A Moreninha/XVI: diferenças entre revisões

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Agora são quatro horas da manhã; o sarau está terminado, os convidados vão retirando-se e nós, entrando no [[wikt:toilette|toilette]], vamos ouvir quatro belas conhecidas nossas, que conversam com [[wikt:ardor|ardor]] e [[wikt:fogo|fogo]].
 
— É possível?!... exclamou d. Quinquina, dirigindo-se à sua [[wikt:mana|mana]]; pois é verdade que esse sr. Augusto lhe fez uma declaração de amor?...
 
— Como quer que lhe diga, maninha!... Asseverou que meus olhos pretos davam à sua alma mais luz do que aos seus olhos todos os candelabros da sala nesta noite, e mesmo do que o sol nos dias mais brilhantes... palavras dele.
 
— Que [[wikt:insolente|insolente]]!... tornou d. Quinquina, ele mesmo, que me jurou ser a mais bela a seus olhos e a mais cara ao seu coração, porque meus cabelos eram fios de ouro e a cor das minhas faces o rubor de um belo amanhecer!... Palavras dele.
 
— Que [[wikt:atrevido|atrevido]]!... bradou d. Clementina; o próprio que afirmou ser-lhe impossível viver sem [[wikt:alentar|alentar]]-se com a esperança de possuir-me, porque eu sabia ferir corações com minhas vistas e curar profundas mágoas com meus sorrisos!... Palavras dele.
 
— Oh! Que moço [[wikt:abominável|abominável]], disse, por sua vez, d. Gabriela; e ousou dizer-me que me amava com tão subida paixão que, se fora por mim amado e pudesse desejar e pedir algum extremo, não me pediria como a outras, para beijar-me a face, porque das virgens do céu somente se beijam os pés, e de joelho! Palavras dele.
 
— Mas isto é um [[wikt:insulto|insulto]] feito a todas nós!
 
— Como se estará ele rindo!
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— Por nós quatro... talvez por outras mais: ele pensa assim.
 
— Que maldito brasileiro com alma de [[wikt:mouro|mouro]]!...
 
— E havemos de ficar assim?...
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— Isto é nada para quem não tem vergonha!...
 
— Pois troquemos os papéis: finjamos que estávamos tratadas para desafiar-lhe os [[wikt:requebros|requebros]], e... ridicularizemo-lo como for possível.
 
— Sim... obriguemo-lo a dizer qual de nós é a mais bonita; cada uma lhe pedirá um anel de seus cabelos... uma prenda... uma lembrança... ponhamo-lo doido.
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— Então, quando e aonde?
 
— Uma idéiaideia... seja a [[wikt:zombaria|zombaria]] completa: escreva-se uma carta anônima, convidando-o para estar ao romper do dia na gruta.
 
— Bravo! Então escreva...
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— Então, nenhuma escreve? Pois tiremos por sorte.
 
A idéiaideia foi recebida com aprovação e a sorte destinou para [[wikt:secretária|secretária]] d. Clementina, que tirando de seu álbum um lápis e uma tira de papel, escreveu sem hesitar:
 
"{{Quote|Senhor: — Uma jovem que vos ama e que de vós escutou palavras de ternura tem um segredo a confiar-vos: ao ralar[[wikt:raiar|raiar]] da [[wikt:aurora|aurora]] a encontrareis no banco de relva da gruta; sede [[wikt:circunspecto|circunspecto]] e vereis a quem, por meia hora ainda, quer ser apenas — Uma [[wikt:incógnita|incógnita"]].}}
 
— Bem, disse d. Quinquina, eu me encarrego de fazer-lhe receber a carta. Saiamos.
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Com efeito, recostada em uma cadeira de braços, d. Carolina estava profundamente adormecida.
 
A Moreninha se mostrava, na verdade, encantadora no mole descuido de seu dormir, e à mercê de um doce [[wikt:resfolegar|resfolegar]], os desejos se agitavam entre seus seios; seu pezinho bem à mostra, suas tranças dobradas no colo, seus lábios entreabertos e como por costume amoldados àquele sorrir cheio de malícia e de encanto que já lhe conhecemos e, finalmente, suas pálpebras cerradas e coroadas por bastos e negros supercílios, a tornavam mais feiticeira que nunca.
 
D. Clementina não pôde resistir a tantas graças: correu para ela... dois rostos angélicos[[wikt:angélico|angélico]]s se aproximaram... quatro lábios [[cor-de-rosa se tocaram e este toque fez acordar d. Carolina.
 
Um beijo tinha despertado um anjo, se é que o anjo realmente dormia.