Por ti, América!: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m {{CopyrightDesconhecido}}
m Revertidas edições por 555, para a última versão por Davanessa
Linha 1:
==Coluna Sem Prestes==
{{CopyrightDesconhecido}}
 
===Alceu A. Sperança===
 
[[imagem: Cascavel - panorâmica ilustrativa.jpg]]
 
 
'''''Cascavel (PR)''''' - É impossível não admirar o povo paraguaio. Mesmo sofrendo massacres e horrendas pressões do imperialismo – hoje tem que suportar o bode malcheiroso em sua sala, mas vai vencer também essa – nossos irmãos do outro lado da fronteira conseguiram manter o Guarani como segundo idioma.
 
Nós, por aqui, temos mais de 200 línguas faladas no país, mas só respeitamos duas: o Português por obrigação legal e curricular e o Inglês por imposição do neocolonialismo cultural. Apesar de agora também haver gente se debruçando com gana e pressa sobre o Mandarim, para fazer negócios da China...
 
Fala-se na pátria tupiniquim nada menos que 180 línguas indígenas, além de cerca de outros 30 idiomas de imigrantes provenientes da Europa, Ásia, Oriente Médio e até de outros países do continente americano. Esse, pelo menos, foi o retrato mostrado pelo censo demográfico do IBGE relativo a 2000, desvelando uma nação multicultural.
 
Por isso se deve saudar a iniciativa feliz que levou um grupo de lingüistas do Museu Emílio Goeldi (Pará) a pesquisar cinco línguas indígenas brasileiras ameaçadas de extinção. Trata-se de cinco línguas do tronco Tupi a ser documentadas: Puruborá, Mekens, Ayuru, Mondé (de Rondônia) e Xipáya (do Pará). Feliz idéia do “governo Lula”, certo? Neca: o grupo está recebendo cerca de R$ 3 milhões para fazer a pesquisa, mas a grana está vindo da Inglaterra.
 
 
Diante do descaso que se vê no Brasil por essa ampla variedade de idiomas, não há como deixar de admirar ainda mais o sofrido Paraguai por ser o único país bilíngüe de todo o Mercosul. Assinale-se que foi o povo a cultivá-lo em seu coração, espírito e garganta, pois o governo paraguaio só nos últimos tempos tem manifestado cuidado com a valorização do idioma nativo.
 
== Portugueses falavam Tupi ==
 
Nas escolas paraguaias, o Guarani e o Espanhol já são ensinados em condições de igualdade. O idioma tem hoje cinco dialetos predominantes, dentre os quais o avá katu (que nós chamamos Avá-Guarani), dos índios que recentemente foram acusados de “invadir” o Parque Nacional do Iguaçu. Invasores de sua própria terra, pobres índios!
 
Vale dizer que o Paraguai é o único país que adota o Guarani oficialmente como idioma. Até essa nós perdemos: houve tempo, no Brasil, em que os portugueses chegavam e tinham que deixar a arrogância de lado para aprender o Tupi, pois do contrário não conseguiriam se comunicar com a população local. Mas um dia um fedorento bode exótico proibiu até os nativos de falar e estudar em seu idioma nativo: o Português se tornou idioma oficial único pela violência do decreto baixado em 1758 pelo cruel marquês de Pombal. O mandatário lusitano proibia, assim, o povo brasileiro de falar sua própria língua.
 
O Paraguai também teve duas versões próprias do terrível Pombal: nos tempos do ditador Carlos Antônio López (1844 a 1862), o caudilho de plantão hostilizava o Guarani e defendia o idioma castelhano. Outro ditador, o teimoso e empedernido Alfredo Stroessner, proibiu o povo de falar o Guarani – a seu ver, uma língua de “ignorantes”. Oh, yes, mister Brucutu!
 
Mas o povo paraguaio venceu e seu idioma é hoje motivo de orgulho, não de desonra. Todos os que se ergueram contra o Guarani e o povo que o fala passaram à história como ervas daninhas. O povo paraguaio e latino-americano, ao contrário, progressivamente começa a construir sua história com as próprias mãos. Supera assim séculos de maus tratos, uma exploração pertinaz e a rapina sistemática de seus recursos naturais.
 
Por mais que o povo sangre – e apesar das empulhações reinantes na política, na imprensa e na TV – um dia ele enterrará os que o fazem sangrar.
 
**
 
(Fonte: jornal '''O Paraná''', março de 2006)
 
Mais:
 
[http://pt.wikisource.org/wiki/ColunaSemPrestes Coluna Sem Prestes]