O Crime do Padre Amaro/V: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Adição de links.
Adição de links.
Linha 31:
À noite havia reuniões: vinha o padre Valente; o cônego Cruz; e um velhito calvo, de perfil de pássaro, com óculos azuis, que fora frade franciscano e a quem chamavam frei André. Vinham as amigas da mãe, com as suas ''meias''; e um capitão Couceiro, de caçadores, que tinha os dedos negros do cigarro e trazia sempre a sua viola. Mas às nove horas mandavam-na deitar; pela [[wikt:frincha|frincha]] do quarto ela via a luz, ouvia as vozes; depois fazia-se um silêncio, e o capitão, repenicando a guitarra, cantava o ''lundum da Figueira''.
 
Foi assim crescendo entre padres. Mas alguns eram-lhe antipáticos: sobretudo o padre Valente, tão gordo, tão suado, com umas mãos papudas e moles, de unhas pequenas! Gostava de a ter entre os joelhos, torcer-lhe devagarinho a orelha, e ela sentia o seu hálito impregnado de cebola e de cigarro. O seu amiguinho era o cônego Cruz, magro, com o cabelo todo branco, a volta sempre [[wikt:assear|asseada]], as fivelas luzidias; entrava devagarinho, cumprimentando com a mão sobre o peito, e uma voz suave cheia de ss. Já então sabia o catecismo e a doutrina: na mestra, em casa, por qualquer "bagatela", falavam-lhe sempre dos castigos do Céu; de tal sorte que Deus aparecia-lhe como um ser que só sabe dar o sofrimento e a morte, e que é necessário abrandar, rezando e jejuando, ouvindo novenas, animando os padres. Por isso, se às vezes ao deitar lhe esquecia uma Salve-Rainha, fazia penitência no outro dia, porque temia que Deus lhe mandasse sezões ou a fizesse cair na escada.
 
Mas o seu melhor tempo foi quando começou a tomar lições de música. A mãe tinha na sala de jantar, ao canto, um velho piano, coberto com um pano verde, tão desafinado, que servia de aparador. Amélia costumava cantarolar pela casa; e a sua voz fina e fresca agradava ao senhor chantre, e as amigas da mãe diziam-lhe:
Linha 37:
— Tu tens aí um piano, por que não mandas ensinar a rapariga? Sempre é uma prenda! olha que lhe pode servir de muito!
 
O chantre conhecia um bom mestre, antigo organista da [[w:Sé de Évora|Sé de Évora]], extremamente infeliz: a filha única, muito linda, fugira-lhe com um [[wikt:alferes|alferes]] para Lisboa; e, passados dois anos, o Silvestre da Praça, que ia muito à capital, vira-a descer a Rua do Norte, de ''[[wikt:garibaldi|garibaldi]]'' escarlate e alvaiade num olho, com um marinheiro inglês. O velho caíra em grande melancolia e grande miséria; e por piedade tinham-lhe dado um emprego no cartório da câmara eclesiástica. Era uma figura triste de romance picaresco. Muito magro, alto como um pinheiro, deixava crescer até os ombros os seus cabelos brancos e finos; os olhos, cansados, lagrimejavam-lhe sempre; mas o seu sorriso [[wikt:resignado|resignado]] e bom enternecia: e parecia muito transido, no seu capote cor de vinho que só lhe chegava à cintura e que tinha uma gola de astracã. Chamavam-lhe o ''Tio Cegonha'', pela sua alta magreza e o seu ar solitário. Amélia um dia tinha-lhe chamado ''Tio Cegonha''; mas mordeu logo o beiço, toda envergonhada.
 
O velho pôs-se a sorrir:
Linha 43:
— Ai, chame, minha rica menina, chame! ''Tio Cegonha''?... ora, que tem? Cegonha sou eu, e bem cegonha!
 
Era então no Inverno. As grandes chuvas com os sudoestes não cessavam; a áspera estação oprimia os pobres. Viam-se naquele ano famílias esfomeadas indo à câmara pedir pão. O ''Tio Cegonha'' vinha sempre ao meio-dia dar a lição; o seu guarda-chuva azul deixava um [[wikt:ribeiro|ribeiro]] na escada; [[wikt:tiritava|tiritava]]; e quando se sentava escondia, na sua vergonha de velho, as botas encharcadas com a sola aberta. Queixava-se sobretudo do frio das mãos, que o impedia de [[wikt:ferir|ferir]] com justeza o teclado, e não o deixava escrever no cartório.
 
— Prendem-se-me os dedos, dizia tristemente.
Linha 87:
Sentiram-se os passos da mãe; e Amélia, retomando gravemente a atitude de lição, começou a solfejar alto, com um ar profundo.
 
E desde esse dia tanto pediu, tanto exclamou, que levou a mãe a dar de almoçar e de jantar ao ''Tio Cegonha'' nos dias de lição. Assim se estabeleceu entre ela e o velho uma grande intimidade. E o pobre ''Tio Cegonha'', saindo do seu frio isolamento, acolhia-se àquela amizade inesperada, como a um conchego [[wikt:tépido|tépido]]. Encontrava nela o elemento feminino que amam os velhos, com as carícias, as suavidades de voz, as delicadezas de enfermeira; achava nela a única admiradora da sua música; e via-a sempre atenta às histórias do seu tempo, às recordações da velha Sé de Évora que ele amava tanto, e que lhe fazia dizer, quando se falava de procissões, ou de festas de igreja:
 
— Para isso Évora! em Évora é que é!
Linha 95:
— Coisa mais linda! dizia.
 
Mas o ''Tio Cegonha'' só conhecia a música clássica, árias ingênuas e doces de Lully, [[wikt:motivo|motivos]] de [[wikt:minuete|minuetes]], motetes floridos e piedosos dos doces tempos freiráticos.
 
Uma manhã o ''Tio Cegonha'' encontrou Amélia muito amarela e triste. Desde a véspera queixava-se de "mal-estar". Era um dia nublado, muito frio. O velho queria ir-se embora.
Linha 127:
E o velho, comovido, repetiu no piano as notas plangentes da ''Meditação'' em ré menor.
 
Amélia todo o dia pensou naquela história. De noite veio-lhe uma grande febre, com sonhos espessos, em que dominava a figura do frade franciscano, na sombra do órgão da Sé de Évora. Via os seus olhos profundos reluzirem numa face encovada: e, longe, a freira pálida, nos seus hábitos brancos, encostada ásàs grades negras do mosteiro, sacudida pelos prantos do amor! Depois, no longo [[wikt:claustro|claustro]], a ala dos frades franciscanos caminhava para o coro: ele ia no fim de todos, curvado, com o capuz sobre o rosto, arrastando as sandálias, enquanto um grande sino, no ar nublado, tocava o [[wikt:dobre|dobre]] dos finados. Então o sonho mudava: era um vasto céu negro, onde duas almas enlaçadas e amantes, com hábitos de convento e um ruído [[wikt:inefável|inefável] de beijos insaciáveis, giravam, levadas por um vento místico; mas desvaneciam-se como névoas, e na vasta escuridão ela via aparecer um grande coração em carne viva, todo traspassado de espadas, e as gotas de sangue que caíam dele enchiam o céu duma chuva escarlate.
Ao outro dia a febre acalmou. O doutor Gouveia tranqüilizoutranquilizou a S. Joaneira com uma simples palavra:
— Nada de sustos, minha rica senhora, são os quinze anos da rapariga. Hão-de-lhe vir amanhã as vertigens e os enjôos... Depois acabou-se. Temo-la mulher.
 
Linha 135:
— Esta rapariga tem o sangue vivo e há-de ter as paixões fortes! acrescentou o velho prático, sorrindo e sorvendo a sua pitada.
 
Por esse tempo o senhor chantre, uma manhã, depois do seu almoço de [[wikt:açorda|açorda]], caiu de repente morto com uma [[wikt:apoplexia|apoplexia]]. Que consternação inesperada, para a S. Joaneira! Durante dois dias, esguedelhada, em saias brancas chorou, gemeu pelos quartos. D. Maria da Assunção, as senhoras Gansosos vieram acalmar, amansar a sua dor: e a Sra. D. Josefa Dias resumiu as consolações de todos, dizendo:
 
— Deixa, filha, que te não há-de faltar quem te ampare!
Linha 147:
— Ah, minha rica! a gente é pela amizade que lhes ganha.
 
Amélia tinha então quinze anos, mas era já alta e de bonitas formas. Foi uma alegria para ela a estação na Vieira! Nunca vira o mar; e não se fartava de estar sentada na areia, fascinada pela vasta água azul, muito mansa, cheia de sol; às vezes no horizonte passava um fumo delgado de [[wikt:paquete|paquete]]; a monótona e gemente cadência da vaga adormentava-a; e em redor o areal faiscava, a perder de vista, sob o céu azul-ferrete.
 
Como se lembrava bem! Logo pela manhã estava a pé! Era a hora do banho: as barracas de lona alinhavam-se ao comprido da praia; as senhoras, sentadas em cadeirinhas de pau, de sombrinhas abertas, olhavam o mar, palrando; os homens, de sapatos brancos estendidos em esteiras, chupavam o cigarro, riscavam emblemas na areia; enquanto o poeta Carlos Alcoforado, muito fatal, muito olhado, passeava só, [[wikt:soturno|soturno]], junto da vaga, seguido do seu Terra-Nova. Ela saía então da barraca com o seu vestido de flanela azul, a toalha no braço, tiritando de susto e de frio: tinha— -se persignado às escondidas e toda trêmula, agarrada à mão do banheiro, escorregando na areia, entrava na água, rompendo a custo a maresia esverdeada que fervia em redor. A onda vinha espumando, ela mergulhava, e ficava aos saltos, sufocada e nervosa, cuspindo a água salgada. Mas, quando saía do mar, como vinha satisfeita! Arfava, com a toalha pela cabeça, arrastando-se para a barraca, mal podendo com o peso do vestido encharcado, risonha, cheia de reação; e em redor vozes amigas perguntavam:
 
— Então que tal, que tal? Mais fresquinha, hem?
 
Depois, de tarde, eram os passeios à beira-mar, a apanhar conchinhas; o recolher das redes, onde a sardinha toda viva ferve aos milheiros, luzidia sobre a areia molhada; e que longas perspectivas de [[wikt:ocaso|ocasos]] ricamente dourados, sobre a vastidão do mar triste, que escurece e geme!
 
D. Maria da Assunção tinha sido visitada, logo ao chegar, por um rapaz, filho do Sr. Brito de Alcobaça, seu parente. Chamava-se Agostinho, ia freqüentarfrequentar o quinto ano de direito na Universidade. Era um moço delgado, de bigode castanho, pêrapera, cabelo comprido deitado para trás, e luneta: recitava versos, sabia tocar guitarra, contava anedotas de [[wikt:caloiro|caloiros]], fazia ''partidas'', e era famoso na Vieira, entre os homens, "por saber conversar com senhoras".
 
— O Agostinho, [[wikt:patife|patife]]! diziam. É chalaça a esta, chalaça àquela. Lá para sociedade não há outro!
 
Logo desde os primeiros dias Amélia reparou que os olhos do Sr. Agostinho Brito se fitavam constantemente nela, "p'ra namoro". Amélia corava muito, sentia o seio alargar-se-lhe dentro do vestido; e admirava-o, achava-o muito "dengueiro".
Linha 187:
</poem>
 
&mdash; Perdão, exclamou o recebedor, a Sra. D. Juliana não está boa. Era a filha do escrivão de direito de Alcobaça; tinha-se feito muito pálida, e, lentamente, desmaiava na cadeira, com os braços pendentes, o queixo sobre o peito. Borrifaram-na de água, levaram-na para o quarto de Amélia; quando lhe desapertaram o vestido e lhe deram vinagre a respirar, ergueu&mdash; -se sobre o cotovelo, olhou em redor, começaram a tremer-lhe os beiços e rompeu a chorar. Fora, os homens em grupo comentavam:
&mdash; Foi o calor, diziam.
 
Linha 218:
&mdash; Quem é? É a Sra. D. Bernarda?
 
Era uma velha [[wikt:hediondo|hedionda]], viúva de um coronel.
 
&mdash; É, disse ele rindo. É justamente por quem eu ando apaixonado é pela D. Bernarda.
 
&mdash; Ah! o senhor anda apaixonado! disse ela devagar, com os olhos baixos, riscando a areia.
 
&mdash; Diga-me uma coisa, está a mangar comigo? exclamou Agostinho puxando por uma cadeirinha, sentando-se junto dela.
 
Linha 243 ⟶ 244:
As palavras de Agostinho eram agora muito secas.
 
&mdash; Zangou-se? disse ela docemente, pondo-lhe de leve a mão no ombro. Agostinho ergueu os olhos, e vendo o bonito rosto [[wikt:trigueiro|trigueiro]], todo risonho, &mdash; exclamou com [[wikt:veemência|veemência]]:
 
&mdash; Estou mesmo doido por si!
Linha 300 ⟶ 301:
&mdash; Há uma aberta. É andar! é andar!
 
E Amélia, desprendendo-se, [[wikt:atarantado|atarantada]], correu a agachar-se sob o guarda-chuva da mamã.
 
Ao outro dia, com efeito, o Sr. Agostinho partiu. Vieram as primeiras chuvas, e dentro em pouco também Amélia, a mãe, a Sra. D. Maria da Assunção voltaram para Leiria.
Linha 308 ⟶ 309:
E um dia, em casa da S. Joaneira, D. Maria da Assunção deu parte que o Agostinho Brito, segundo lhe escreviam de Alcobaça, tinha o casamento justo com a menina do Vimeiro.
 
&mdash; [[wikt:cáspite|Cáspite]]! exclamou D. Joaquina Gansoso, apanha nada menos que os seus trinta contos! Olha o meco!
 
E diante de todos Amélia rompeu a chorar.
Linha 314 ⟶ 315:
Amava Agostinho; e não podia esquecer aqueles beijos de noite no pinheiral cerrado. Pareceu-lhe então que não tornaria a ter alegria! Ainda lembrada daquele moço da história do ''Tio Cegonha'', que por amor se escondera na solidão de um convento, começou a pensar em ser freira: deu-se a uma forte devoção, manifestação exagerada das tendências que desde pequenina as convivências de padres tinham lentamente criado na sua natureza sensível; lia todo o dia livros de rezas; encheu as paredes do quarto de litografias coloridas de santos; passava longas horas na igreja, acumulando Salve-Rainhas à Senhora da Encarnação. Ouvia todos os dias missa, quis comungar todas as semanas &mdash; e as amigas da mãe achavam-na "um modelo, de dar virtude a incrédulos" !
 
Foi por esse tempo que o cônego Dias e sua irmã, a Sra. D. Josefa Dias, começaram a freqüentarfrequentar a casa da S. Joaneira. Dentro em pouco o cônego tornou-se o "amigo da família". Depois do almoço era certo com a sua cadelinha, como outrora o chantre com o seu guarda-chuva.
 
&mdash; Tenho-lhe muita amizade, faz-me muito bem, dizia a S. Joaneira. Mas o senhor chantre não há dia nenhum que me não lembre dele!
Linha 320 ⟶ 321:
A irmã do cônego tinha então organizado com a S. Joaneira a ''Associação das Servas da Senhora da Piedade''. A Sra. D. Maria da Assunção, as Gansosos "filiaram-se"; e a casa da S. Joaneira tornou-se um centro eclesiástico. Foi esse o momento melhor da vida da S. Joaneira; "a Sé, como dizia com tédio o Carlos da botica, era agora na Rua da Misericórdia". Parte dos cônegos, o novo chantre, vinham todas as sextas-feiras. Havia imagens de santos na sala de jantar e na cozinha. As criadas, por escrúpulo, eram examinadas em doutrina antes de serem aceitas. Ali muito tempo fizeram-se as reputações: se se dizia de um homem: ''não é temente a Deus'', havia o dever de o desacreditar santamente. As nomeações de sineiros, coveiros, serventes de sacristia arranjavam-se ali por intrigas sutis e palavras piedosas. Tinham tomado um certo vestuário entre o preto e o roxo; toda a casa cheirava a cera e a incenso; e a S. Joaneira, mesmo, monopolizara o comércio das hóstias.
 
Assim passaram anos. Pouco a pouco, porém, o grupo devoto dispersou-se: a ligação do cônego Dias e da S. Joaneira, muito comentada, afastou os padres do cabido; o novo chantre morrera de apoplexia também &mdash; como era de tradição naquela diocese, fatal aos chantres; e já não eram divertidos os quinos das sextas-feiras. Amélia mudara muito; crescera: fizera-se uma bela moça de vinte e dois anos, de olhar aveludado, beiços muito frescos &mdash; e achava a sua paixão pelo Agostinho uma "tontice de criança". A sua devoção subsistia, mas alterada: o que amava agora na religião e na igreja era o aparato, a festa &mdash; as belas missas cantadas ao órgão, as capas recamadas de ouro, reluzindo entre os tocheiros, o altar-mor na glória das flores cheirosas, o roçar das correntes dos incensadores de prata, os uníssonos que rompem briosamente no coro das aleluias. Tomava a Sé como a sua Ópera: Deus era o seu luxo. Nos domingos de missa gostava de se vestir, de se perfumar com água-de-colônia, de se ir aninhar sobre o tapete do altar-mor, sorrindo ao padre Brito ou ao cônego Saldanha. Mas em certos dias, como dizia a mãe, "murchava"; voltavam então os abatimentos de outrora, que a amarelavam, lhe punham duas rugas velhas ao canto dos lábios: tinha nessas ocasiões horas duma vaga saudade [[wikt:parvo|parva]] e mórbida, em que a consolava cantar pela casa o Santíssimo ou as notas lúgubres do toque da Agonia. Com a alegria voltava-lhe o rosto do culto alegre &mdash; e lamentava então que a Sé fosse uma ampla estrutura de pedra dum estilo frio e jesuítico: quereria uma igreja pequenina, muito dourada, tapetada, forrada de papel, iluminada a gás; e padres bonitos oficiando a um altar ornado como uma ''[[wikt:étagère|étagère]]''.
 
Fizera vinte e três anos quando conheceu João Eduardo no dia da procissão de ''Corpus-Christi'', em casa do tabelião Nunes Ferral, onde ele era escrevente. Amélia, a mãe, a Sra. D. Josefa Dias tinham ido ver a procissão da bela varanda do tabelião, guarnecida de colchas de damasco amarelo. João Eduardo estava lá, modesto, sério, todo vestido de preto. Havia muito que Amélia o conhecia; mas naquela tarde, reparando na brancura da sua pele e na gravidade com que ajoelhava, pareceu-lhe "muito bom rapaz".
 
À noite, depois do chá, o gordalhufo Nunes, de colete branco, foi pela sala exclamando, entusiasmado, com a sua voz de grilo: &mdash; É tirar pares, é tirar pares! &mdash; enquanto a filha mais velha ao piano tocava com [[wikt:brio|brio]] estridente uma mazurca francesa. João Eduardo aproximou-se de Amélia:
 
&mdash; Ai, eu não danço! &mdash; disse ela logo com ar seco.
 
João Eduardo não dançou também; foi encostar-se a uma ombreira com a mão na abertura do colete, os olhos fitos em Amélia. Ela percebia, desviava o rosto, mas estava contente; e quando João Eduardo, vendo uma cadeira vazia, veio sentar-se ao pé dela, Amélia fez-lhe logo lugar acomodando os [[wikt:folhos|folhos]] de seda, agradada. O escrevente, embaraçado, torcia o bigode com a mão trêmula. Por fim Amélia voltando-se para ele:
 
&mdash; Então o senhor não dança também?
Linha 354 ⟶ 355:
&mdash; É porque me interesso por si.
 
&mdash; Ora, deixe lá! disse ela fazendo um [[wikt:indolente|indolente]] gesto de negativa.
 
&mdash; Palavra!