potentes.
Honra tua e de quem te ouvindo esteja”. —<br/>
 
“A ti vim, pois, como ela requeria;
“Assim falava e os olhos fulgentes<br/>
Da fera te livrei, que da colina
Com lágrimas a mim ela volvia,<br/>
Tão perto já, teus passos impedia.
Para apressar-me a vir assaz potentes.<br/>
 
“A“Que ti vimfazes, pois? Por que, comopor elaque requeria;<br/>domina
Tanta fraqueza o peito espavorido?
Da fera te livrei, que da colina<br/>
Por que ao valor tua alma não se inclina,
Tão perto já, teus passos impedia.<br/>
 
“Quando és pelas três santas protegido,
“Que fazes, pois? Por que, por que domina<br/>
Que na corte do céu por ti se esmeram,
Tanta fraqueza o peito espavorido?<br/>
E gozar tanto bem lhe é prometido?” —
Por que ao valor tua alma não se inclina,<br/>
 
Quais flores, que, fechadas, se abateram
“Quando és pelas três santas protegido,<br/>
Da noite ao frio, e, quando o sol aquece,
Que na corte do céu por ti se esmeram,<br/>
Erguem-se abertas na hástea, tais como eram,
E gozar tanto bem lhe é prometido?” —<br/>
 
Tal meu valor renova e fortalece.
Quais flores, que, fechadas, se abateram<br/>
Tanto ardimento o coração me aviva,
Da noite ao frio, e, quando o sol aquece,<br/>
Que exclamei, como quem jamais temesse:
Erguem-se abertas na hástea, tais como eram,<br/>
 
“Ó Dama em socorrer-me compassiva!
Tal meu valor renova e fortalece.<br/>
E tu, que a voz lhe ouvindo, obedeceste,
Tanto ardimento o coração me aviva,<br/>
Cortês ao rogo e com vontade ativa,
Que exclamei, como quem jamais temesse:<br/>
 
“Por teu dizer no peito me acendeste
“Ó Dama em socorrer-me compassiva!<br/>
Desejo tal de vir, que sou tornado
E tu, que a voz lhe ouvindo, obedeceste,<br/>
Ao propósito, a que antes me trouxeste.
Cortês ao rogo e com vontade ativa,<br/>
 
“Vai, pois nosso querer ’stá combinado.
“Por teu dizer no peito me acendeste<br/>
Serás meu guia, meu senhor, meu mestre!”
Desejo tal de vir, que sou tornado<br/>
Disse-lhe assim. Moveu-se ele; ao seu lado
Ao propósito, a que antes me trouxeste.<br/>
 
Pelo caminho entrei alto e silvestre.
“Vai, pois nosso querer ’stá combinado.<br/>
</poem>
Serás meu guia, meu senhor, meu mestre!”<br/>
Disse-lhe assim. Moveu-se ele; ao seu lado<br/>
 
== Notas ==
Pelo caminho entrei alto e silvestre.<br/>
<references />
</ul>
 
| valign="top"|<ul>
Lo giorno se n'andava, e l'aere bruno<br/>
toglieva li animai che sono in terra<br/>
da le fatiche loro; e io sol uno<br/>
 
m'apparecchiava a sostener la guerra<br/>
sì del cammino e sì de la pietate,<br/>
che ritrarrà la mente che non erra.<br/>
 
O muse, o alto ingegno, or m'aiutate;<br/>
o mente che scrivesti ciò ch'io vidi,<br/>
qui si parrà la tua nobilitate.<br/>
 
Io cominciai: «Poeta che mi guidi,<br/>
guarda la mia virtù s'ell' è possente,<br/>
prima ch'a l'alto passo tu mi fidi.<br/>
 
Tu dici che di Silvïo il parente,<br/>
corruttibile ancora, ad immortale<br/>
secolo andò, e fu sensibilmente.<br/>
 
Però, se l'avversario d'ogne male<br/>
cortese i fu, pensando l'alto effetto<br/>
ch'uscir dovea di lui, e 'l chi e 'l quale<br/>
 
non pare indegno ad omo d'intelletto;<br/>
ch'e' fu de l'alma Roma e di suo impero<br/>
ne l'empireo ciel per padre eletto:<br/>
 
la quale e 'l quale, a voler dir lo vero,<br/>
fu stabilita per lo loco santo<br/>
u' siede il successor del maggior Piero.<br/>
 
Per quest' andata onde li dai tu vanto,<br/>
intese cose che furon cagione<br/>
di sua vittoria e del papale ammanto.<br/>
 
Andovvi poi lo Vas d'elezïone,<br/>
per recarne conforto a quella fede<br/>
ch'è principio a la via di salvazione.<br/>
 
Ma io, perché venirvi? o chi 'l concede?<br/>
Io non Enëa, io non Paulo sono;<br/>
me degno a ciò né io né altri 'l crede.<br/>
 
Per che, se del venire io m'abbandono,<br/>
temo che la venuta non sia folle.<br/>
Se' savio; intendi me' ch'i' non ragiono».<br/>
 
E qual è quei che disvuol ciò che volle<br/>
e per novi pensier cangia proposta,<br/>
sì che dal cominciar tutto si tolle,<br/>
 
tal mi fec' ïo 'n quella oscura costa,<br/>
perché, pensando, consumai la 'mpresa<br/>
che fu nel cominciar cotanto tosta.<br/>
 
«S'i' ho ben la parola tua intesa»,<br/>
rispuose del magnanimo quell' ombra,<br/>
«l'anima tua è da viltade offesa;<br/>
 
la qual molte fïate l'omo ingombra<br/>
sì che d'onrata impresa lo rivolve,<br/>
come falso veder bestia quand' ombra.<br/>
 
Da questa tema acciò che tu ti solve,<br/>
dirotti perch' io venni e quel ch'io 'ntesi<br/>
nel primo punto che di te mi dolve.<br/>
 
Io era tra color che son sospesi,<br/>
e donna mi chiamò beata e bella,<br/>
tal che di comandare io la richiesi.<br/>
 
Lucevan li occhi suoi più che la stella;<br/>
e cominciommi a dir soave e piana,<br/>
con angelica voce, in sua favella:<br/>
 
"O anima cortese mantoana,<br/>
di cui la fama ancor nel mondo dura,<br/>
e durerà quanto 'l mondo lontana,<br/>
 
l'amico mio, e non de la ventura,<br/>
ne la diserta piaggia è impedito<br/>
sì nel cammin, che vòlt' è per paura;<br/>
 
e temo che non sia già sì smarrito,<br/>
ch'io mi sia tardi al soccorso levata,<br/>
per quel ch'i' ho di lui nel cielo udito.<br/>
 
Or movi, e con la tua parola ornata<br/>
e con ciò c'ha mestieri al suo campare,<br/>
l'aiuta sì ch'i' ne sia consolata.<br/>
 
I' son Beatrice che ti faccio andare;<br/>
vegno del loco ove tornar disio;<br/>
amor mi mosse, che mi fa parlare.<br/>
 
Quando sarò dinanzi al segnor mio,<br/>
di te mi loderò sovente a lui".<br/>
Tacette allora, e poi comincia' io:<br/>
 
"O donna di virtù sola per cui<br/>
l'umana spezie eccede ogne contento<br/>
di quel ciel c'ha minor li cerchi sui,<br/>
 
tanto m'aggrada il tuo comandamento,<br/>
che l'ubidir, se già fosse, m'è tardi;<br/>
più non t'è uo' ch'aprirmi il tuo talento.<br/>
 
Ma dimmi la cagion che non ti guardi<br/>
de lo scender qua giuso in questo centro<br/>
de l'ampio loco ove tornar tu ardi".<br/>
 
"Da che tu vuo' saver cotanto a dentro,<br/>
dirotti brievemente", mi rispuose,<br/>
"perch' i' non temo di venir qua entro.<br/>
 
Temer si dee di sole quelle cose<br/>
c'hanno potenza di fare altrui male;<br/>
de l'altre no, ché non son paurose.<br/>
 
I' son fatta da Dio, sua mercé, tale,<br/>
che la vostra miseria non mi tange,<br/>
né fiamma d'esto 'ncendio non m'assale.<br/>
 
Donna è gentil nel ciel che si compiange<br/>
di questo 'mpedimento ov' io ti mando,<br/>
sì che duro giudicio là sù frange.<br/>
 
Questa chiese Lucia in suo dimando<br/>
e disse: - Or ha bisogno il tuo fedele<br/>
di te, e io a te lo raccomando -.<br/>
 
Lucia, nimica di ciascun crudele,<br/>
si mosse, e venne al loco dov' i' era,<br/>
che mi sedea con l'antica Rachele.<br/>
 
Disse: - Beatrice, loda di Dio vera,<br/>
ché non soccorri quei che t'amò tanto,<br/>
ch'uscì per te de la volgare schiera?<br/>
 
Non odi tu la pieta del suo pianto,<br/>
non vedi tu la morte che 'l combatte<br/>
su la fiumana ove 'l mar non ha vanto? -.<br/>
 
Al mondo non fur mai persone ratte<br/>
a far lor pro o a fuggir lor danno,<br/>
com' io, dopo cotai parole fatte,<br/>
 
venni qua giù del mio beato scanno,<br/>
fidandomi del tuo parlare onesto,<br/>
ch'onora te e quei ch'udito l'hanno".<br/>
 
Poscia che m'ebbe ragionato questo,<br/>
li occhi lucenti lagrimando volse,<br/>
per che mi fece del venir più presto.<br/>
 
E venni a te così com' ella volse:<br/>
d'inanzi a quella fiera ti levai<br/>
che del bel monte il corto andar ti tolse.<br/>
 
Dunque: che è? perché, perché restai,<br/>
perché tanta viltà nel core allette,<br/>
perché ardire e franchezza non hai,<br/>
 
poscia che tai tre donne benedette<br/>
curan di te ne la corte del cielo,<br/>
e 'l mio parlar tanto ben ti promette?».<br/>
 
Quali fioretti dal notturno gelo<br/>
chinati e chiusi, poi che 'l sol li 'mbianca,<br/>
si drizzan tutti aperti in loro stelo,<br/>
 
tal mi fec' io di mia virtude stanca,<br/>
e tanto buono ardire al cor mi corse,<br/>
ch'i' cominciai come persona franca:<br/>
 
«Oh pietosa colei che mi soccorse!<br/>
e te cortese ch'ubidisti tosto<br/>
a le vere parole che ti porse!<br/>
 
Tu m'hai con disiderio il cor disposto<br/>
sì al venir con le parole tue,<br/>
ch'i' son tornato nel primo proposto.<br/>
 
Or va, ch'un sol volere è d'ambedue:<br/>
tu duca, tu segnore e tu maestro».<br/>
Così li dissi; e poi che mosso fue,<br/>
 
intrai per lo cammino alto e silvestro.
|}
{| width="100%" |
|
| [[A Divina Comédia|Índice]]
| [[A Divina Comédia - Inferno, Canto 3|Canto 3]]
|}
 
[[Categoria:A Divina Comédia]]