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Revisão das 09h48min de 17 de outubro de 2010
—Queres verificar? Apaguemos a luz e veremos o resultado.
Mauricio condescendeu.
A unica janella alumiada da Casa Mourisca envolveu-se nas trevas da noite.
Como o leitor já sabe, Bertha, por um motivo differente do insinuado por Jorge, apagou tambem pouco depois a luz do seu quarto. —Eu que dizia?—exclamou Jorge, rindo triumphantemente, mas como se aquelle rir lhe fizesse mal.
—Pois bem; se adivinhaste, tanto melhor—disse Mauricio, despeitado.
—Tanto melhor?!
—Sim. Porque não hei de eu vêr, n'este proposito de acompanhar a nossa vigilia, uma prova de sympathia pelo companheiro de infancia que hoje tornou a vêr?
—Ah! ah! Pensas n'isso?
—Porque não? Olha, Jorge, a mulher sem as fraquezas do coração proprias do sexo não é uma mulher perfeita. Eu, se visse anjos cá por este mundo, anjos puros, correctos, impeccaveis; tirava-lhes reverente o chapéo, benzia-me diante d'elles, rezava-lhes uma oração, mas afianço-te que não os amava.
—Boa noite, Mauricio. Olha que são duas horas.
—Adeus, Jorge.
—Não sonhes com Bertha.
—Não sonhes tu com a arithmetica, que é peior pesadêlo.
E os dois irmãos separaram-se, rindo.
A ambos dominou por muito tempo a imagem de Bertha.
Jorge passou uma noite febril. Tentava desfavorecer Bertha, quanto podia, no proprio conceito, esforçando-se por convencer-se de tudo quanto a respeito d'ella dissera ao irmão, para diminuir assim a impressão, que, a seu pesar, conservava ainda da imagem da rapariga.
Mauricio dera-lhe a entender que Bertha fôra sensivel ao seu galanteio, e esta ideia torturava o espirito de Jorge.
OS FIDALGOS - VOL.1.
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