Refutação de todas as heresias/I/XVI: diferenças entre revisões

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E ele admite (assim) natureza de demônios, e diz que alguns deles são bons, e outros são desprezíveis. E alguns afirmam que ele declara que a alma não teve início e é imortal, quando usa as seguintes palavras: “Cada alma é imortal, por que está sempre se movimentando é imortal”; e quando explica que a alma move a si mesma, e capaz de originar movimento. Outros, entretanto, (dizem que Platão asseverou que a alma foi) criada, mas é imperecível pela vontade de Deus. Mas outros dizem que ele considerou a alma como um composto, criado e corruptível; porque ele sempre considera que há um receptáculo<ref>A palavra literalmente significa um copo ou vaso e, sendo empregado por Platão em sentido alegórico, é evidentemente significa ''anima mundi'' (alma do mundo), que seria uma espécie de depósito para todas as existências espirituais do mundo.</ref> para ela, e que possui um corpo luminoso, mas que tudo que é criado tem a necessidade de corrupção<ref>Ou "que existe uma necessidade de corrupção para cada coisa criada".</ref>. Aqueles que dizem que a alma é imortal são fortemente apoiados pelas passagens <ref>Ou "são confirmados (por Platão), porque ele afirma etc." ou " aqueles que afirmam que a alma é imortal são apoiados pela sua opinião, assim como aqueles que afirmam existir um estado futuro de retribuição.</ref> (nos escritos de Platão), onde ele diz que existem julgamentos após a morte, e tribunais de justiça no Hades, e que as (almas) virtuosas recebem uma recompensa, e as más têm sua justa punição. Alguns, não obstante, asseveram que ele também reconhece que há uma transição de almas de um corpo para outro, e que diferentes almas, de acordo com seu propósito, passam por diferentes corpos<ref>Ou "que mudam para diferentes almas" etc.</ref>, e que depois<ref>Ou "durante".</ref> de certos períodos de tempo elas são enviadas a este mundo para provar suas escolhas. Outros, entretanto, (não admitem essa doutrina, mas afirmam que Platão ensinou que as almas) obtém um lugar de acordo com a vida de cada uma; e eles usam como prova em seus escritos que alguns homens bons estão com Jove, e que outros estão (no céu) com outros deuses; assim como outros estão envolvidos em punição eterna, por que em vida cometeram coisas más e injustas.
 
E algumas pessoas afirmam que Platão disse que algumas coisas não têm uma metade, que outras tem uma metade, e outras são uma metade. (Por exemplo, que) andar e dormir, e coisas assim são uma condição sem estado intermediário; e que há coisas que tem um significado, como virtude e vício; e que existem metades (entre extremos), como cinza, que está entre preto e branco, ou outra cor. E eles dizem que ele afirmou que as coisas que concernem à alma são absolutamente boas, mas as coisas que concernem ao corpo, e aquelas externas a ele, não são absolutamente boas, mas supostas bênçãos. E freqüentemente ele as nomeia como podendo ser utilizadas de modo bom ou ruim. Algumas virtudes, ele diz, são extremos por causa de seu valor intrínseco, e por causa de sua natureza essencialmente na média, nada é mais estimável do que a virtude. Por exemplo, ele diz que existem quatro virtudes – prudência, temperança, justiça e coragem – e que cada uma delas tem paralelamente dois vícios, de acordo com seu excesso ou falta: por exemplo, para a prudência, descuido para a falta e desonestidade para o excesso; para a temperança, licenciosidade para a falta e estupidez para o excesso; para a justiça, desconsiderar uma prova para a falta e considerar excessivamente para o excesso; para a coragem, covardice para a falta e imprudência para o excesso. E quando estas virtudes, quando absorvidas por um homem, fazem-no perfeito e o permitem ser feliz. E a felicidade, diz ele, é a assimilação com a deidade até onde seja possível; e a assimilação com Deus acontece quando alguém combina santidade, justiça e prudência. Porque, para ele, este é a finalidade da sabedoria e virtude suprema. E ele afirma que uma virtude segue a outra<ref>Ou "Diógenes Laércio, descrevendo o sistema dos estóicos, utiliza as mesmas palavras no caso da definição deles de virtude".</ref>, sendo uniforme, nunca antagônica uma à outra. Ele afirma que o destino existe; apesar de não estar muito certo, ele diz que todas as coisas são produzidas pelo destino, e que há algo em nosso poder, na passagem que diz: “O erro é feito pela pessoa que fez, Deus é inculpável” e “seguindo a lei<ref>Isso é completado no original; a passagem ocorrem ''Phaedrus'', C:LX(p. 86, vol.I, ed. Bekker).</ref> de Adrastéia<ref>A palavra "Adrastéia" foi um termo para "Nêmesis", e significa aqui destino inalterável.</ref>”. E assim (sobre este tópico) seus seguidores se dividem entre aqueles que defendem um sistema de destino e outro de livre-arbítrio. Ele afirma, entretanto, que os pecados são involuntários. Porque sendo a mais gloriosa coisa em nosso poder, que é a alma, ninguém pode admitir (deliberadamente) que é corrupto, sendo a transgressão derivada da concepção ignorante e errônea da virtude, supondo que estava tentando alcançar algo honrável, transformando-se em vício. Ele demonstra essa doutrina de forma mais clara em ''A República''<ref>Essa mesma passagem ocorre em ''Cliphoron''.</ref>: “Mas de novo vocês presumem que o vício é desgraçado e desprezível para Deus; como então, eu posso perguntar, alguém escolheria coisa tão má? Ele, você responde, é vencido pelos prazeres<ref>O texto, como dado por Miller, é carente de significado. Portanto a tradução é conjectural, de acordo com as alterações de Schneidewin.</ref>. Portanto isso também e involuntário, se vencer é voluntário; assim, em cada ponto de vista, a consumação de um ato torpe é racionalmente provado<ref>Ou "declarado".</ref> ser involuntário”.
 
Alguns em oposição (a Platão) fazem a seguinte pergunta: “Por que então os homens são punidos se o pecado é involuntário?”. Mas ele responde que ele pode ser liberto do vício passando por uma punição. Porque a punição não é uma coisa ruim, mas uma coisa boa, é como uma purificação de todos os maus; e que o resto da humanidade, ouvindo isso, não deve praticar transgressões, mas se guardar dos erros. (Platão, entretanto, mantém) que a natureza do mal não é criada pela deidade, nem possui subsistência de si mesma, mas que deriva do contrário daquilo que é bom, e do fracasso em faze-lo, tanto por excesso quanto por defeito, assim como já afirmamos sobre as virtudes. Platão inquestionavelmente, como já afirmamos, explorou as três divisões da filosofia universal, deste modo formando seu sistema especulativo.