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Revisão das 09h54min de 17 de outubro de 2010

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—Eu vou accender o candieiro no quarto—acrescentou Luiza, que sahiu a preparar a sala das conferencias.

Pouco depois Jorge apparecia na sala, em que ficára Thomé com a filha.

Jorge não era superior a uma occulta commoção, ao entrar alli. Ia encontrar-se com Bertha. O momento, de que vagamente se temia, chegára emfim. Achava-se em frente do perigo desconhecido, de que sentia intimas apprehensões. Era tão forte a sua turbação, que lhe tremiam as pernas ao transpôr a porta da sala.

Na presença de Bertha, Jorge lançou para ella um olhar rapido, mas penetrante, e desviou-o logo. O espirito não serenou com o resultado d'esse primeiro exame.

Jorge reconheceu que o perigo, que tanto temia, era real.

Bertha, prevenida como estava a respeito do genio de Jorge, tão differente do do irmão, acolheu-o com mais franqueza e menos precauções do que tivera com Mauricio. Contra Jorge não precisava de acautelar o coração.

O cumprimento de Jorge foi serio e quasi frio, sem um vislumbre de galanteio, que se parecesse com as finezas de Mauricio. Apenas disse, quasi sem olhar para Bertha:

—Bem vinda, Bertha; estimo vêl-a restituida aos seus. Espero que ainda se lembre de um antigo conhecido.

—Não costumo esquecer-me, snr. Jorge—respondeu Bertha, sem poder deixar de examinal-o com curiosidade.

Jorge proseguiu no mesmo tom:

—Dizem que se aprende depressa a esquecer nas cidades. Mas quero acreditar que a sua memoria desmentirá o dito. E que lhe parece agora esta terra?

E Jorge, fazendo a pergunta, quiz fitar os olhos em Bertha, mas desviou-os ao encontrar os d'ella.

—A mesma que deixei—respondeu Bertha—a aldeia guarda melhor as memorias do passado, do que a cidade. Vivem-se annos longe d'ella, e na volta parece