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A S. Joaneira, então, que não gostava de "ver gente mona", propunha uma ''bisca'' de três; e o padre Amaro, tomando o seu candeeiro de latão, descia para o quarto, muito infeliz.
Nessas noites quase detestava Amélia; achava-a ''[[wikt:casmurra|casmurra]]''. A intimidade do escrevente na casa parecia-lhe escandalosa: decidiu mesmo falar
— Pois que casem, e que os leve o diabo!...
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— Tonta de rapariga! pensou Amaro, foi à fonte e esqueceu-se de fechar a porta.
Lembrou-se que Amélia tinha ido passar a tarde com a Sra. D. Joaquina Gansoso, numa fazenda ao pé da Piedade, e que a S. Joaneira falara em ir à irmã do cônego. Fechou devagar a cancela, subiu à cozinha a acender o seu candeeiro; como as ruas estavam molhadas da chuva da manhã, trazia ainda galochas de borracha; os seus passos não faziam rumor no soalho; ao passar diante da sala de jantar sentiu no quarto da S. Joaneira, através do reposteiro de chita, uma tosse grossa; surpreendido, afastou sutilmente um lado do reposteiro, e pela porta entreaberta espreitou. — Oh Deus de Misericórdia! a S. Joaneira, em saia branca, atacava o colete; e, sentado à beira da cama, em mangas de camisa, o cônego Dias [[wikt:resfolegar|resfolegava]] grosso!
Amaro desceu, colado ao corrimão, fechou muito devagarinho a porta, e foi ao acaso para os lados da Sé. O céu enevoara-se, leves gotas de chuva caíam.
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— E esta! E esta! dizia ele assombrado.
Nunca suspeitara um tal escândalo! A S. Joaneira, a pachorrenta S. Joaneira! O cônego, seu mestre de Moral! E era um velho, sem os ímpetos do sangue novo, já na paz que lhe deveriam ter dado a idade, a nutrição, as dignidades eclesiásticas! Que faria então um homem novo e forte, que sente uma vida abundante no fundo das suas veias reclamar e arder!... Era, pois, verdade o que se cochichava no seminário, o que lhe dizia o velho padre Sequeira,
Vinham-lhe então outras reflexões: que gente era aquela, a S. Joaneira e a filha, que viviam assim sustentadas pela lubricidade tardia de um velho cônego? A S. Joaneira fora decerto bonita, bem-feita, desejável — outrora! Por quantos braços teria passado até chegar, pelos declives da idade, àqueles amores [[wikt:senil|senis]] e mal pagos? As duas mulherinhas, que diabo, não eram honestas! Recebiam hóspedes, viviam da [[wikt:concubina|concubinagem]]. Amélia ia sozinha à igreja, às compras, à fazenda; e com aqueles olhos tão negros, talvez já tivesse tido um amante! — Resumia, filiava certas recordações: um dia que ela lhe estivera mostrando na janela da cozinha um vaso de rainúnculos, tinham ficado sós, e ela, muito corada, pusera-lhe a mão sobre o ombro e os seus olhos reluziam e pediam; outra ocasião ela roçara-lhe o peito pelo braço! A noite caíra, com uma chuva fina. Amaro não a sentia, caminhando depressa, cheio de uma só idéia deliciosa que o fazia tremer: ser o amante da rapariga, como o cônego era o amante da mãe! Imaginava
A chuva caía, grossa. Quando entrou havia já luz na sala de jantar. Subiu.
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