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"Não preciso dizer a vós o grande sofrimento que foi para uma jovem princesa e sua mãe se tornarem escrava e serem levadas para o Marrocos. Podem facilmente imaginar tudo o que se pode sofre a bordo de um navio pirata. Minha mãe ainda era muito bonita, nossas damas de honra e até as nossas serviçais tinham mais encantos do que se encontram em toda a África. Quanto a mim, estava deslumbrante, belíssima, a graça em pessoa, e eu era virgem! O que não permaneci assim por muito tempo! Esta flor, que tinha sido reservada para o belo Príncipe de Massa-Carara, foi arrancada pelo capitão corsário. Um negro abominável que ainda acreditava ter me feito grande honra. Certamente a princesa de Palestrina e eu devíamos ter sido muito forte para passar por tudo o que vivemos até nossa chegada em Marrocos! Mas deixemos isso, estas são coisas tão comuns, não dignas de nota."
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Maroc nageait dans le sang quand nous arrivâmes. Cinquante fils de l’empereur Muley Ismael[1] avaient chacun leur parti ; ce qui produisait en effet cinquante guerres civiles, de noirs contre noirs, de noirs contre basanés, de basanés contre basanés, de mulâtres contre mulâtres : c’était un carnage continuel dans toute l’étendue de l’empire.
[1] Sur Muley Ismael, qui régnait en 1702, et vécut cent cinq
ans, voyez tome XVI, page 197 ; tome XVIII, page 420 ; tome XX,
le chapitre XVIII du _Siècle de Louis XIV_ ; tome XXX, page 126.
B.
 
"Marrocos estava mergulhada sangue quando chegamos. Cada um dos cinqüenta filhos do imperador [[w:Moulay Ismail|Moulay Ismail]]<ref>''Moulay Ismail'' foi um imperador de Marrocos de 1672 a 1727, notório por sua tirania e crueldade.</ref> tinha um partido e incitaram 50 guerras civis de negros contra negros, negros mais escuros, morenos contras de morenos, mulatos contra mulatos: uma carnificina constante em toda a extensão do Império Romano."
A peine fûmes-nous débarquées, que des noirs d’une faction ennemie de celle de mon corsaire se présentèrent pour lui enlever son butin. Nous étions, après les diamants et l’or, ce qu’il avait de plus précieux. Je fus témoin d’un combat tel que vous n’en voyez jamais dans vos climats d’Europe. Les peuples septentrionaux n’ont pas le sang assez ardent ; ils n’ont pas la rage des femmes au point où elle est commune en Afrique. Il semble que vos Européens aient du lait dans les veines ; c’est du vitriol, c’est du feu qui coule dans celles des habitants du mont Atlas et des pays voisins. On combattit avec la fureur des lions, des tigres, et des serpents de la contrée, pour savoir qui nous aurait. Un Maure saisit ma mère par le bras droit, le lieutenant de mon capitaine la retint par le bras gauche ; un soldat maure la prit par une jambe, un de nos pirates la tenait par l’autre. Nos filles se trouvèrent presque toutes en un moment tirées ainsi à quatre soldats. Mon capitaine me tenait cachée derrière lui ; il avait le cimeterre au poing, et tuait tout ce qui s’opposait à sa rage. Enfin je vis toutes nos Italiennes et ma mère déchirées, coupées, massacrées par les monstres qui se les disputaient. Les captifs, mes compagnons, ceux qui les avaient pris, soldats, matelots, noirs, basanés, blancs, mulâtres, et enfin mon capitaine, tout fut tué, et je demeurai mourante sur un tas de morts. Des scènes pareilles se passaient, comme on sait, dans l’étendue de plus de trois cents lieues, sans qu’on manquât aux cinq prières par jour ordonnées par Mahomet.
 
Je me débarrassai avec beaucoup de peine de la foule de tant de cadavres sanglants entassés, et je me traînai sous un grand oranger au bord d’un ruisseau voisin ; j’y tombai d’effroi, de lassitude, d’horreur, de désespoir, et de faim. Bientôt après mes sens accablés se livrèrent à un sommeil qui tenait plus de l’évanouissement que du repos. J’étais dans cet état de faiblesse et d’insensibilité, entre la mort et la vie, quand je me sentis pressée de quelque chose qui s’agitait sur mon corps ; j’ouvris les yeux, je vis un homme blanc et de bonne mine qui soupirait, et qui disait entre ses dents : O che sciagura d’essere senza coglioni !
"Mal atracamos, uma facção de negros inimiga de meu capitão atacou para roubar seu espólio. Depois de diamantes e ouro, nós éramos o que havia de mais precioso. Testemunhei uma luta como nunca veriam em climas europeus. As nações do norte não têm o sangue ardente nem a luxúria pelas mulheres como têm o povo da África. Parece que os europeus têm leite nas veias, é vitríolo, enquanto nos habitantes do monte Atlas e de países vizinhos, é fogo o que flui. Lutaram com a fúria dos leões, tigres e cobras do país, para saber quem nós teria. Um mouro agarrou minha mãe pelo braço direito, o tenente de meu capitão a segurou pelo braço esquerdo, um soldado mouro pegou-lhe uma perna, um de nossos corsários agarrou-lhe pela outra. Todas as nossas serviçais eram igualmente disputadas entre quatro soldados. Meu capitão me manteve escondida atrás dele, empunhando a cimitarra matou todos os que se opunham a sua raiva. Finalmente vi todos as italianas e minha mãe retalhadas, abatidas por monstros que as disputavam. Os escravos, meus companheiros, tinham tomado partido, soldados, marinheiros, pretos, brancos, mulatos e, finalmente, meu capitão, todos foram mortos, fiquei desmaiada sobre uma pilha de corpos. Cenas semelhantes estavam acotecendo em uma faixa de mais de 300 léguas, sem perder sequer uma das cinco orações por dia exigidas por Maomé."
 
"Com dificuldade, arrastei-me para fora da pilha de corpos até o pé de uma grande laranjeira, em um banco próximo a um riacho, onde cai de novo, cai de susto, fadiga, horror, desespero e de fome. Logo depois, meus sentidos sobrecarregados se entregaram a um sono que era mais do que desmaio. Estava em tal estado de fraqueza e insensibilidade, entre a vida e a morte, quando senti algo pressionado meu corpo, abri os olhos, vi um homem branco de aparência gentil que suspirou e disse entre dentes: ''O che sciagura d'essere senza coglioni!''<ref>Lit. ''Oh É uma pena que me falte as bolas''</ref>"
<references/>
[[Categoria:Cândido]]