Cantiga de esponsaes: diferenças entre revisões

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Mateus Hidalgo (discussão | contribs)
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m -cat; a data era da compilação, não tenho data para a publicação original deste
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Sentou-se ao cravo; reproduziu as notas e chegou ao ''lá''....
 
''''Lá, lá, lá...''
 
Nada, não passava adiante. E contudo, ele sabia música como gente.
 
''''Lá, dó... lá, mi... lá, si, dó, ré... ré... ré...''
 
Impossível! nenhuma inspiração. Não exigia uma peça profundamente original, mas enfim alguma coisa, que não fosse de outro e se ligasse ao pensamento começado. Voltava ao princípio, repetia as notas, buscava reaver um retalho da sensação extinta, lembrava-se da mulher, dos primeiros tempos. Para completar a ilusão, deitava os olhos pela janela para o lado dos casadinhos. Estes continuavam ali, com as mãos presas e os braços passados nos ombros um do outro; a diferença é que se miravam agora, em vez de olhar para baixo. Mestre Romão, ofegante da moléstia e de impaciência, tornava ao cravo; mas a vista do casal não lhe suprira a inspiração, e as notas seguintes não soavam.
 
''''Lá... lá... lá...''
 
Desesperado, deixou o cravo, pegou do papel escrito e rasgou-o. Nesse momento, a moça embebida no olhar do marido, começou a cantarolar à toa, inconscientemente, uma coisa nunca antes cantada nem sabida, na qual coisa um certo ''lá'' trazia após si uma linda frase musical, justamente a que mestre Romão procurara durante anos sem achar nunca. O mestre ouviu-a com tristeza, abanou a cabeça, e à noite expirou.
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