Autor:Francisco de Borja Garção Stockler: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Sem resumo de edição
Sem resumo de edição
Linha 11:
'''Francisco de Borja Garção Stockler''' ([[Lisboa]], [[25 de Setembro]] de [[1759]] — [[Faro]], [[6 de Março]] de [[1829]]) foi um [[nobreza|nobre]], [[militar]] e administrador colonial português. Primeiro e único '''barão da Vila da Praia''', alcançou o posto de tenente-general do [[Exército Português]], 8.º [[capitão-general]] dos [[Açores]], político e matemático de nomeada. Foi um dos pioneiros do cálculo diferencial e um dos mais notáveis historiadores da [[Matemática]] em [[Portugal]], autor de uma obra que ainda mantém relevância quase dois séculos após a sua publicação. Demonstrando grande erudição, também se dedicou à poesia e à literatura.
 
==Biografia==
Francisco de Borja Garção Stockler era filho de Cristiano Stockler, grande comerciante, natural de Lisboa, cavaleiro da [[Ordem de Cristo]], e de sua mulher, D. Margarida Joséfa Rita de Orgiens Garção de Carvalho. Era neto paterno de Christian Stockler, natural de [[Hamburgo]], homem de negócios estabelecido em Lisboa nos princípios do século XVIII onde representava os interesses de comerciantes das antigas cidades [[Hansa|hanseáticas]].
 
Linha 38:
Mais tarde, na sua obra ''Cartas ao autor da História Geral da Invasão dos Franceses em Portugal'', publicada em 1816, tentou explicar as suas acções durante as invasões francesas e apresenta pormenorizadamente as propostas do marechal general e a sua interpretação dos factos que levaram à derrota portuguesa.
 
Quando em [[1807]] as forças francesas comandadas pelo general [[Junot]] entram em Portugal e a corte se retira para o Brasil, Stockler ainda exercia as funções de secretário da Real Academia das Ciências, sendo um dos dignitários que, em nome da [[Regência do Reino]], se dirigiram a [[Sacavém]] para saudar o general invasor. Esta atitude, e ainda o facto da Academia haver de imediato eleito Junot para sócio, emitindo um diploma que, acompanhado por um discurso laudatório, foi entregue a Junot por Stockler, enquanto secretário da mesma, granjearam-lhe fama de colaboracionista, ao mesmo tempo que o colocavam na confiança dos franceses.
 
Aceitando de Junot o comando da bateria da Areia, próximo a Belém, que entrou em acção para impedir a saída de navios portugueses que pretendiam refugiar-se no Brasil, Stockler deu provas de verdadeiro colaboracionista, o que levou a que, após a retirada francesa, a Regência lhe retirasse todos os cargos e privilégios.
 
Na sequência de um requerimento em que Stockler, que já então era brigadeiro, pedia a reintegração, o [[conde de Linhares]], Ministro do Príncipe Regente no Brasil, enviou ao presidente da Regência do Reino um ofício que bem demonstra a desconsideração em que havia caído: — ''Ex.mo e Rev.mo Sr.'' — ''Tendo levado à augusta presença de Sua Alteza Real o príncipe regente nosso senhor a carta inclusa e mais papéis do brigadeiro Francisco de Borja Garção Stockler, cujos talentos militares verificados na campanha de 1801, são assaz constantes ao mesmo senhor, em cuja real presença é além disto mui pouco acreditado pela missão em que foi mandado a Junot, e depois pelo comando da bateria da Areia junto à Torre de Belém, donde barbaramente fez atirar sobre navios portugueses, que se faziam à vela para saírem do Tejo; contudo Sua Alteza Real ouvindo os sentimentos da sua incomparável justiça e piedade, é servido que os governadores do reino informem, interpondo o seu parecer e depois de ouvir o marechal general ou o marechal general do exército se haverá algum lugar activo em face do inimigo, onde o suplicante possa ser empregado, e neste caso o proponham para esse posto, a fim de que se verifique se ele tem realmente grandes talentos militares, ou se nesta matéria como nas outras se avalia muito além do que vale; o que é assaz conhecido quando, como matemático, quis associar-se ao tão justamente célebre [[Lagrange]]''. — ''Palácio de Santa Cruz, em 25 de Novembro de 1809.'' — ''Conde de Linhares''.
 
A acusação de colaboracionismo com as forças francesas, e de incompetência militar na campanha da [[Guerra das Laranjas]], surgiu publicada na ''História Geral da Invasão dos Franceses'', de [[José Acúrsio das Neves]], desencadeando uma longa polémica pública, tendo Stockler respondido numa obra intitulada ''Cartas ao autor da História Geral da Invasão dos Franceses em Portugal'', que a Academia se recusou a publicar, mas que foram publicadas pelo autor. A polémica não se esgotou com esta publicação, prosseguindo pela via epistolar, tendo Stockler publicado as cartas no [[O Investigador Portuguez em Inglaterra|Investigador Portuguez]].
 
Contudo, apesar dos ódios e incompreensões, conseguiu a reintegração e a promoção a marechal-de-campo, recomeçando, contra todas as probabilidades a sua carreira.
 
===A estadia na corte do Rio de Janeiro===
Em [[1812]] parte para o Brasil, ingressando na corte e reconquistando, com notável rapidez, ao que se diz pelas suas qualidade intelectuais, a confiança do Governo e do príncipe regente.
 
Garção Stockler ainda residia no [[Rio de Janeiro]] aquando, por morte da rainha D. [[Maria I de Portugal|Maria I]], o príncipe regente D. João foi aclamado rei com o título de D. [[João VI de Portugal|João VI]]. Coube-lhe então, em nome da Academia Real das Ciências de Lisboa, produzir um ''Discurso dirigido em nome da Academia Real das Ciências a Sua Majestade o Senhor D. João VI, por ocasião da sua exaltação ao trono'', que foi publicado no tomo VI, parte I, das ''Memórias da Academia''.
 
Para além do seu labor académico enquanto matemático, Garção Stockler também se interessou pela poesia, escreveu uma obra poética, a que chamou ''Poesias Lyricas'', constando de odes horacianas, salmos traduzidos e de um poema filosófico, ''Aves'', que fora principiado pelo poeta brasileiro [[Sousa Caldas]]. Numa clara manifestação de erudição, Stockler incluiu no volume uma dissertação sobre o ritmo na poesia hebraica.
 
Submetida à Academia, a obra foi considerada, por parecer emitido em [[1819]], como violando a ortodoxia católica, ventilando ideias consideradas ''paradoxais''. Stockler não aceitou modificar a obra, recorrendo à sua publicação em Londres. Em resultado, a obra foi efectivamente condenada, mais tarde, em Roma, por decreto da Sagrada Congregação do Index, de [[23 de Junho]] de [[1836]], e incluída no [[Index Librorum Prohibitorum]].
 
Data também deste período a elaboração da obra ''Ensaio histórico sobre a origem e progressos das matemáticas em Portugal'', posteriormente publicada em Paris, que despertou logo crítica favorável pelos estudiosos coevos, como José Silvestre Ribeirão na ''Resenha de Litteratura Portugueza'', tomo I, páginas 16 e seguintes, e o artigo inserto nos ''Annaes das Sciencias, das Artes e das Letras'', no tomo V, páginas 138 a 156. Esta obra, que já foi objecto de reedição, mantém-se como uma das melhores histórias do pensamento matemático português até aos alvores do século XIX, e uma das primeiras obras do género publicadas na Europa.
 
Também durante esta estadia no Brasil, interessou-se por temas de educação, sendo autor de um estudo sobre o estabelecimento da instrução pública no Brasil, um projecto pioneiro naquele país e onde é patente a erudição e o conhecimento que Stockler tinha do pensamento europeu coevo. Aquele projecto ainda mantém interesse na história da educação e da pedagogia.
 
Outra das funções que exerceu foi a de deputado da Junta de Direcção da [[Academia Militar do Rio de Janeiro]], onde, em conjunto com [[Wilhelm Ludwig Freiherr von Eschwege]], o [[Wilhelm Ludwig von Eschwege|barão de Eschwege]], teve papel importante na estruturação do ensino nas áreas da matemática e da física. Esta escola militar, criada por carta régia de [[4 de Dezembro]] de [[1810]] iniciou as suas actividades a [[23 de Abril]] de [[1811]]. É uma das instituições antecessoras da actual escola superior do Exército brasileiro, a [http://www.aman.ensino.eb.br/phistorico.htm Academia Militar das Agulhas Negras], e foi a primeira escola de engenharia no [[Brasil]].
 
===Stockler nas funções de Capitão-General dos Açores===
Durante a sua estadia no Rio de Janeiro surgiram profusas queixas na corte ali instalada sobre a actuação do brigadeiro [[Francisco António de Araújo e Azevedo]] nas funções de Governador e Capitão-General dos Açores. As populações e as autoridades insulares queixavam-se do seu rigor nos recrutamentos militares e particularmente da sua acção no arroteamento de baldios públicos, que eram concedidos, acusavam as câmaras das ilhas, a particulares, em geral amigos do Capitão General, em detrimento do interesse dos povos. Essa apropriação dos baldios deu origem a profundos ódios e desavenças e, mais tarde, conduziu aos motins da [[Justiça da Noite]] que, durante décadas, abalaram a pacatez insular.
 
Estando na corte, e tendo ganhado notoriedade pela sua produção académica e inteligência, Garção Stockler conseguiu ser nomeado por D. João VI, em [[12 de Novembro]] de [[1819]], para ir substituir o [[capitão-general]] caído em desgraça. Stockler partiu para Lisboa em Agosto seguinte com o fito de receber da Regência as ordens necessárias à governação dos Açores.
 
Por esta mesma altura desencadeia-se em Portugal o movimento constitucional. É assim em plena fase inicial da Revolução de 1820 que Stockler chega a Lisboa. Embora sendo claramente antiliberal, aparentemente a fama de jacobino e de colaboracionismo com os franceses foi-lhe aqui útil. A Junta revolucionária que governava o país recebe-o e reconfirma-o no cargo, permitindo a sua partida para os Açores.
 
A sua chegada aos Açores, a [[18 de Outubro]] de [[1820]], foi saudada com efusiva alegria, pois significava o fim da tirania do brigadeiro [[Francisco António de Araújo e Azevedo]]. Ambos os partidos depositavam esperanças na sua actuação: os liberais, acreditando que a reconfirmação dada pela Junta Suprema era um sinal de ideias pró-constitucionais; os absolutistas convictos que a sua nomeação por D. João VI antes da revolução era uma garantia da sua adesão ao rei absoluto.
 
Tiveram razão os absolutistas, já que Stockler proibiu os contactos políticos com Portugal e obrigou todo o expediente administrativo e judicial açoriano a ser enviado para a corte do Rio de Janeiro, não reconhecendo a legitimidade e autoridade das instituições de Lisboa.
 
Quando se aperceberam da orientação do novo capitão-general, os liberais açorianos iniciaram movimentações no sentido de proclamarem, pela via revolucionária, o constitucionalismo no arquipélago. Foi assim que, capitalizando o descontentamento com a governação dos capitães-generais, com sede na Terceira, ilha que diziam dominava todas as outras e absorvia o grosso dos recursos fiscais, a [[1 de Março]] de [[1821]], [[Revolução Constitucional de Ponta Delgada|uma revolta militar em Ponta Delgada]], inspirada por elementos civis que pretendiam a libertação da ilha de São Miguel àquilo que entendiam como o jugo da Terceira, instala o regime constitucional na [[ilha de São Miguel]] e proclama a independência daquela ilha do Governo de Angra.
 
Stockler ainda tenta resistir, mas logo a [[2 de Abril]] de [[1821]] uma [[Revolução Constitucional de Angra|revolução constitucional em Angra]], inspirada pelos [[deportados da Amazona]] e pelos seus conversos, reinstala no poder o brigadeiro [[Francisco António de Araújo]] e obriga Stockler a refugiar-se na Praia. Contudo, dois dias depois, a 4 de Abril, num contra-golpe militar ocorrido no [[Castelo de São João Baptista do Monte Brasil]], o brigadeiro Araújo é morto e Stockler retoma o poder.
 
É neste contexto que [[Almeida Garrett]], que pouco antes fundara em Coimbra a loja maçónica e secreta Sociedade dos Jardineiros, se desloca entre Maio e Agosto de 1821 à Terceira, talvez como emissário da [[Maçonaria]], para tentar firmar a nova legalidade constitucional na ilha, no que encontra forte oposição de Stockler, que ameaça prendê-lo caso ele se manifestasse publicamente a favor da Constituição. Deste episódio resultou o poema herói-cómico ''O X, ou a incógnita'', que Garrett escreve, sem concluir, alusivo ao capitão-general (aparecido em edição póstuma em 1985).
 
Contudo, a [[13 de Maio]] de [[1821]] chegou à Terceira a fragata ''Pérola'', comandada pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra [[Marçal Pedro de Ataíde Barahona]], e este intimou Stockler para que reconhecesse o governo liberal. Stockler insurgiu-se contra a intimação e resistiu, mas não encontrou o apoio que esperava na população, pelo que a [[15 de Maio]] de [[1821]], em cerimónia solene realizada na Câmara de Angra, são juradas em Angra as bases da futura Constituição. Stockler abdica do cargo de Governador e Capitão General mas fica, em conjunto com o bispo da diocese, D. frei [[Manuel Nicolau de Almeida]], adido ao governo.
 
Esta solução não foi aceite pelas Cortes e a [[19 de Julho]] de [[1822]], pelo brigue ''Flor do Mar'', chega ordem régia para Stockler e o bispo saírem da ilha [[Terceira]], o que estes cumprem a [[11 de Agosto]] de [[1822]].
 
À chegada a Lisboa Stockler é colocado sob prisão por ordem das Cortes, desencadeando um processo que em boa parte decorreu através da publicação de sucessivas justificações e refutamentos e de longos debates pela imprensa, escrevendo Stockler um ''Memorial dirigido ao Ill.mo sr. Luiz Manuel de Moura Cabral, desembargador da Casa da Supplicação, illustrado com algumas notas'', além de muitas obras que assinava com pseudónimos ou a que punha o nome do filho, António Nicolau de Moura Stockler, que então contava apenas 17 anos de idade.
 
Essas obras são as ''Cartas sobre os acontecimentos da ilha Terceira, por um Cidadão imparcial'', a ''Nota ao n.º 75 do Campeão Lisbonense por um Amigo do general'', as ''Observações ou notas illustrativas do folheto intitulado «Voz da Verdade provada por documentos»'', a ''Carta sobre o n.º 2 do folheto intitulado a «Voz da Verdade»'' e a ''Analyse critica ao libello famoso intitulado «Noticia resumida dos acontecimentos da ilha Terceira na installação do seu governo constitucional»'', tudo isto com o nome de seu filho.
 
Finalmente o próprio, general respondeu com o seu nome num folheto a umas ''Notas Críticas'', publicadas em 1822 pelo Dr. [[Vicente José Ferreira Cardoso da Costa]], a um ofício que ele dirigira ao [[conde dos Arcos]].
 
Todas estas questões, e o processo judicial a elas associado, terminaram com a queda do governo constitucional em 1823, em resultado da [[Vilafrancada]], ficando o comportamento de Stockler ilibado à face da lei, pois se tornava em acção meritória o que até então lhe imputavam como delito. Por sentença de [[10 de Junho]] de [[1823]], foi a conduta de Stockler julgada ''benemérita, legal e recomendável'', ficando totalmente reabilitado. O mesmo aconteceu com o bispo.
 
Sendo um dos presos políticos libertados, Stockler granjeou grande renome, pelo que de imediato foi nomeado para a comissão encarregue de elaborar uma ''Carta de Lei'' que preenchesse o vazio deixado pela revogada Constituição. Extinta esta comissão, sem qualquer lei produzida, Stockler foi de novo nomeado governador e capitão-general dos Açores, sendo também agraciado com o título de [[barão da Vila da Praia]], por decreto de [[29 de Setembro]] de [[1823]].
 
A bordo da charrua ''Princesa de Portugal'', Stockler chega a [[17 de Novembro]] de [[1823]] a Angra, reassumindo dois dias depois as suas funções. A recepção foi apoteótica, com três dias de festejos e um sem cessar de homenagens e juras de fidelidade. Seguiu-se de imediato a perseguição aos liberais e seus simpatizantes, com numerosas prisões e expulsões da ilha, criando-se um reino de terror que só tivera paralelo aquando da invasão castelhana de [[1583]].
 
Decorria este período de repressão quando a [[14 de Maio]] de [[1824]], em Lisboa se dá a reversão da situação política e o Infante D. Miguel é obrigado a partir para o estrangeiro. Mais uma vez os heróis de uma época passaram a ser os vilipendiados de outra. Conotado com o [[miguelismo]], Stockler é demitido, aparentemente por influência do [[Manuel Inácio Martins Pamplona Corte Real|conde de Subserra]], um [[Terceira|terceirense]] que entretanto ascendera a ministro de D. João VI.
 
A [[24 de Julho]] de [[1824]] chegava aos Açores o novo capitão-general [[Manuel Vieira de Albuquerque Touvar]] e poucos dias depois Stockler partia novamente para um destino incerto.
 
===Cronologia da passagem de Garção Stockler pelos Açores===
Para melhor se compreender a acção de Garção Stockler nos Açores, pode a mesma ser seguida através da seguinte cronologia, onde se intercalam os principais eventos externos com o percurso do general:
**[[25 de Setembro]] de [[1759]] – Nasce em Lisboa Francisco de Borja Garção Stockler.
**Julho de [[1820]] – Stockler é nomeado no [[Rio de Janeiro]], por D. João VI, para Governador e Capitão General dos Açores, partindo para Lisboa com o fim de se dirigir aos Açores e assumir funções.
*[[24 de Agosto]] de [[1820]] – [[Revolução do Porto]], inicia-se o movimento para a instauração de um regime liberal em Portugal.
*[[16 de Setembro]] de [[1820]] – As guarnições de Lisboa aderem ao movimento constitucional e a Regência cai, sendo substituída por uma Junta Suprema de Governo do Reino.
**Setembro de [[1820]] – Stockler apresenta-se à Junta, sendo por esta reconfirmado no cargo para o qual havia sido nomeado.
**[[18 de Outubro]] de [[1820]] – A bordo de uma galera americana chega a [[Angra do Heroísmo|Angra]] o tenente general do exército Francisco de Borja Garção Stockler, nomeado por D. João VI no cargo de 9.º Governador e Capitão General dos Açores.
**[[1 de Março]] de [[1821]] – [[Revolução Constitucional de Ponta Pelgada]]. Uma revolta instala o regime constitucional na [[ilha de São Miguel]] e proclama a independência daquela ilha do Governo de Angra.
**[[27 de Março]] de [[1821]] – Stockler publica uma proclamação ao povo de São Miguel, condenando a separação da Capitania Geral e admoestando para as consequências do juramento a uma ''Constituição inexistente''.
**[[2 de Abril]] de [[1821]] – [[Revolução Constitucional de Angra]]. Um golpe militar depõe Stockler do Governo. [[Francisco António de Araújo]], o antecessor de Stockler no cargo de Capitão General, é escolhido para liderar o movimento.
**[[3 de Abril]] de [[1821]] – Stockler refugia-se na [[Praia da Vitória|Praia]].
**[[4 de Abril]] de [[1821]] – Contra-revolta em Angra leva à morte de Francisco António de Araújo e à retoma do poder por Stockler.
**[[13 de Maio]] de [[1821]] – Chega a Angra, pela fragata ''Pérola'', a notícia de D. João VI ter aceite as bases da futura Constituição.
**[[15 de Maio]] de [[1821]] – Em cerimónia solene realizada na Câmara de Angra são juradas as bases da futura Constituição. Stockler abdica do cargo de Governador e Capitão General mas fica, em conjunto com o bispo, adido ao governo.
**[[20 de Junho]] de [[1821]] – Stockler comunica que não pretende o Governo.
*[[5 de Julho]] de [[1821]] – D. João VI chega a Lisboa, regressado do exílio no [[Rio de Janeiro]].
**[[14 de Março]] de [[1822]] – São perdoados os implicados na [[Revolução Constitucional de Angra]], ocorrida a 2 de Abril de 1821.
**[[19 de Julho]] de [[1822]] – Pelo brigue ''Flor do Mar'' chega ordem régia para Stockler sair da ilha [[Terceira]].
**[[11 de Agosto]] de [[1822]] – Stockler parte para Lisboa onde é colocado sob prisão por ordem das Cortes.
*[[23 de Setembro]] de [[1822]] – As Cortes aprovam a Constituição.
*[[1 de Outubro]] de [[1822]] – D. João VI jura a Constituição.
*[[4 de Outubro]] de [[1822]] – D. João VI manda jurar e cumprir a Constituição.
**[[29 de Setembro]] de [[1823]] – D. João VI agracia Stockler com o título de [[barão da Vila da Praia]] e renomeia-o para o cargo de capitão-general dos Açores.
**[[13 de Novembro]] de [[1821]] – Stockler escala [[Ponta Delgada]] e instala um novo governador militar na ilha de São Miguel.
**[[17 de Novembro]] de [[1823]] – Stockler chega a Angra a bordo da charrua ''Princesa de Portugal''.
**[[19 de Novembro]] de [[1823]] – Stockler desembarca, numa recepção apoteótica, e reassume as funções de capitão-general.
*[[14 de Maio]] de [[1824]] – O Infante D. Miguel parte para o exílio.
**[[24 de Julho]] de [[1824]] – [[Manuel Vieira de Albuquerque Touvar]] toma posse como 10.º Governador e Capitão General dos Açores, encerrando definitivamente o período de governação de Stockler.
*[[29 de Abril]] de [[1826]] – D. Pedro decreta a [[Carta Constitucional]].
**[[6 de Março]] de [[1829]] – Falece no Algarve o tenente-general Francisco de Borja Garção Stockler, 1.º [[barão da Vila da Praia]].
 
===A demissão da Academia e a nomeação para Governador de Armas do Algarve===
Em finais de Julho de 1824 Stockler voltou a Lisboa, despojado de responsabilidades políticas, dedicando-se novamente à matemática e ao debate político. Em 1825 ofereceu à Academia a sua obra ''Método inverso dos limites ou desenvolvimento das funções algorítmicas''. Mais uma vez o parecer académico foi desfavorável à publicação da obra. Era a terceira vez que o rejeitavam, pelo que Stockler solicitou à Academia a demissão de sócio, e imprimiu a obra por sua conta.
 
Em 1826 publicou o 2.° volume das suas obras completas, que já principiara a imprimir-se na tipografia académica, saindo o 1.º tomo em 1805, mas fora interrompida a impressão por causa da invasão francesa. Contém os elogios académicos de D. [[Tomás Caetano do Bem]] e de [[Pascoal José de Melo]], o ''Apêndice às Cartas ao autor da Historia da invasão francesa'', uma ''Carta sobre a Liberdade de Imprensa'', o ''Esboço dum plano de Código Criminal Militar'', uma larga demonstração do seu proceder de 1807 a 1812 e o ''Projecto sobre o Estabelecimento da Instrução Pública no Brasil'', para além de uma larga carta a [[Jácome Ratton]].
 
Em 1827, finalmente, quando se debatiam em Portugal as questões constitucionais, escreveu Stockler, uns ''Elementos de Direito Social ou Princípios de Direito Natural que devem servir de base à constituição das sociedades civis''.
 
Após o regresso de D. Miguel a Portugal, Stockler afirmou-se como um seu leal um partidário, pelo que este o nomeou Governador das Armas na província do Algarve. Faleceu no exercício desse cargo a [[6 de Março]] de [[1829]].
 
==Publicações==
Garção Stockler é autor de uma volumosa obra que cobre temas de matemática, área em granjeou fama que lhe permitiu ser nomeado sócio correspondente da selecta [[Royal Society]] de Londres, de história do pensamento e de política. Nesta última área desenvolveu acesas polémicas, publicando numerosos textos auto-justificativos, alguns sob pseudónimo, outros em nome de seu filho António Nicolau de Moura Stockler. Dada a conotação absolutista de Stockler, após a implantação do liberalismo a sua obra foi em larga medida vilipendiada e votada ao esquecimentos, com excepção do ''Ensaio histórico sobre a origem e progressos das matemáticas em Portugal'', entretanto recuperado e hoje bastas vezes citado. A obra, em boa parte dispersa, pese embora a edição dos dois volumes da ''Obra Completa'', merece estudo e reedição, depois de ordenada e contextualizada.
Linha 174 ⟶ 72:
**''Análise crítica ao libelo famoso intitulado «Notícia resumida dos acontecimentos da ilha Terceira na instalação do seu governo constitucional»'' (escrita em nome do filho).
 
=={{Bibliografia}}==
*Cecília Honório, "Stockler e a instrução das raparigas. Da escola para a família" in ''Revista Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher''. Lisboa, IPHI-UNL, 2001(10).
*Francisco de Ataíde Machado de Faria e Maia, ''Capitães-Generais (1766-1831)'', Instituto Cultural de Ponta Delgada, Ponta Delgada, 1943 (reeditado em 1988).
*Luís M. Ribeiro Saraiva, ''Garção Stockler and the first history of mathematics in Portugal'', Archives Internationales d'Histoire des Sciences, 42 (1992) 76-86.
*Luís Manuel Ribeiro Saraiva, ''On the First History of Portuguese Mathematics'', Historia Mathematica, 20 (1993) 415-427.
*Ricardo Manuel Madruga da Costa, ''Os Açores em finais do regime de Capitania Geral (1800-1820)'', 2 volumes, Núcleo Cultural da Horta, Horta, 2005.
 
==Ligações externas==
*[http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p49.html Francisco Garção Stockler (1759-1829), Fernando Reis]
 
=={{Ver também}}==
*[[Anexo:Lista de governantes dos Açores#Capitães-Generais|Lista de Capitães-Generais dos Açores]]
 
{{biografias}}