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Revisão das 18h08min de 24 de junho de 2010

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sombra dos graves pensamentos que a opprimiam, sacudiu a cabeça suspirando, e procurou serenar o espirito, para dormir.

—É necessario ter juizo—murmurava ella, soltando as tranças—e soprar quanto antes estes nevoeiros que me rodeiam, para vêr, como elle é, o sol da realidade. É tempo de me deixar de loucuras, e de aceitar a vida que tenho a viver, como ella deve ser aceita por uma mulher como eu. Os annos de criança passaram.

E adormeceu n'esta prudente e ajuizada resolução.

Assim como a luz, que, por entre as trevas da noite, rompia de uma das janellas da Casa Mourisca, tivera quem a observasse e prendesse a ella uma longa serie de pensamentos; tambem a do quarto de Bertha não se perdêra no espaço, sem encontrar uns olhos que lhe recolhessem alguns raios na passagem.

Jorge era quem velava no unico aposento alumiado do velho solar do fidalgo.

Costumava prolongar a sua leitura e os seus estudos por altas horas da noite, interrompendo-os de quando em quando por demorados passeios no quarto, ou melhor diremos, continuando-os assim.

Era d'elle o vulto que Bertha via passar por diante da luz, occultando-a momentaneamente.

Esta noite havia porém mais agitação em Jorge do que lhe era habitual; os seus movimentos tinham o que quer que era nervoso e quasi febril; concentrava menos o espirito na leitura, e interrompia-a mais frequentemente.

As vigilias de Mauricio não eram mais curtas do que as de Jorge, mas consagravam-se a differente mister; gastavam-se em aventurosas digressões pelos montados e valles da aldeia, em visitas aos solares das circumvisinhanças, onde houvesse uma mesa de wist ou um canto de fogão, animado pelo sorriso das damas.

Quando voltava a casa, vinha ainda encontrar o irmão estudando, e era de costume d'elles passarem alguns momentos a conversar.

N'aquella noite, Mauricio recolheu-se muito tarde. Ao sentil-o, Jorge, que passeiava no quarto, sentou-se