Rimas (Francisco Álvares de Nóbrega): diferenças entre revisões

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''Poema dedicado a Bocage, seu contemporâneo de cárcere na Cadeia do Limoeiro.''
 
==<span style="font-family: Edwardian Script ITC; font-size: 32pt; color: brown;">Palinuro Sagrado, oh, como absorto</span> ==
<br /poem>
:<span style="font-family: Lucida Calligraphy; font-size: 13pt; color: black;">Palinuro Sagrado, oh, como absorto
:Ao ver-vos fica o meu batel por certo!
:Meu náufrago batel, que sábio e esperto
:Vindes guiar da salvação ao porto.
<br />
:De mim se apossa um divinal conforto
:Á proporção que vos chegais mais perto;
:Vós dourais da existência o fio incerto,
:Vós arrancais da fria campa um morto.
<br />
:Imagem do meu Deus, ministro augusto,
:Tanto ímpio quebranta a vossa vinda,
:Quanto conforta e fortalece o justo.
<br />
:Minha interna aflição convosco finda,
:Já o transe final me não dá susto;
:Graças, graças aos céus! Não morro ainda.
<br />
<div style="text-align: center;">Poema dedicado ao seu Confessor da [[Inquisição]], aquando do seu encarceramento em 1803, na Cadeia do Limoeiro. </div> </span>
<br />
==<span style="font-family: Edwardian Script ITC; font-size: 32pt; color: brown;">Ah, Príncipe! E será, será possível</span>==
<br />
:<span style="font-family: Lucida Calligraphy; font-size: 13pt; color: black;">Ah, Príncipe! E será, será possível,
:Que não vos causem o menor abalo
:Os ais que solta o íntegro vassalo
:Neste hediondo cárcere terrível?
<br />
:Mostrar-vos-eis acaso ainda insensível,
:Quando a verdade, vos atesto e falo?
:Olhai, Senhor, que de aflição estalo
:Olhai que toco a meta impreterível. (…)
<br />
:Não conheço outro Deus de Jove abaixo;
:De vós só é que pende eu ser ditoso,
:Seja, qual meu delito, o meu despacho.
<br />
<div style="text-align: center;">Excerto de um dos 15 poemas dedicados ao Regente [[D. João VI]], Príncipe do [[Brasil]], na esperança de que intercedesse favoravelmente na sua libertação da Cadeia do Limoeiro. </div> </span>
 
De mim se apossa um divinal conforto
Á proporção que vos chegais mais perto;
Vós dourais da existência o fio incerto,
Vós arrancais da fria campa um morto.
 
Imagem do meu Deus, ministro augusto,
Tanto ímpio quebranta a vossa vinda,
Quanto conforta e fortalece o justo.
 
Minha interna aflição convosco finda,
Já o transe final me não dá susto;
Graças, graças aos céus! Não morro ainda.
</poem>
 
''Poema dedicado ao seu Confessor da Inquisição, aquando do seu encarceramento em 1803, na Cadeia do Limoeiro.''
 
== Ah, Príncipe! E será, será possível ==
<poem>
Ah, Príncipe! E será, será possível,
Que não vos causem o menor abalo
Os ais que solta o íntegro vassalo
Neste hediondo cárcere terrível?
 
Mostrar-vos-eis acaso ainda insensível,
Quando a verdade, vos atesto e falo?
Olhai, Senhor, que de aflição estalo
Olhai que toco a meta impreterível. (…)
 
Não conheço outro Deus de Jove abaixo;
De vós só é que pende eu ser ditoso,
Seja, qual meu delito, o meu despacho.
</poem>
 
''Excerto de um dos 15 poemas dedicados ao Regente D. João VI, Príncipe do Brasil, na esperança de que intercedesse favoravelmente na sua libertação da Cadeia do Limoeiro.''
 
 
== Príncipe Excelso, em lúgubre masmorra ==
<poem>
Príncepe Excelso, em lúgubre masmorra
A que jamais dá luz do Sol o facho,
Geme ao som do grilhão infame e baixo,
Sem ter piedosa mão, que me socorra.
 
Por mais que pense e que discorra,
Em minha vida um crime só não acho,
Seja qual meu delicto, o meu despacho
Que me soltem, mandai, ou que enfim morra.
 
Quem culpa cometeu, é bem que pague,
Em cadeia fatal, que o pé lhe oprime
Com lágrimas de dor embora alague.
 
Porém não consintais que se lastime
Na mesma estância, e em confusão se esmague
A singela inocência a par do crime.
</poem>
 
''Poema dedicado ao Regente D. João VI, Príncipe do Brasil, onde o poeta proclama a sua inocência.''
 
== Não lastimes, Baptista, a minha sorte ==
<poem>
Não lastimes, Baptista, a minha sorte,
Nenhum abalo o dano meu te faça;
Batem em mim os golpes da desgraça,
Bem como as ondas num rochedo forte.
 
Ver-me-às tranquilo sujeitar ao corte.
Que da vida a cadeia desenlaça. (…)
 
Os homens, com tormento agudo e grave,
Podem fazer que desta estância abjecta
Meu sangue, espadanando, os tetos lave;
 
Podem no coração cravar-me a seta,
Porém não extorquir-me a paz suave,
Com que o Justo transpõe da vida a meta.
</poem>
 
==<span style="font-family: Edwardian Script ITC; font-size: 32pt; color: brown;">Príncipe Excelso, em lúgubre masmorra</span>==
<br />
:<span style="font-family: Lucida Calligraphy; font-size: 13pt; color: black;">Príncepe Excelso, em lúgubre masmorra
:A que jamais dá luz do Sol o facho,
:Geme ao som do grilhão infame e baixo,
:Sem ter piedosa mão, que me socorra.
<br />
:Por mais que pense e que discorra,
:Em minha vida um crime só não acho,
:Seja qual meu delicto, o meu despacho
:Que me soltem, mandai, ou que enfim morra.
<br />
:Quem culpa cometeu, é bem que pague,
:Em cadeia fatal, que o pé lhe oprime
:Com lágrimas de dor embora alague.
<br />
:Porém não consintais que se lastime
:Na mesma estância, e em confusão se esmague
:A singela inocência a par do crime.
<br />
<div style="text-align: center;">Poema dedicado ao Regente [[D. João VI]], Príncipe do [[Brasil]], onde o poeta proclama a sua inocência. </div> </span>
<br />
==<span style="font-family: Edwardian Script ITC; font-size: 32pt; color: brown;">Não lastimes, Baptista, a minha sorte</span>==
<br />
:<span style="font-family: Lucida Calligraphy; font-size: 13pt; color: black;">Não lastimes, Baptista, a minha sorte,
:Nenhum abalo o dano meu te faça;
:Batem em mim os golpes da desgraça,
:Bem como as ondas num rochedo forte.
<br />
:Ver-me-às tranquilo sujeitar ao corte.
:Que da vida a cadeia desenlaça. (…)
<br />
:Os homens, com tormento agudo e grave,
:Podem fazer que desta estância abjecta
:Meu sangue, espadanando, os tetos lave;
<br />
:Podem no coração cravar-me a seta,
:Porém não extorquir-me a paz suave,
:Com que o Justo transpõe da vida a meta.
''Excerto de um poema dedicado ao amigo, e protector, Manuel José Moreira Pinto Baptista.''
 
== Sadias virações da madrugada ==
<poem>
:Sadias virações da madrugada,
Sadias virações da madrugada,
:Que as folhas embalais deste arvoredo,
Que as folhas embalais deste arvoredo,
:Entrando neste sítio inda mais cedo
Entrando neste sítio inda mais cedo
:Que a dúbia luz da aurora marchetada.
Que a dúbia luz da aurora marchetada.
 
:Agora que repousa a doce Amada
:Em bençãos de jasmins seu corpo ledo,
:Um pouco respirai mais em segredo,
:Sádias virações da madrugada.
 
:Respeitai de Marília o sono brando
:Nos ramos destes álamos copados.
:As subtis asas plácidas feixando.
 
:Tende em morno silêncio os verdes prados,
:Durma a causa do mal que estou passando
:Enquanto dorme – dormem meus cuidados.
</poem>
 
''Poema sobre o amor escrito por Francisco Álvares de Nóbrega, na Cadeia do Limoeiro.''
 
== Se me recordo, meu Camões divino ==
<poem>
:Se me recordo, meu Camões divino,
Se me recordo, meu Camões divino,
:De que em pobre hospital, sórdido, agreste,
De que em pobre hospital, sórdido, agreste,
:O derradeiro adeus ao Mundo deste,
O derradeiro adeus ao Mundo deste,
:Leio em tua desgraça o meu destino.
Leio em tua desgraça o meu destino.
 
:O drago da doença, atroz, maligno,
:Cospe em meu corpo tragadora peste;
:Que meu fatal instante em fim se apreste,
:Espero, como tu, em leito indigno.
 
:Com tudo melhor sorte em ti conheço:
:Tu do desprezo sofres só o insulto,
:Eu entre ferros ao sepulcro desço,
 
:Tu sem nota, eu infame me sepulto;
:Porém menos, também, menos mereço,
:Porque tu eras sábio, eu sou estulto.
</poem>
 
''Poema dedicado a [[Luís de Camões|Luís Vaz de Camões]].''
 
== Preso à rija cadeia, onde inocente ==
<poem>
:Preso à rija cadeia, onde inocente
Preso à rija cadeia, onde inocente
:Suporto da calúnia o férreo açoite,
Suporto da calúnia o férreo açoite,
:Sem achar outro arrimo, a que me acoite,
Sem achar outro arrimo, a que me acoite,
:Bradava pela morte em pranto ardente. (…)
Bradava pela morte em pranto ardente. (…)
 
:Quem me diz que entre os ferros da violência,
:A cujo peso o meu valor quebranto,
:Pode a dor sufocar, conter o pranto,
:O que conserva ilesa a consciência;
 
:Ou dos trabalhos tem pouca experiência,
:Ou finge esforço inexpugnável, santo;
:O delinquente em ferros geme tanto,
:Como o herói da cândida inocência. (…)
 
:Como está este dia tão soturno!
:Pavoroso negrume o ar enlucta,
:Naquele galho a regougar se escuta,
:Crendo que é noite, o carpidor nocturno.(…)
 
:O encrespado mar, de negro tinto,
:Ostenta em sua túmida voragem
:Querer o Orbe aniquilar faminto.
 
:Sucedeu Bóreas torvo à branda aragem;
:Da viva inquietação, que n´alma sinto
:Ó dia de pavor, tu és a imagem!
</poem>
 
''Excertos de vários poemas descrevendo o ambiente do cárcere.''
 
</poem>
[[Categoria:Francisco Álvares de Nóbrega]]