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Nesses momentos de obliteração, porém, o doce olhar de Berta sustinha aquele espírito titubeante prestes a submergir-se nas trevas. Entrelaçando o rude labor da lição com sorrisos e meiguices, que orvalhavam a alma enferma do mísero idiota, a carinhosa mestra não só incutia-lhe o ânimo de perseverar no insano esforço, como iluminava com um vislumbre de sua alma a densa caligem daquele cérebro granítico.
Outras vezes, para dirigir o entendimento de Brás, e despertar-lhe a embotada reminiscência, contava Berta uma história, imitava o canto de um pássaro, ou inventava um brinquedo que suscitasse a noção esquecida.
Embora já tivesse Brás percorrido quase toda a carta de leitura, de súbito, e não obstante esse adiantamento, faziam-se em seu entendimento profundos eclipses. Dir-se-ia que apagava-se de todo o morno lampejo da inteligência bruta
Por isso Berta o obrigava a repetir constantemente tudo quanto já havia aprendido, no intuito de, à força de hábito, por uma espécie de atrito contínuo, gravar-lhe profundamente no boçal engenho os rudimentos que tinha ensinado com admirável paciência. Só de tal sorte conseguira ela inserir nessa bruta animalidade algumas
Era Brás filho de uma irmã de Luís Galvão, a qual falecera três anos antes, ralada pelos desgostos que lhe dera o marido, e pelo suplício incessante de ver reduzido ao lastimoso estado de um sandeu, o único fruto de suas entranhas.
Quando morreu, já era de muito viúva a infeliz senhora; e, pois, com a sua perda, ficou Brás sem outro arrimo, a não ser
Compreende-se quanto devia custar a D. Ermelinda, ciosa em extremo da morigeração de seus filhos, o receber no íntimo seio da família um menino até certo ponto estranho, e não só baldo de toda a educação, como incapaz de recebê-la. Mas compenetrara-se a digna senhora que seu marido, recolhendo o sobrinho órfão e servindo-lhe de pai, cumpria um rigoroso dever; e tanto bastou para que não suscitasse a menor objeção. Resignada ao mal inevitável, socalcou sua repugnância.
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Consentia D. Ermelinda em ser-lhe mãe e cercá-lo de toda a solicitude, apesar da natural repulsão que deviam causar à sua índole tão delicada os modos brutais e parvos do idiota. Não lhe sofria porém o coração que seus filhos vissem nesse menino mal-amanhado e grosseiro um camarada e um parente, quanto mais um irmão.
Apesar de convencido da inutilidade de seus esforços, não os poupava Luís Galvão para reparar a desgraça do sobrinho ou pelo menos atenuá-la. Havia em Santa Bárbara uma aula pública de primeiras letras, a qual ainda o vulgo pelo costume antigo tratava de escola régia. Servia de mestre um latagão de verbo alto e punho rijo, que fora outrora ferrador e a quem chamavam
Fiel às tradições da antiga profissão, entendia ele lá de si para si que um bom processo de ferrar bestas devia de ser por força excelente método de ensinar a leitura e a tabuada
Tal era o professor, a quem foi incumbida a tarefa de ensinar a ler ao Brás. Depois dos três primeiros dias de indulgência, pôs o ferrador em prática o seu método repentino, que desta vez, com pasmo seu, falhou completamente.
Debalde o Domingão brandiu a pesada palmatória de
Então expandiu-se-lhe o estúpido semblante com um riso alvar, que estertorou na gorja, e, tomado por súbita alacridade, ele, de ordinário soturno e pesado, começou a fazer trejeitos e gatimonhas ao pequeno sinal ortográfico, procurando imitá-lo
Toda a escola disparou a rir; e o mestre no primeiro momento não se
Sem embargo, repetiu-se ele ao outro dia, e em todos que se lhe seguiram. Em apresentando-se a carta ao marmanjo, era a mesma indiferença para tudo, e a mesma festa grotesca ao til.
Com as mãos doídas das palmatoadas, e a cabeça empolada dos coques de régua, fugia o pobre do Brás para o mato, onde ia descobri-lo o pajem, que diariamente o acompanhava pela manhã da fazenda à escola e vinha buscá-lo por volta de uma hora da tarde.
[[Categoria:Til|Primeiro Volume, Capítulo 25]]
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