Primeiro prenúncio de trovoada de depois de amanhã: diferenças entre revisões

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|autor=Alberto Caeiro
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:Primeiro prenúncio de trovoada de depois de amanhã.
:As primeiras nuvens, brancas, pairam baixas no céu mortiço,
:Da trovoada de depois de amanhã?
:Tenho a certeza, mas a certeza é mentira.
:Ter certeza é não estar vendo.
:Depois de amanhã não há.
:O que há é isto:
:Um céu de azul, um pouco baço, umas nuvens brancas no horizonte,
:Com um retoque de sujo embaixo como se viesse negro depois.
:Isto é o que hoje é,
:E, como hoje por enquanto é tudo, isto é tudo.
:Quem sabe se eu estarei morto depois de amanhã?
:Se eu estiver morto depois de amanhã, a trovoada de depois de amanhã
:Será outra trovoada do que seria se eu não tivesse morrido.
:Bem sei que a trovoada não cai da minha vista,
:Mas se eu não estiver no mundo.
:O mundo será diferente —
:Haverá eu a menos —
:E a trovoada cairá num mundo diferente e não será a mesma trovoada.
 
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:Primeiro prenúncio de trovoada de depois de amanhã.
:As primeiras nuvens, brancas, pairam baixas no céu mortiço,
:Da trovoada de depois de amanhã?
:Tenho a certeza, mas a certeza é mentira.
:Ter certeza é não estar vendo.
:Depois de amanhã não há.
:O que há é isto:
:Um céu de azul, um pouco baço, umas nuvens brancas no horizonte,
:Com um retoque de sujo embaixo como se viesse negro depois.
:Isto é o que hoje é,
:E, como hoje por enquanto é tudo, isto é tudo.
:Quem sabe se eu estarei morto depois de amanhã?
:Se eu estiver morto depois de amanhã, a trovoada de depois de amanhã
:Será outra trovoada do que seria se eu não tivesse morrido.
:Bem sei que a trovoada não cai da minha vista,
:Mas se eu não estiver no mundo.
:O mundo será diferente —
:Haverá eu a menos —
:E a trovoada cairá num mundo diferente e não será a mesma trovoada.
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[[Categoria:Realismo português]]
[[Categoria:Poesia portuguesa]]
[[Categoria:Alberto Caeiro]]
[[Categoria:Fernando Pessoa]]