Viagens de Gulliver/Parte III/IX: diferenças entre revisões

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[[File:Laputa - Grandville.jpg|thumb|600px|right|<center>'''Laputa - A Ilha Voadora.<br>ilustração de<br>Jean Ignace Isidore Gérard Grandville (1803-1847)'''</center>]]
''[O autor retorna a Maldonada. Embarca para o reino de Luggnagg. O autor é detido. É procurado pela corte. A forma como foi recebido. A grande benevolência do rei aos seus súditos.]''
 
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Alguns de nossos marinheiros, fosse por traição ou por inadvertência, haviam informado os pilotos “de que eu era estrangeiro, e navegador de renome;” tendo estes feito a comunicação para um oficial da alfândega, por quem fui vistoriado de forma muito rigorosa ao desembarcar. Este oficial falou comigo no idioma de Balnibarbi, o qual, em razão do intenso comércio, era geralmente entendido naquela cidade, especialmente por marinheiros e por aqueles que trabalhavam na alfândega.
 
Fiz a ele um breve relato de alguns detalhes, tentando tornar a minha história mais plausível e consistente possível, porém, achei necessário ocultar minha nacionalidade, e dizer que eu era um holandês; porque meus planos eram de ir ao Japão, e eu sabia que os holandeses eram os únicos europeus com permissão de acesso a aquele reino. Portanto, disse ao oficial, “que tendo naufragado na costa de Balnibarbi, e tendo sido lançado contra um recife, fui recebido em Laputa, ou ilha voadora (da qual muitas vezes ele havia ouvido falar), e estava agora tentando chegar ao Japão, onde achava que seria conveniente retornar ao meu país.
 
“DisseDisse o oficial, que “eu precisava ser detido até que ele pudesse receber ordens da corte, a quem ele escreveria uma carta imediatamente, e esperava receber a resposta em quinze dias.” Fui levado a um confortável alojamento e um sentinela ficou postado à minha porta, todavia, podia passear por um grande jardim, e fui tratado com relativa humanidade, tendo permanecido às custas do rei durante todo aquele período. Fui convidado por várias pessoas, levadas principalmente por causa da curiosidade, porque tinham dito que eu havia chegado de países muito distantes, dos quais nunca tinham ouvido falar.
[[File:Laputa map.gif|thumb|600px|right|<center>'''Laputa – Mapa da Ilha<br>ilustração de Herman Moll (1654 –1732)'''</center>]]
Contratei um jovem, que havia chegado no mesmo navio, para me servir de intérprete; era natural de Luggnagg, mas durante alguns anos havia vivido em Maldonada, e era um mestre perfeito em ambos os idiomas. Com a ajuda dele, foi possível manter conversação com aqueles que vieram me visitar, ainda que nosso encontro fosse constituído apenas porde perguntas e respostas.
 
O despacho chegou da corte por volta do período que esperávamos. Ele continha uma autorização legal para que me conduzissem bem como à minha comitiva até TRALDRAGDUBH, ou TRILDROGDRIB (porque essa palavra era pronunciadaescrita dessas duas maneiras pelo que eu me lembro), escoltado por um pequeno destacamento com dez homens. Toda a minha comitiva era apenas aquele pobre rapaz que me servia de intérprete, a quem convenci prestar-me alguns serviços, e atendendo aos meus pedidos, fomos brindados porcom uma mula para cada um de nós.
Contratei um jovem, que havia chegado no mesmo navio, para me servir de intérprete; era natural de Luggnagg, mas durante alguns anos havia vivido em Maldonada, e era um mestre perfeito em ambos os idiomas. Com a ajuda dele, foi possível manter conversação com aqueles que vieram me visitar, ainda que nosso encontro fosse constituído apenas por perguntas e respostas.
 
Um mensageiro foi despachado com meio dia de jornada a nossa frente, para dar ao rei a notícia de nossa chegada, e para solicitar “que a sua majestade tivessese dignasse a honra de indicar um dia e hora, quando o prazer da sua graça permitiria, que eu pudesse ter a honra de lamber a poeira diante de seu trono.”
O despacho chegou da corte por volta do período que esperávamos. Ele continha uma autorização legal para que me conduzissem bem como à minha comitiva até TRALDRAGDUBH, ou TRILDROGDRIB (porque essa palavra era pronunciada dessas duas maneiras pelo que eu me lembro), escoltado por um pequeno destacamento com dez homens. Toda a minha comitiva era apenas aquele pobre rapaz que me servia de intérprete, a quem convenci prestar-me alguns serviços, e atendendo aos meus pedidos, fomos brindados por uma mula para cada um de nós.
 
Um mensageiro foi despachado com meio dia de jornada a nossa frente, para dar ao rei a notícia de nossa chegada, e para solicitar “que a sua majestade tivesse a honra de indicar um dia e hora, quando o prazer da sua graça permitiria, que eu pudesse ter a honra de lamber a poeira diante de seu trono.”
 
Este era o estilo usado na corte, e descobri que isso era muito mais do que uma questão de formalidade: pois, quando fui recebido, dois dias depois de minha chegada, me ordenaram para que me arrastasse de barriga, e lambesse o chão a medida que avançava, porém, por conta de ser estrangeiro, tiveram o cuidado de limpá-lo, para que a poeira não tivesse gosto desagradável.
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Contudo, esse era um privilégio especial, somente permitido a pessoas do mais alto nível, quando era solicitada uma audiência. Ao contrário, algumas vezes o assoalho era propositalmente espargido com poeira, quando a pessoa em audiência fosse por acaso uns inimigos poderosos da corte; e certa vez vi um grande senhor com a boca tão suja, que depois de rastejar até uma certa distância do trono, ele não conseguia dizer nem uma palavra.
 
E não havia o que fazer, porque éera considerado crime capital, para aqueles que são recebidos em audiência, cuspir ou limpar suas bocas na presença de sua majestade. Há ainda um outro costume, que de modo algum eu posso aprovar: quando o rei temtinha a ideia de mandar matar um de seus nobres de forma branda e tolerante, ele ordenaordenava para que o chão sejafosse atapetado por um pó marrom de uma composição letal, que ao ser lambida, matamatava a vítima impreterivelmente dentro de vinte e quatro horas.
 
Porém, como prova da grande generosidade deste príncipe, e do cuidado que ele temtinha pelas vidas dos seus súditos (onde seria de desejar que os monarcas da Europa pudessem imitá-lo), e que deve ser dito em nome de sua honra, que ordens severas eram dadas para que fossem bem lavadas as partes infectadas do chão depois de toda execução dessa categoria, e caso seus criados não tomassem o devido cuidado, ele corriam o risco de cair no desagrado real.
 
Eu mesmo presenciei quando ele dava orientações, para que um de seus escudeiros fosse açoitado, cuja função era avisar sobre a limpeza do chão após uma execução, fosse açoitado, mas deixou de fazê-lo por maldade, cuja negligência concorreu para que um jovem senhor, em quem o rei depositava grandes esperanças, sofresse um envenenamento acidental, embora o rei não tivesse nenhum plano de tirar-lhe a vida naquele momento. Mas este bom príncipe era tão generoso, a ponto de perdoar o pobre escudeiro de ser açoitado, desde que jurasse não cometer mais atos assim, sem ordens especiais.
 
Deixando de lado esta digressão, depois de ter rastejado quatro metros de distância do trono, eu me levantei vagarosamente de joelhos, e então, batendo sete vezes a cabeça contra o chão, pronunciei as seguintes palavras, que me haviam ensinado na noite anterior: INCKPLING GLOFFTHROBB SQUUT SERUMMBLHIOP MLASHNALT ZWIN TNODBALKUFFH SLHIOPHAD GURDLUBH ASHT.
 
Este era o cumprimento, estabelecido conforme as leis do país, para todas as pessoas recebidas em audiência na presença do rei. Isso pode ser traduzido como: “Que a vossa majestade imperial possa sobreviver ao sol, por um período de onze luas e meia!” Nesse instante, o rei dava alguma resposta, que, embora eu não pudesse entender, eu respondia como havia sido orientado: FLUFT DRIN YALERICK DWULDOM PRASTRAD MIRPUSH, que queria dizer:
 
“A minha língua está na boca do meu amigo;” e esta expressão queria dizer, que eu pedia permissão para trazer o meu intérprete, tendo sido introduzido o jovem mencionado anteriormente, através de cuja mediação respondi a todas as perguntas que sua majestade conseguiu fazer em pouco mais de uma hora. Eu falava no idioma de Balnibarbi, e o meu intérprete traduzia para o idioma que era falado em Luggnagg.
 
O rei ficou muito satisfeito com a minha companhia, e ordenou que o seu BLIFFMARKLUB, ou camareiro-mor, para que preparasse as acomodações na corte para mim e para o meu intérprete, com uma recomendaçã orecomendação diária para a minha mesa, e uma generosa bolsa de ouro para minhas despesas comuns.
 
Fiquei três meses nesse país, em completa obediência a sua majestade, que tinha a maior satisfação em me favorecer, tendo me feito propostas bastante vantajosas. Porém, achei mais coerente e mais justo permanecer o restante dos meus dias com a minha esposa e a minha família.