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Linha 622:
“Durante a noite de 4 para 5 o inimigo tentou várias vezes romper as nossas linhas, cessando apenas a fuzilaria por momentos, uma ou outra vez.
 
“Na manhã de 5, tendo cessado o fogo às 5 e 50 minutos, a jagunçada começou a fazer entrega de mulheres e crianças, em número superior a cem, algumas feridas, mais ou menos gravemente, porém todas famintas, sedentas, esquálidas, verdadeiras múmias ambulantes, caminhando com dificuldade, amparadas por soldados ou oficiais, que mesmo no meio do combate sabem mostrar a generosidade de um coração brasileiro.<refsup>Toda essa gente foi degolada. (Nota do autor)1</refsup>.
 
“O alferes Mangabeira, do 25 ou do 30, um destemido, cuja bravura tem tanta impetuosidade que chega a parecer doidice, ia e vinha trazendo duas mulheres pelas mãos, duas crianças nos ombros, outras pela frente andando com dificuldade, e tornava ao antro dos inimigos, intimando-os a que se entregassem, e eles, acocorados nos fossos, respondiam sempre que prefeririam morrer, mas não se entregavam.
Linha 634:
“O bravo major Frederico Lisboa de Mára, com o heróico 4º de infantaria do seu comando, ocupava a igreja nova, tendo até linha de atiradores no alto dos andaimes interiores, cujos soldados há 4 dias faziam fogo pelas seteiras e pequenas janelas superiores e inferiores do edifício, sempre a cavaleiro do inimigo.
 
“Havia na linha, junto à igreja, dous coronéis comandantes de brigada, Medeiros e Sampaio<refsup>2</sup>. Honro a este coronel. (Nota do autor).</ref>. Este é de opinião que se deixe o inimigo render-se ou morrer pela sede, aquele quer precipitar os acontecimentos. O coronel Sampaio, sentindo-se cansado e doente, retirou-se para a Fazenda Velha; ao meio dia mais ou menos, chega o tenente José Antonio Dourado, do 22º, ajudante de ordens do general Arthur Oscar, com sete bombas de dinamite, e, combinado com o coronel Medeiros, lança a primeira bomba à 1 hora da tarde, no covil dos conselheiristas, seguindo-se outras pelo alferes Matos Costa, do 29, um rapaz valente e ousado.
 
“O coronel Medeiros, que então agia desembaraçadamente, com valor e entusiasmo, resolveu mandar uma última intimação ao inimigo para que se rendesse escolhendo o alferes Alfredo Rodrigues da Silva e o sargento Ildefonso Toletano de Araújo, todos do 22º, que prontamente saltaram as trincheiras e internaram-se no recinto ocupado pelo inimigo, acompanhados de um cabo e um soldado.
Linha 668:
“Canudos era uma vasta fogueira! As ruas estavam tapetadas por milhares de cadáveres!...
 
“O primeiro general que chegou foi o bravo general Barbosa, sendo vivamente vitoriado. Quando chegou o general Arthur, foi este espontaneamente aclamado o primeiro herói da República!<refsup>Pobre República! Que tem como primeiro herói um homem tal. (Nota do autor).3</refsup>
 
“Enquanto todos nos confundíamos em abraços e manifestações de alegria, congratulando-nos uns com os outros, o general em chefe, que sabia da morte do Antonio Conselheiro, mandava a distinta comissão de engenheiros que fizesse remover o entulho do santuário a fim de se descobrir a sepultura do homem sertanejo e inculto que, habilmente fanatizando uma grande parte de seus concidadãos, abalou no fim deste século o seu país inteiro.
Linha 919:
Setembro de 1899.
WOLSEY
 
=== Notas ===
1 Toda essa gente foi degolada (Nota do autor).
2 Honro a este coronel (Nota do autor).
3 Pobre República! Que tem como primeiro herói um homem tal (Nota do autor).