João e Maria: diferenças entre revisões

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Linha 14:
Elas não encontrarão o caminho de casa novamente e nós ficaremos livres delas.''<br>— ''Não, esposa'', disse o homem, — ''Não farei isto; como poderia suportar deixar meus filhos sozinhos na floresta?... os animais selvagens viriam logo e as reduziriam a pedaços.''<br>— ''Oh, seu tolo!'' ela disse, — ''Então nós quatro iremos morrer de fome, podes então ires preparando as tábuas para os nossos caixões,'' e ela não o deixou em paz até que ele concordou.<br>— ''Mas vou sentir muita falta das nossas pobres crianças, de todas elas por igual,'' disse o homem.<br>
As duas crianças não tinham ainda conseguido dormir por causa da fome, e tinham ouvido o que sua madrasta tinha falado para o seu pai. Maria chorou lágrimas amargas e disse ao João, — ''Agora está tudo acabado para nós.''<br>— ''Fique quieta, Maria,'' disse João, — ''não se preocupe, logo encontraremos uma maneira de sair dessa situação.'' E quando os pais adormeceram, ele se levantou, pegou seu casaquinho, abriu a porta por baixo e saiu bem devagarzinho. <br>
A lua estava brilhante, e as pedrinhas brancas que havia na entrada da casa brilhavam como pequenas moedas de prata. João parou e colocou tantas quanto podia no pequeno bolso do seu casaco. Então ele voltou para dentro e disse a Maria,--<br>— ''Fique tranquila, queria irmãzinha, e durma em paz, Deus não nos abandonará,'' e deitou em sua cama novamente e dormiu. Quando o dia amanheceu, porém, antes do sol nascer, a mulher veio e acordou as duas crianças, dizendo--<br>— ''Levantem, seus preguiçosos! nós iremos a floresta catar madeira.'' <br>
Ela deu a cada um deles um pedaço de pão e disse,--<br>— ''Aqui está alguma coisa para que vocês comam no jantar, mas não comam antes, ou não receberão mais nada.'' Maria colocou o pão sob o avental, assim como João havia feito com as pedrinhas no bolso. Então eles sairam todos juntos pelo caminho da floresta. Quando haviam andado depois de um curto espaço de tempo, João parava e olhava a casa que ficava para trás, e fez isso diversas vezes. <br>
Seu pai disse,--<br>— ''João, o que você está olhando e porque está se atrasando? Preste atenção no que estás fazendo e não te esqueças de como usar as pernas.''--<br>— ''Ah, pai,'' disse João,--<br>— ''Estou olhando o meu pequeno gato branco, o qual está sentado no telhado e está a se despedir de mim.'' A esposa disse,--<br>— ''Tolo, aquele não é o teu gato, é o sol da manhã que está brilhando na chaminé.'' João, entretanto, não estava olhando para o gato, mas ficava constantemente atirando pelo caminho as pedrinhas brancas que estavam em seu bolso.<br>
Quando chegaram no meio da floresta, o pai disse,--<br>— ''Agora, crianças, empilhem alguma madeira enquanto irei acender o fogo para que vocês não sintam frio.'' João e Maria juntos colheram alguns galhos até ficarem do tamanho de um pequeno monte. Os galhos foram queimados, e quando as chamas estavam brilhando bem alto, a mulher disse,--<br>— ''Agora, crianças, deitem-se perto do fogo e descansem, nós iremos à floresta cortar um pouco de madeira. Quando tivermos acabado, voltaremos para buscá-los.<br>
João e Maria sentaram perto do fogo e quando a noite chegou, cada um deles comeu o pedacinho de pão e como ouviam o barulho do machado de madeira, achavam que o pai deles estava por perto. Não estava, entretanto, o machado era um galho que ele tinha prendido a uma árvore seca e que o vento balançava para frente e para trás. E como eles ficaram sentados durante muito tempo, seus olhos fecharam de cansaço e dormiram rapidamente. Quando finalmente acordaram, já era madrugada. Maria começou a chorar e disse,<br>— ''Como nós vamos sair da floresta agora?'' Mas João a confortou e disse:--<br>— ''Espere só um pouco, até a lua nascer, e logo iremos encontrar o caminho.'' E quando a lua cheia nasceu, João pegou sua irmãzinha pela mão e seguiram as pedrinhas que brilhavam como moedas de prata novas, e mostravam a eles o caminho.<br>
Caminharam a noite toda, e ao nascer do dia chegaram mais uma vez a casa do pai deles. Eles bateram na porta e quando a mulher abriu e viu João e Maria, disse,--<br>— ''Suas crianças travessas, porque vocês dormiram tanto na floresta?... nós pensamos que vocês não voltariam nunca mais!'' O pai, entretanto, alegrou-se, porque estava de coração partido por tê-las deixado para trás sozinhas.<br>
Não muito tempo depois, houve mais uma vez uma grande escassez por toda parte, e as crianças ouviram a mãe dizer a noite para o pai,--<br>— ''Tudo foi comido de novo, não temos sequer uma metade de pão sobrando, e depois disto será o fim. As crianças devem ir, nós as levaremos mais para dentro da floresta, então elas não irão encontrar o caminho de volta novamente; não existe outro meio de nos salvarmos!'' O coração do homem estava apertado, e ele pensou que<br>— ''seria melhor se eles dividissem o último pedaço de pão com as crianças.'' <br>
A mulher, entretanto, não lhe dava atenção para o que ele dizia, mas o repreendia e o censurava. Uma pessoa que diz uma coisa na verdade está falando de outra coisa, do mesmo modo, assim como ele havia concordado da primeira vez, teve também de concordar de novo pela segunda vez.<br>
Todavia, as crianças estavam acordadas e tinham ouvido o que seus pais haviam dito. Quando os pais haviam adormecido,